domingo, 6 de julho de 2014

Sarkozy abatido. Neoliberais choram!

Ilustração: Dragan
Por Altamiro Borges

Durante muito tempo, a mídia colonizada tratou o ex-presidente Nicolas Sarkozy como um líder dinâmico e inovador, capaz de salvar a França da prolongada crise econômica que atinge o velho continente europeu. Mesmo seus rompantes racistas, de ódio aos imigrantes, eram relativizados por “calunistas” da imprensa nativa. Líderes da oposição demotucana também bajulavam o mandatário francês. Nesta semana, porém, mais um herói da direita foi abatido. A Justiça da França decretou a prisão de Nicolas Sarkozy, acusado de corrupção e tráfico de influência. O eleitorado francês já havia despachado o líder neoliberal no último pleito presidencial; agora, ele até passou algumas horas detido!

O ex-presidente não foi condenado por ter destruído a economia do país, jogando milhões de franceses no desemprego e na miséria. Sua prisão decorreu de conversas grampeadas entre ele e seu ex-conselheiro, Patrick Buisson. Reveladas no início deste ano pela revista eletrônica Atlântico, elas comprovaram que o neoliberal francês, que também gostava de posar de vestal da ética, fez fortunas em várias maracutaias durante sua permanência no Palácio do Eliseu. Seis investigações foram abertas pela Justiça para apurar as irregularidades. Na mais importante delas, Nicolas Sarkozy foi indiciado por corrupção ativa, tráfico de influência e violação de segredos de Justiça e resultou na ordem de sua prisão preventiva.

Em outros processos, ele é acusado de formação de quadrilha e montagem de Caixa-2. As investigações procuram esclarecer se Sarkozy recebeu financiamento ilegal para sua campanha presidencial de 2007 por parte da multimilionária Liliane Bettencourt, herdeira do grupo de cosméticos L'Oréal, e do presidente líbio deposto Muammar Khadafi. Além disso, os investigadores apuram se ele foi informado ilicitamente de que a Justiça havia autorizado, em setembro do ano passado, a escuta de suas conversas telefônicas para investigar as acusações de que Sarkozy estava sendo financiado pelo governo da Líbia. Segundo as investigações, Khadafi destinou 50 milhões de euros para a campanha de Sarkozy.

O direitista francês já foi liberado da “prisão preventiva” e até obteve, na sexta-feira (4), uma decisão favorável da Corte de Apelações de Paris, que ordenou a retirada da internet das gravações das suas conversas com Patrick Buisson. Provocador, ele também anunciou que será candidato novamente a presidente e que já conta com o apoio do seu partido de direita (UMP), que fará prévias internas no fim deste ano. Ele ainda tentou desqualificar a justiça francesa, criticando a ação sindical de alguns juízes. “É sempre a mesma coisa com Nicolas Sarkozy. Quando ele é envolvido em um caso, coloca em dúvida a imparcialidade dos juízes”, reagiu Françoise Martres, secretária-geral do Sindicato dos Magistrados.

Na atual onda de direitização da Europa não causaria surpresa uma nova vitória de Nicolas Sarkozy, em 2017. O atual governo socialdemocrata, liderado por François Hollande, não cumpriu as suas promessas de campanha, tornou-se refém da oligarquia financeira e frustrou o eleitorado. Agora, porém, a mídia colonizada não terá mais como endeusa-lo. Sarkozy é o primeiro ex-chefe de Estado da 5ª República, fundada por Charles de Gaulle em 1958, a ter sido detido provisoriamente para depor em um inquérito judicial. O seu falso discurso ético está desmoralizado e sua capacidade de evitar o desfiladeiro na França já se comprovou uma mera peça de propaganda midiática-política.

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