A imprensa brasileira é frágil: seu ponto mais vulnerável é o fascínio que muitos jornalistas sentem pelo poder, aquela sensação de potência produzida pela proximidade com o brilho dos salões oficiais. Essa fragilidade se agrava nas temporadas de reprodução dos votos, quando os detentores do poder político precisam se expor ao escrutínio público – e usam a imprensa para conduzir suas mensagens.
Em dias como o de hoje, percebe-se claramente como os estrategistas de campanha definem a pauta dos jornais. Essa é uma circunstância que pode ser observada em todos os períodos em que se renovam os principais poderes da República, mas neste ano, em especial, pode-se afirmar que as redações das empresas de comunicação dominantes foram transformadas em subsidiárias de comitês de campanha.
Há uma razão muito simples: dificilmente haverá outra oportunidade, no futuro próximo, para desalojar do poder as forças políticas que ocupam Brasília. A outra razão, mais difícil de demonstrar: em caso de reeleição da atual presidente, haverá um processo de mudança radical no quadro partidário, com a extinção de algumas legendas da atual oposição.
O Partido Democratas, que não possui nenhum representante em posição de relevância no atual embate eleitoral, já foi minado pelo surgimento de três legendas recém-criadas: o PSD, o PROS e o Solidariedade. Sem condições de oferecer uma mensagem de renovação, e manietado por uma ideologia contrária ao abraço das multidões, o DEM esvazia-se rapidamente conforme surgem para seus integrantes outras opções de aproximação com o poder.
Entre analistas da política, cresce a convicção de que o outro partido sob risco de extinção é o Partido da Social Democracia Brasileira. Essa avaliação foi feita explicitamente em público, pela primeira vez, pelo coordenador da campanha presidencial do Partido Socialista Brasileiro, o deputado federal licenciado Walter Feldman, que se elegeu pelo PSDB em 2010. Em reunião com líderes do comércio de luxo em São Paulo, ele afirmou que a sigla que tem como símbolo o tucano poderá desaparecer se perder a eleição presidencial deste ano.
A última cereja
Pode-se colocar a afirmação de Feldman na conta das espertezas que compõem todas as disputas pelo voto. No entanto, há muita verossimilhança em suas palavras. Embora, segundo a reportagem da Folha de S. Paulo, que acompanhou sua reunião com parte da elite paulistana, ele não tenha conseguido convencer seus interlocutores a apoiar Marina Silva, o recado foi dado: se a presidente Dilma Rousseff for reeleita, ou Marina Silva chegar ao Planalto, aquela fração da sociedade brasileira que se considera a última autêntica cereja ao maraschino na taça de martini ficará sem um partido para chamar de seu.
Agora, voltando ao tema proposto para esta conversa: onde é que se mostra, aqui, a citada ruptura entre imprensa e jornalismo?
Simples: neste período, engajada na tarefa de colocar no poder aqueles que considera mais palatáveis, a mídia tradicional trata como informação pura e simples o que é mera manobra de marqueteiros de campanha.
Certamente, a ideia de tentar cooptar representantes da elite econômica de São Paulo não surgiu de um devaneio do deputado Feldman: ele se moveu baseado em análises elaboradas pelos estrategistas do PSB.
A imprensa tem noticiado que a candidata Marina Silva pode ter tocado o teto do seu potencial eleitoral: o rastreamento das intenções de voto mostra a ex-ministra em curva descendente, com o candidato do PSDB encalhado nos 15% e a presidente Dilma Rousseff recuperando terreno, principalmente em São Paulo e no Rio.
A nova safra de escândalos não parece ter influenciado significativamente o eleitorado e, a três semanas do primeiro turno, a ex-ministra do Meio Ambiente precisa consolidar sua posição no campo conservador, onde os votos são menos voláteis. Portanto, faz sentido tentar convencer a parte de cima do edifício social de que o PSB é o novo PSDB.
