Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
O escândalo da Petrobras fica fora das manchetes na quarta-feira (26/11), após longa permanência como o assunto principal dos diários de circulação nacional. Passam a compor as primeiras páginas especulações em torno do futuro ministro da Fazenda, ainda não anunciado oficialmente, e os novos indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal. Como é de rotina, os jornais reduzem a visibilidade dos novos dados sobre a violência em São Paulo: o número de latrocínios – roubos seguidos de morte – aumentou 41,6% na capital paulista no mês passado.
No conjunto do noticiário nacional e internacional, incluindo as editorias de Esportes, talvez os editores tivessem apenas duas alternativas reais para a manchete: a possibilidade de mudanças na política econômica, com a indicação do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, e a comprovação de que a política econômica adotada pelos governos do PT transformou o Brasil na última década. Na confrontação das duas pautas, o leitor faria um juízo mais acurado do contexto em que vive.
Entre esses dois temas há uma clara diferença: tudo que se disser sobre planos do futuro ministro terá que ser apanhado de informações não oficiais e suposições, uma vez que Joaquim Levy não concedeu entrevista e a presidente da República não deu sinais de que pretende lhe conceder muita autonomia. Já em relação aos indicadores de desenvolvimento humano nas cidades, há uma fartura de dados liberados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Adivinhe qual dos dois assuntos ganha mais destaque?
O Estado de S. Paulo anuncia em manchete: “Levy se reúne com Dilma e prepara pacote fiscal”. Segue-se texto com uma relação de nomes que possivelmente vão compor a nova equipe econômica. O Globo vai na mesma linha, com uma manchete ainda mais inócua: “Levy deverá assumir logo para iniciar corte de gastos”. Já a Folha de S. Paulo aposta em medidas que supostamente estariam em cogitação: “Governo prepara volta de tributo de combustíveis”, diz a manchete.
O vidente cancela a profecia
Os números que mostram a melhoria da qualidade de vida nas regiões metropolitanas, onde se encontram a maiores densidades populacionais, são quase um privilégio para os leitores do Estado de S. Paulo, o único dos três diários de circulação nacional que faz uma análise abrangente dos indicadores. A reportagem mostra que, apesar de persistir nas grandes concentrações urbanas um alto índice de desigualdade social, a qualidade de vida dos moradores dessas regiões melhorou significativamente entre os anos 2000 e 2010. “O avanço foi identificado em todos os indicadores: saúde, educação e renda”, diz o jornal paulista.
A reportagem mostra que o maior salto ocorreu no Norte e no Nordeste, o que deveria incrementar a capacidade de percepção dos leitores do estado e inspirar interpretações mais elaboradas sobre a escolha eleitoral dos nortistas e nordestinos na última eleição presidencial. Entender para que serve a economia, ou como políticas sociais produzem resultados econômicos positivos e melhoram a qualidade de vida, exige mais inteligência do que ficar repetindo preconceitos regionalistas.
O Globo evita abordar o quadro geral dos indicadores, que fundamentam a validade da política econômica adotada há doze anos e prefere citar, na primeira página, que o bairro de Icaraí, em Niterói, tem o melhor índice de desenvolvimento humano do Estado do Rio, superior a Ipanema e Leblon. No jornal carioca, o destaque é para a persistência das desigualdades sociais em comunidades vizinhas de uma mesma cidade. A boa notícia fica escondida no meio da reportagem: “Houve queda na desigualdade entre 16 das principais regiões metropolitanas do Brasil no período de 2000 a 2010, assim como na distância que separa bairros ricos e pobres nessas áreas”.
A Folha de S. Paulo, como seus pares, publicou na edição digital da terça-feira (25) um relato sobre os indicadores (ver aqui), mas considerou que o assunto não era interessante para os leitores do jornal de papel. Em compensação, o jornal “informa” que o suposto vidente que havia previsto a queda de um avião da TAM na Avenida Paulista voltou atrás e declarou que a tragédia não vai acontecer, porque a empresa aérea fez uma troca de aeronaves.
Ufa! O leitor da Folha deve ter ficado aliviado.
No conjunto do noticiário nacional e internacional, incluindo as editorias de Esportes, talvez os editores tivessem apenas duas alternativas reais para a manchete: a possibilidade de mudanças na política econômica, com a indicação do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, e a comprovação de que a política econômica adotada pelos governos do PT transformou o Brasil na última década. Na confrontação das duas pautas, o leitor faria um juízo mais acurado do contexto em que vive.
Entre esses dois temas há uma clara diferença: tudo que se disser sobre planos do futuro ministro terá que ser apanhado de informações não oficiais e suposições, uma vez que Joaquim Levy não concedeu entrevista e a presidente da República não deu sinais de que pretende lhe conceder muita autonomia. Já em relação aos indicadores de desenvolvimento humano nas cidades, há uma fartura de dados liberados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Adivinhe qual dos dois assuntos ganha mais destaque?
O Estado de S. Paulo anuncia em manchete: “Levy se reúne com Dilma e prepara pacote fiscal”. Segue-se texto com uma relação de nomes que possivelmente vão compor a nova equipe econômica. O Globo vai na mesma linha, com uma manchete ainda mais inócua: “Levy deverá assumir logo para iniciar corte de gastos”. Já a Folha de S. Paulo aposta em medidas que supostamente estariam em cogitação: “Governo prepara volta de tributo de combustíveis”, diz a manchete.
O vidente cancela a profecia
Os números que mostram a melhoria da qualidade de vida nas regiões metropolitanas, onde se encontram a maiores densidades populacionais, são quase um privilégio para os leitores do Estado de S. Paulo, o único dos três diários de circulação nacional que faz uma análise abrangente dos indicadores. A reportagem mostra que, apesar de persistir nas grandes concentrações urbanas um alto índice de desigualdade social, a qualidade de vida dos moradores dessas regiões melhorou significativamente entre os anos 2000 e 2010. “O avanço foi identificado em todos os indicadores: saúde, educação e renda”, diz o jornal paulista.
A reportagem mostra que o maior salto ocorreu no Norte e no Nordeste, o que deveria incrementar a capacidade de percepção dos leitores do estado e inspirar interpretações mais elaboradas sobre a escolha eleitoral dos nortistas e nordestinos na última eleição presidencial. Entender para que serve a economia, ou como políticas sociais produzem resultados econômicos positivos e melhoram a qualidade de vida, exige mais inteligência do que ficar repetindo preconceitos regionalistas.
O Globo evita abordar o quadro geral dos indicadores, que fundamentam a validade da política econômica adotada há doze anos e prefere citar, na primeira página, que o bairro de Icaraí, em Niterói, tem o melhor índice de desenvolvimento humano do Estado do Rio, superior a Ipanema e Leblon. No jornal carioca, o destaque é para a persistência das desigualdades sociais em comunidades vizinhas de uma mesma cidade. A boa notícia fica escondida no meio da reportagem: “Houve queda na desigualdade entre 16 das principais regiões metropolitanas do Brasil no período de 2000 a 2010, assim como na distância que separa bairros ricos e pobres nessas áreas”.
A Folha de S. Paulo, como seus pares, publicou na edição digital da terça-feira (25) um relato sobre os indicadores (ver aqui), mas considerou que o assunto não era interessante para os leitores do jornal de papel. Em compensação, o jornal “informa” que o suposto vidente que havia previsto a queda de um avião da TAM na Avenida Paulista voltou atrás e declarou que a tragédia não vai acontecer, porque a empresa aérea fez uma troca de aeronaves.
Ufa! O leitor da Folha deve ter ficado aliviado.
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