Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
O Estado de São Paulo
Editorial
A responsabilidade de Lula
Luiz Inácio Lula da Silva chegou à conclusão de que precisa virar vítima dos malvados inimigos do povo e apelar ao que lhe resta de apoio nas ruas para evitar que a Lava Jato o ponha na cadeia. Deixou isso claro na semana passada, quando saiu direto do depoimento à Polícia Federal para a sede do PT, onde armou uma encenação: entre o heroico e o melodramático, expôs a “mágoa” que sentia, em arenga de quase uma hora na qual exortou os petistas a “levantarem a cabeça” e saírem às ruas em “defesa da democracia”.
Cumprindo essa determinação à risca, petistas irresponsáveis apressaram-se a convocar a militância para disputar espaço na Avenida Paulista com os manifestantes pró-impeachment de Dilma Rousseff que lá estarão no próximo domingo, dia 13, em mais uma manifestação de protesto contra o governo convocada há vários meses.
Tal confronto não deve e não pode ocorrer. Fez bem, portanto, o governador Geraldo Alckmin, ao anunciar que não autorizou – e, consequentemente, a polícia impedirá – que manifestantes favoráveis ao governo disputem espaço na Avenida Paulista com grupos antigovernistas. Deixou claro o governador paulista que os governistas têm todo o direito de levar suas posições às ruas no próximo domingo, desde que o façam em outros pontos da cidade que não representem ameaça à segurança pública. É uma questão de bom senso da qual só discordará quem estiver interessado em tirar proveito político da desordem.
O governo federal também se mostra preocupado diante da provocação irresponsável que seria mandar para a Avenida Paulista grupos dispostos ao confronto físico com os manifestantes contra o governo – que, de acordo com todas as previsões, ali estarão às centenas de milhares. A direção do PT, no entanto, tenta se livrar de qualquer responsabilidade alegando que os atos que estão sendo organizados por petistas para o domingo são “autônomos”, “espontâneos”, fora do controle da direção do partido. E, a julgar pelas manifestações de petistas nas redes sociais, os seguidores de Lula permanecem fiéis à ideia insensata de que não podem recusar-se ao ato heroico de combater os inimigos da democracia. Oficialmente, portanto, o PT não teria nada a ver com as manifestações pró-governo que vierem a se realizar no domingo. Apenas recomenda a seus militantes que “evitem conflitos”.
Diante desse quadro, é o caso de cobrar de Lula a responsabilidade óbvia que ele tem pelo curso desses acontecimentos e exigir dele uma manifestação pública, categórica, no sentido de evitar esse atentado à ordem pública, retirando dos baderneiros profissionais – pois a militância do PT é paga – imperdível oportunidade de voltar a agir. Agora certamente com o apoio de um punhado de inocentes úteis iludidos com a ideia de que estarão a serviço da democracia e da liberdade.
Se não se dispuser a serenar o ânimo de seus seguidores que se dispõem a ir para a rua com a faca nos dentes, o ex-presidente terá que ser responsabilizado pelas consequências do desatino de incitar a disputa de espaço com os antigovernistas na Avenida Paulista. Afinal, por que os petistas precisam se reunir exatamente na Paulista, exatamente no mesmo dia e hora em que lá estarão se manifestando centenas de milhares de antigovernistas?
Lula, porém, não parece minimamente preocupado com isso. Na verdade, parece é muito feliz com o que acredita ser o efeito positivo do teatrinho de vitimização que vem encenando desde sexta-feira. Acredita que conseguiu estimular o espírito de luta da militância petista. Do deputado Carlos Zarattini já obteve uma interessante colaboração retórica: “Durante 13 anos tivemos paz social. Se prenderem o Lula e tirarem a Dilma, quem vai garantir a paz social? Isso não é uma ameaça, é uma análise”. Se fosse ameaça, que termos usaria?
Na segunda-feira Lula foi a Brasília para manter contatos políticos em defesa própria e do governo. Mostrou a seus interlocutores a nova frase de efeito que certamente levará para os palanques: “Se me prenderem, viro herói. Se me matarem, viro mártir. Se me deixarem livre, viro presidente de novo”. Se fosse um teste de múltipla escolha, a resposta certa seria nda – nenhuma das anteriores.
Não há muito mais o que dizer. Na prática, completou-se em 10 de março de 2016 a instalação de mais uma ditadura no Brasil, a menos que o promotor midiático Cássio Conserino e aqueles outros dois (há tantos outros) seja severamente punido.