Têm o mesmo objetivo os afagos de Marina Silva ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que, mesmo avançado nos anos, ainda não se desapegou do prazer do cafuné no ego. Mas o mais interessante é observar como a imprensa participa do jogo, ao apresentar manobras de marqueteiros e bate-bocas cuidadosamente planejados como fatos políticos relevantes.
Em dias como o de hoje, percebe-se claramente como os estrategistas de campanha definem a pauta dos jornais. Essa é uma circunstância que pode ser observada em todos os períodos em que se renovam os principais poderes da República, mas neste ano, em especial, pode-se afirmar que as redações das empresas de comunicação dominantes foram transformadas em subsidiárias de comitês de campanha.
Há uma razão muito simples: dificilmente haverá outra oportunidade, no futuro próximo, para desalojar do poder as forças políticas que ocupam Brasília. A outra razão, mais difícil de demonstrar: em caso de reeleição da atual presidente, haverá um processo de mudança radical no quadro partidário, com a extinção de algumas legendas da atual oposição.
O Partido Democratas, que não possui nenhum representante em posição de relevância no atual embate eleitoral, já foi minado pelo surgimento de três legendas recém-criadas: o PSD, o PROS e o Solidariedade. Sem condições de oferecer uma mensagem de renovação, e manietado por uma ideologia contrária ao abraço das multidões, o DEM esvazia-se rapidamente conforme surgem para seus integrantes outras opções de aproximação com o poder.
Entre analistas da política, cresce a convicção de que o outro partido sob risco de extinção é o Partido da Social Democracia Brasileira. Essa avaliação foi feita explicitamente em público, pela primeira vez, pelo coordenador da campanha presidencial do Partido Socialista Brasileiro, o deputado federal licenciado Walter Feldman, que se elegeu pelo PSDB em 2010. Em reunião com líderes do comércio de luxo em São Paulo, ele afirmou que a sigla que tem como símbolo o tucano poderá desaparecer se perder a eleição presidencial deste ano.
A última cereja
Pode-se colocar a afirmação de Feldman na conta das espertezas que compõem todas as disputas pelo voto. No entanto, há muita verossimilhança em suas palavras. Embora, segundo a reportagem da Folha de S. Paulo, que acompanhou sua reunião com parte da elite paulistana, ele não tenha conseguido convencer seus interlocutores a apoiar Marina Silva, o recado foi dado: se a presidente Dilma Rousseff for reeleita, ou Marina Silva chegar ao Planalto, aquela fração da sociedade brasileira que se considera a última autêntica cereja ao maraschino na taça de martini ficará sem um partido para chamar de seu.
Agora, voltando ao tema proposto para esta conversa: onde é que se mostra, aqui, a citada ruptura entre imprensa e jornalismo?
Simples: neste período, engajada na tarefa de colocar no poder aqueles que considera mais palatáveis, a mídia tradicional trata como informação pura e simples o que é mera manobra de marqueteiros de campanha.
Certamente, a ideia de tentar cooptar representantes da elite econômica de São Paulo não surgiu de um devaneio do deputado Feldman: ele se moveu baseado em análises elaboradas pelos estrategistas do PSB.
A imprensa tem noticiado que a candidata Marina Silva pode ter tocado o teto do seu potencial eleitoral: o rastreamento das intenções de voto mostra a ex-ministra em curva descendente, com o candidato do PSDB encalhado nos 15% e a presidente Dilma Rousseff recuperando terreno, principalmente em São Paulo e no Rio.
A nova safra de escândalos não parece ter influenciado significativamente o eleitorado e, a três semanas do primeiro turno, a ex-ministra do Meio Ambiente precisa consolidar sua posição no campo conservador, onde os votos são menos voláteis. Portanto, faz sentido tentar convencer a parte de cima do edifício social de que o PSB é o novo PSDB.
Têm o mesmo objetivo os afagos de Marina Silva ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que, mesmo avançado nos anos, ainda não se desapegou do prazer do cafuné no ego. Mas o mais interessante é observar como a imprensa participa do jogo, ao apresentar manobras de marqueteiros e bate-bocas cuidadosamente planejados como fatos políticos relevantes.
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