Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A maioria dos analistas políticos acostumou o eleitor a enxergar todas as disputas da Câmara de Deputados como uma deprimente troca de favores por votos, um leilão descarado por verbas públicas e provas de prestígio - e mesmo coisa pior. Essa visão costuma embaçar a visão das disputas de Brasília que, muitas vezes, são aquilo que não se consegue enxergar - lutas políticas.
O malefício mais recente dessa visão é considerar que a disputa entre Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) pela presidência da Câmara, que se resolverá em de fevereiro, não passa de um confronto entre concorrentes iguais em seus defeitos e em sua falta de sintonia com as necessidades da maioria dos brasileiros.
Essa é uma visão que interessa a quem deseja a crise a qualquer custo e aposta no quanto pior melhor.
Introduzido no primeiro escalão da política brasileira pelo tristemente inesquecível tesoureiro PC Farias, Eduardo Cunha é o candidato dos falsos moralistas e reacionários, como Marco Feliciano. Também tem apoio dos partidários de um golpe militar, como Jair Bolsonaro. Político de interesses particulares e “particulares”, Eduardo Cunha representa o que de mais atrasado se pode encontrar no Congresso.
Faz a política da pré-política, do tempo medieval que insiste em sobreviver, no qual senhores feudais de paletó e gravata não separam o público do privado. Qual sua causa? Quais interesses? Não importa. Caso venha ser vitorioso, irá quebrar um recorde. Ele é a favor do quê mesmo?
Pela primeira vez, o presidente do Congresso terá interesses especiais a defender. Nem Severino Cavalcanti, flagrado quando recebia um dinheiro de um dono de restaurante no parlamento, poderia ser definido assim.
Ninguém sabe, neste momento, quem vencerá a disputa pela presidência da Câmara de Deputados, onde Eduardo Cunha (PMDB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), chegaram a um empate técnico. (Há poucas horas, uma das mais competentes raposas de Brasília estimava que Arlindo avançava com uma pequena vantagem no olho eletrônico mas vamos combinar que isso é puro palpite, longe de um levantamento real).
Há menos de um mês a vitória de Eduardo Cunha era tida como inevitável como a chegada da quarta-feira de Cinzas depois do Carnaval. Um número considerável de dirigentes do PT passou o Reveillon debatendo se era conveniente enfrentar Eduardo Cunha, em vez de aderir a sua candidatura em troca de um cargo na Mesa diretora.
O pessimismo era tanto que vozes respeitadíssimas temiam o pior. Convencidas de que Eduardo Cunha já formara um conjunto de alianças invencível, se perguntavam se não era tarde demais até para bater na porta na posição de quem vai pedir uma esmola.
O empate técnico mostra o absurdo dessa visão.
Ocorre em Brasília, neste momento, uma disputa política em torno de apostas para o futuro e remédios para o presente – e é com argumentos dessa natureza que os aliados de Arlindo Chinaglia têm conseguido reforçar sua candidatura.
Será que halterofilistas do discurso ético ficarão à vontade no interior da espessa nuvem de rumores que cerca Eduardo Cunha? Vão dar o braço nas passeatas que pedem repressão aos gays, em quem defende a restauração da ditadura?
O caráter extremista da candidatura de Cunha – alguns observadores o definem como catastrofista – parecia ser o ingrediente ideal para uma Câmara a ser empossada num ambiente em ambiente de fim do mundo. Até parecia que a situação brasileira era essa, logo após a vitória de Dilma por uma margem pequena, quando ouvia-se gritos por impeachment e golpe militar em passeatas enfeitadas por estrelas do PSDB de Aécio Neves e comentários ambíguos de Fernando Henrique Cardoso, sobre o legal e o legítimo.
O ambiente, hoje, evolui em outra direção. Dilma montou um ministério com diferenças notáveis em relação ao primeiro mandato, como indicam as medidas econômicas, que, adequadas ou não, pouco tem ver com o que se fez no governo e se disse na campanha.
Embora uma quantidade imensa de brasileiros ainda não tenha se acostumado com a desenvoltura de um Joaquim Levy num governo do PT - e é até possível que isso nunca venha a ocorrer - é difícil negar que a ideia de emparedar seu governo para forçar um ambiente de crise permanente está murchando, e essa situação que esvazia a candidatura de Eduardo Cunha.
