Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O esforço para demonizar a decisão do Banco Central, que manteve a taxa básica de juros em 14,25% ao ano, merece algumas observações. A primeira é de natureza econômica. O custo do dinheiro continua altíssimo, no Brasil, dificultando qualquer esforço consistente para uma retomada do crescimento. Mas, ao decidir, por seis votos a 2, que os juros não iriam subir meio ponto, como muitos analistas imaginavam, o Comitê de Política Monetária assumiu uma postura responsável, evitando uma degradação ainda maior da economia do país.
Por trás da crítica furiosa à decisão do Copom encontra-se a velha visão favorável à criação de um regime de independência do Banco Central. É aquela turma que manipula conceitos como "confiança" e "credibilidade" para reivindicar medidas que sempre beneficiam seus interesses particulares e ignoram as necessidades do país.
Não custa lembrar o básico: a "independência" fazia parte do programa da candidata Marina Silva, que não teve votos, sequer, para chegar ao segundo turno da eleição presidencial do ano passado.
Por essa razão, a única atitude aceitável para quem acredita que os executivos do mercado financeiro devem ter o controle exclusivo sobre a moeda do país - esse é o significado real da palavra “independência” neste caso - seria aguardar por uma nova oportunidade. Nas urnas, em 2018.
Não custa lembrar, também, que a decisão de manter a já altíssima taxa de juros - novamente, a mais alta do mundo - no patamar anterior tem apoio de vozes insuspeitas de qualquer simpatia pelo governo Dilma, numa postura que se explica por razões técnicas.
Justificadas pela necessidade de impedir a alta da inflação, as altas recentes da taxa de juros se mostraram um fracasso comprovado. Os juros estão em alta constante desde 2013, com resultados opostos ao que, em tese, deveria ter ocorrido. Com teto de 6,5%, a inflação bateu em 10,6% no final de 2015 – o pior resultado em décadas.
Não seria preciso um argumento melhor do que esse – mas não é só. Sem crédito, o empresário não investe, o consumidor não compra, o emprego desaparece. É a roda da economia girando ao contrário.
Como se já não estivesse ruim, o ambiente internacional tem emitido sinais insistentes de que ainda pode ficar pior.
A questão real é esta. Após um 2015 especialmente ruinoso, os brasileiros têm direito a esperar sinais de melhora, mesmo relativa, em 2016. A reconstrução do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, destinado a negociar soluções na direção do crescimento, faz parte deste esforço. A definição de medidas de estímulo ao crescimento por parte dos bancos públicos também. Muito lentamente, a economia pode começar a se mexer. Neste ambiente, a elevação de juros não seria uma decisão discutível – seria um absurdo.
Não custa lembrar um episódio exemplar. Ao contrário do que a arrogância de seus porta-vozes pode sugerir pelo costume de ministrar lições de economia para uma plateia da Escolinha do professor Raimundo, a incapacidade do Banco Central Europeu enxergar a verdadeira natureza da crise de 2008/2009 explica boa parte da tragédia planetária que vivemos hoje. Convencidos de que a grande ameaça no horizonte era uma alta inflacionária, o BCE - que não presta contas a nenhum governo, mas à alta burocracia da União Europeia - apertou o custo do dinheiro em doses cavalares. O resultado foi empobrecer a região econômica mais rica do planeta, privando países emergentes de um mercado consumidor indispensável para seu crescimento. O resultado está aí, à vista de todos.
O esforço para demonizar a decisão do Banco Central, que manteve a taxa básica de juros em 14,25% ao ano, merece algumas observações. A primeira é de natureza econômica. O custo do dinheiro continua altíssimo, no Brasil, dificultando qualquer esforço consistente para uma retomada do crescimento. Mas, ao decidir, por seis votos a 2, que os juros não iriam subir meio ponto, como muitos analistas imaginavam, o Comitê de Política Monetária assumiu uma postura responsável, evitando uma degradação ainda maior da economia do país.
Por trás da crítica furiosa à decisão do Copom encontra-se a velha visão favorável à criação de um regime de independência do Banco Central. É aquela turma que manipula conceitos como "confiança" e "credibilidade" para reivindicar medidas que sempre beneficiam seus interesses particulares e ignoram as necessidades do país.
Não custa lembrar o básico: a "independência" fazia parte do programa da candidata Marina Silva, que não teve votos, sequer, para chegar ao segundo turno da eleição presidencial do ano passado.
Por essa razão, a única atitude aceitável para quem acredita que os executivos do mercado financeiro devem ter o controle exclusivo sobre a moeda do país - esse é o significado real da palavra “independência” neste caso - seria aguardar por uma nova oportunidade. Nas urnas, em 2018.
Não custa lembrar, também, que a decisão de manter a já altíssima taxa de juros - novamente, a mais alta do mundo - no patamar anterior tem apoio de vozes insuspeitas de qualquer simpatia pelo governo Dilma, numa postura que se explica por razões técnicas.
Justificadas pela necessidade de impedir a alta da inflação, as altas recentes da taxa de juros se mostraram um fracasso comprovado. Os juros estão em alta constante desde 2013, com resultados opostos ao que, em tese, deveria ter ocorrido. Com teto de 6,5%, a inflação bateu em 10,6% no final de 2015 – o pior resultado em décadas.
Não seria preciso um argumento melhor do que esse – mas não é só. Sem crédito, o empresário não investe, o consumidor não compra, o emprego desaparece. É a roda da economia girando ao contrário.
Como se já não estivesse ruim, o ambiente internacional tem emitido sinais insistentes de que ainda pode ficar pior.
A questão real é esta. Após um 2015 especialmente ruinoso, os brasileiros têm direito a esperar sinais de melhora, mesmo relativa, em 2016. A reconstrução do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, destinado a negociar soluções na direção do crescimento, faz parte deste esforço. A definição de medidas de estímulo ao crescimento por parte dos bancos públicos também. Muito lentamente, a economia pode começar a se mexer. Neste ambiente, a elevação de juros não seria uma decisão discutível – seria um absurdo.
Não custa lembrar um episódio exemplar. Ao contrário do que a arrogância de seus porta-vozes pode sugerir pelo costume de ministrar lições de economia para uma plateia da Escolinha do professor Raimundo, a incapacidade do Banco Central Europeu enxergar a verdadeira natureza da crise de 2008/2009 explica boa parte da tragédia planetária que vivemos hoje. Convencidos de que a grande ameaça no horizonte era uma alta inflacionária, o BCE - que não presta contas a nenhum governo, mas à alta burocracia da União Europeia - apertou o custo do dinheiro em doses cavalares. O resultado foi empobrecer a região econômica mais rica do planeta, privando países emergentes de um mercado consumidor indispensável para seu crescimento. O resultado está aí, à vista de todos.
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