Os promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo afirmam que a prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é “imprescindível” porque ele movimentaria “toda a sua rede violenta de apoio para evitar que o processo crime que se inicia com a presente denúncia não tenha seu curso natural, com probabilidade evidente de ameaças a vitimas e testemunhas e prejuízo na produção das demais provas do caso, impedindo mesmo o acesso no ambiente forense, intimidando-as a tanto“.
Esses indivíduos são uns irresponsáveis. Querem amordaçar não apenas Lula, impedindo-o de proclamar a própria inocência publicamente, como todo aquele que manifeste sua opinião em defesa de um dos maiores líderes políticos do mundo.
A polícia política que esses senhores encarnam cita uma “rede violenta”. Estará se referindo aos energúmenos que agridem pessoas nas ruas por usarem peças de roupa na cor vermelha? Será essa [aqui] a “rede violenta” a que esses serviçais da direita se referem?
E as bombas atiradas no Instituto Lula e em três diretórios do PT, foram obras da “rede violenta” de Lula?
Esses senhores que pediram a prisão de Lula por ter se proclamado inocente publicamente agem como militantes, mas não só. Encarnam os que, há meio século, justificaram o golpe militar criminalizando a reação popular ao arbítrio. A desculpa da ditadura para suas atrocidades era a de combater aqueles que não aceitavam que fosse solapado o Estado de Direito.
Até a proposta de impor parlamentarismo ao país para tirar o poder do governo eleito já está acontecendo, assim como nos “idos de 64″, ou seja, no período que antecedeu o golpe militar.
Como durante a ditadura, querem prender jornalistas e líderes políticos que digam opiniões e fatos que a direita midiática não quer ouvir. E, para isso, contam com esbirros dos órgãos de controle da República, transmudados em leões-de-chácara de uma direita hidrófoba, ignorante e violenta que o Brasil conhece muito bem.
Mas o mais interessante em tudo isso é que esses promotores midiáticos foram precedidos por editorial do Estadão que praticamente determinou que Lula fosse preso por ter ousado se defender publicamente.
Sim, o Estadão, empresa que cedeu suas dependências para os conspiradores que deram o golpe militar de 1964.
Sim, o Estadão, que junto de O Globo e da Folha de São Paulo pediu a ditadura militar e a apoiou por ela ter doado a esses barões da mídia dinheiro público suficiente para que suas empresas crescessem ao tamanho que têm hoje.
Confira, abaixo, esse texto infame da família Mesquita, que prega a volta da ditadura via criminalização da liberdade de expressão e do direito de manifestação e reunião.
*****
Os promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo afirmam que a prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é “imprescindível” porque ele movimentaria “toda a sua rede violenta de apoio para evitar que o processo crime que se inicia com a presente denúncia não tenha seu curso natural, com probabilidade evidente de ameaças a vitimas e testemunhas e prejuízo na produção das demais provas do caso, impedindo mesmo o acesso no ambiente forense, intimidando-as a tanto“.
Esses indivíduos são uns irresponsáveis. Querem amordaçar não apenas Lula, impedindo-o de proclamar a própria inocência publicamente, como todo aquele que manifeste sua opinião em defesa de um dos maiores líderes políticos do mundo.
A polícia política que esses senhores encarnam cita uma “rede violenta”. Estará se referindo aos energúmenos que agridem pessoas nas ruas por usarem peças de roupa na cor vermelha? Será essa [aqui] a “rede violenta” a que esses serviçais da direita se referem?
E as bombas atiradas no Instituto Lula e em três diretórios do PT, foram obras da “rede violenta” de Lula?
Esses senhores que pediram a prisão de Lula por ter se proclamado inocente publicamente agem como militantes, mas não só. Encarnam os que, há meio século, justificaram o golpe militar criminalizando a reação popular ao arbítrio. A desculpa da ditadura para suas atrocidades era a de combater aqueles que não aceitavam que fosse solapado o Estado de Direito.
Até a proposta de impor parlamentarismo ao país para tirar o poder do governo eleito já está acontecendo, assim como nos “idos de 64″, ou seja, no período que antecedeu o golpe militar.
Como durante a ditadura, querem prender jornalistas e líderes políticos que digam opiniões e fatos que a direita midiática não quer ouvir. E, para isso, contam com esbirros dos órgãos de controle da República, transmudados em leões-de-chácara de uma direita hidrófoba, ignorante e violenta que o Brasil conhece muito bem.
Mas o mais interessante em tudo isso é que esses promotores midiáticos foram precedidos por editorial do Estadão que praticamente determinou que Lula fosse preso por ter ousado se defender publicamente.
Sim, o Estadão, empresa que cedeu suas dependências para os conspiradores que deram o golpe militar de 1964.