A maioria dos analistas políticos acostumou o eleitor a enxergar todas as disputas da Câmara de Deputados como uma deprimente troca de favores por votos, um leilão descarado por verbas públicas e provas de prestígio - e mesmo coisa pior. Essa visão costuma embaçar a visão das disputas de Brasília que, muitas vezes, são aquilo que não se consegue enxergar - lutas políticas.
O malefício mais recente dessa visão é considerar que a disputa entre Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) pela presidência da Câmara, que se resolverá em de fevereiro, não passa de um confronto entre concorrentes iguais em seus defeitos e em sua falta de sintonia com as necessidades da maioria dos brasileiros.
Essa é uma visão que interessa a quem deseja a crise a qualquer custo e aposta no quanto pior melhor.
Introduzido no primeiro escalão da política brasileira pelo tristemente inesquecível tesoureiro PC Farias, Eduardo Cunha é o candidato dos falsos moralistas e reacionários, como Marco Feliciano. Também tem apoio dos partidários de um golpe militar, como Jair Bolsonaro. Político de interesses particulares e “particulares”, Eduardo Cunha representa o que de mais atrasado se pode encontrar no Congresso.
Faz a política da pré-política, do tempo medieval que insiste em sobreviver, no qual senhores feudais de paletó e gravata não separam o público do privado. Qual sua causa? Quais interesses? Não importa. Caso venha ser vitorioso, irá quebrar um recorde. Ele é a favor do quê mesmo?
Pela primeira vez, o presidente do Congresso terá interesses especiais a defender. Nem Severino Cavalcanti, flagrado quando recebia um dinheiro de um dono de restaurante no parlamento, poderia ser definido assim.
Ninguém sabe, neste momento, quem vencerá a disputa pela presidência da Câmara de Deputados, onde Eduardo Cunha (PMDB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), chegaram a um empate técnico. (Há poucas horas, uma das mais competentes raposas de Brasília estimava que Arlindo avançava com uma pequena vantagem no olho eletrônico mas vamos combinar que isso é puro palpite, longe de um levantamento real).
Há menos de um mês a vitória de Eduardo Cunha era tida como inevitável como a chegada da quarta-feira de Cinzas depois do Carnaval. Um número considerável de dirigentes do PT passou o Reveillon debatendo se era conveniente enfrentar Eduardo Cunha, em vez de aderir a sua candidatura em troca de um cargo na Mesa diretora.
O pessimismo era tanto que vozes respeitadíssimas temiam o pior. Convencidas de que Eduardo Cunha já formara um conjunto de alianças invencível, se perguntavam se não era tarde demais até para bater na porta na posição de quem vai pedir uma esmola.
O empate técnico mostra o absurdo dessa visão.
Ocorre em Brasília, neste momento, uma disputa política em torno de apostas para o futuro e remédios para o presente – e é com argumentos dessa natureza que os aliados de Arlindo Chinaglia têm conseguido reforçar sua candidatura.
Será que halterofilistas do discurso ético ficarão à vontade no interior da espessa nuvem de rumores que cerca Eduardo Cunha? Vão dar o braço nas passeatas que pedem repressão aos gays, em quem defende a restauração da ditadura?
O caráter extremista da candidatura de Cunha – alguns observadores o definem como catastrofista – parecia ser o ingrediente ideal para uma Câmara a ser empossada num ambiente em ambiente de fim do mundo. Até parecia que a situação brasileira era essa, logo após a vitória de Dilma por uma margem pequena, quando ouvia-se gritos por impeachment e golpe militar em passeatas enfeitadas por estrelas do PSDB de Aécio Neves e comentários ambíguos de Fernando Henrique Cardoso, sobre o legal e o legítimo.
O ambiente, hoje, evolui em outra direção. Dilma montou um ministério com diferenças notáveis em relação ao primeiro mandato, como indicam as medidas econômicas, que, adequadas ou não, pouco tem ver com o que se fez no governo e se disse na campanha.
Embora uma quantidade imensa de brasileiros ainda não tenha se acostumado com a desenvoltura de um Joaquim Levy num governo do PT - e é até possível que isso nunca venha a ocorrer - é difícil negar que a ideia de emparedar seu governo para forçar um ambiente de crise permanente está murchando, e essa situação que esvazia a candidatura de Eduardo Cunha.
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