Sim, o Estadão, que junto de O Globo e da Folha de São Paulo pediu a ditadura militar e a apoiou por ela ter doado a esses barões da mídia dinheiro público suficiente para que suas empresas crescessem ao tamanho que têm hoje.
Confira, abaixo, esse texto infame da família Mesquita, que prega a volta da ditadura via criminalização da liberdade de expressão e do direito de manifestação e reunião.
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O Estado de São Paulo
Editorial
A responsabilidade de Lula
Luiz Inácio Lula da Silva chegou à conclusão de que precisa virar vítima dos malvados inimigos do povo e apelar ao que lhe resta de apoio nas ruas para evitar que a Lava Jato o ponha na cadeia. Deixou isso claro na semana passada, quando saiu direto do depoimento à Polícia Federal para a sede do PT, onde armou uma encenação: entre o heroico e o melodramático, expôs a “mágoa” que sentia, em arenga de quase uma hora na qual exortou os petistas a “levantarem a cabeça” e saírem às ruas em “defesa da democracia”.
Cumprindo essa determinação à risca, petistas irresponsáveis apressaram-se a convocar a militância para disputar espaço na Avenida Paulista com os manifestantes pró-impeachment de Dilma Rousseff que lá estarão no próximo domingo, dia 13, em mais uma manifestação de protesto contra o governo convocada há vários meses.
Tal confronto não deve e não pode ocorrer. Fez bem, portanto, o governador Geraldo Alckmin, ao anunciar que não autorizou – e, consequentemente, a polícia impedirá – que manifestantes favoráveis ao governo disputem espaço na Avenida Paulista com grupos antigovernistas. Deixou claro o governador paulista que os governistas têm todo o direito de levar suas posições às ruas no próximo domingo, desde que o façam em outros pontos da cidade que não representem ameaça à segurança pública. É uma questão de bom senso da qual só discordará quem estiver interessado em tirar proveito político da desordem.
O governo federal também se mostra preocupado diante da provocação irresponsável que seria mandar para a Avenida Paulista grupos dispostos ao confronto físico com os manifestantes contra o governo – que, de acordo com todas as previsões, ali estarão às centenas de milhares. A direção do PT, no entanto, tenta se livrar de qualquer responsabilidade alegando que os atos que estão sendo organizados por petistas para o domingo são “autônomos”, “espontâneos”, fora do controle da direção do partido. E, a julgar pelas manifestações de petistas nas redes sociais, os seguidores de Lula permanecem fiéis à ideia insensata de que não podem recusar-se ao ato heroico de combater os inimigos da democracia. Oficialmente, portanto, o PT não teria nada a ver com as manifestações pró-governo que vierem a se realizar no domingo. Apenas recomenda a seus militantes que “evitem conflitos”.
Diante desse quadro, é o caso de cobrar de Lula a responsabilidade óbvia que ele tem pelo curso desses acontecimentos e exigir dele uma manifestação pública, categórica, no sentido de evitar esse atentado à ordem pública, retirando dos baderneiros profissionais – pois a militância do PT é paga – imperdível oportunidade de voltar a agir. Agora certamente com o apoio de um punhado de inocentes úteis iludidos com a ideia de que estarão a serviço da democracia e da liberdade.
Se não se dispuser a serenar o ânimo de seus seguidores que se dispõem a ir para a rua com a faca nos dentes, o ex-presidente terá que ser responsabilizado pelas consequências do desatino de incitar a disputa de espaço com os antigovernistas na Avenida Paulista. Afinal, por que os petistas precisam se reunir exatamente na Paulista, exatamente no mesmo dia e hora em que lá estarão se manifestando centenas de milhares de antigovernistas?
Lula, porém, não parece minimamente preocupado com isso. Na verdade, parece é muito feliz com o que acredita ser o efeito positivo do teatrinho de vitimização que vem encenando desde sexta-feira. Acredita que conseguiu estimular o espírito de luta da militância petista. Do deputado Carlos Zarattini já obteve uma interessante colaboração retórica: “Durante 13 anos tivemos paz social. Se prenderem o Lula e tirarem a Dilma, quem vai garantir a paz social? Isso não é uma ameaça, é uma análise”. Se fosse ameaça, que termos usaria?
Na segunda-feira Lula foi a Brasília para manter contatos políticos em defesa própria e do governo. Mostrou a seus interlocutores a nova frase de efeito que certamente levará para os palanques: “Se me prenderem, viro herói. Se me matarem, viro mártir. Se me deixarem livre, viro presidente de novo”. Se fosse um teste de múltipla escolha, a resposta certa seria nda – nenhuma das anteriores.
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