Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Lula volta ao governo como chefe da Casa Civil. Mas para que sua volta tire o país do atoleiro, garanta a salvação do governo Dilma e permita sua candidatura à presidência em 2018, noves fora um impedimento judicial, ele terá também de ressuscitar o lulismo, que é algo mais que o seguidismo a um líder. Entenda-se por lulismo uma forma de governar que, baseada na agregação e num pacto não escrito, garantiu ao Brasil um momento virtuoso na economia, uma inédita projeção internacional e um forte desenvolvimento social com redução da desigualdade e ampliação do mercado interno de consumo. É o lulismo como tal que pode garantir a restauração da estabilidade política e da racionalidade econômica. Quando negocia inflexões na política econômica e espaços para colaboradores no governo, Lula dá sinais de que é isso pretende.
Lula na Casa Civil será o ponto de energia num governo esmaecido e debilitado, será eminência e também oráculo. A opção final pela Casa Civil foi decorrência da amplitude do acordo de compartilhamento do poder firmado entre ele e Dilma. É na Casa Civil, pasta historicamente tida como segundo posto de poder no regime presidencialista, que ele terá ascendência sobre outros ministros e poderá influir em todas as políticas públicas do governo. Em breve estará falando de economia mas também do combate o mosquito da dengue e do Zika vírus. Na Secretaria de Governo teria status de ministro, o que até reforçaria o discurso dos adversários, de que se escorou numa pasta para fugir da Lava Jato e ser investigado pelo STF. Ali, poderia cuidar da articulação política, das relações com a sociedade civil mas não de muitos outros assuntos cujo encaminhamento hoje contribuem para a má avaliação do governo.
A prioridade primeira, neste momento, será naturalmente na seara política, onde a oposição marcha para deflagrar o processo de impeachment, a partir da decisão que o STF tomará hoje sobre o rito. Lula vai perseguir a restauração da aliança com o PMDB, ou com uma parte dele, e até parece já ter começado a conseguir isso, pois foi anunciada hoje a posse do deputado Mauro Lopes para a Secretaria de Aviação Civil, que havia sido suspensa pela decisão da convenção do partido no sábado, de vetar novas nomeações no governo nos próximos 30 dias, ao fim dos quais haverá a decisão sobre romper ou continuar no governo. Buscará uma repactuação com os partidos menores, quase todos na mira da Lava Jato, e a volta do sentido de coalizão.
Lula volta ao governo como chefe da Casa Civil. Mas para que sua volta tire o país do atoleiro, garanta a salvação do governo Dilma e permita sua candidatura à presidência em 2018, noves fora um impedimento judicial, ele terá também de ressuscitar o lulismo, que é algo mais que o seguidismo a um líder. Entenda-se por lulismo uma forma de governar que, baseada na agregação e num pacto não escrito, garantiu ao Brasil um momento virtuoso na economia, uma inédita projeção internacional e um forte desenvolvimento social com redução da desigualdade e ampliação do mercado interno de consumo. É o lulismo como tal que pode garantir a restauração da estabilidade política e da racionalidade econômica. Quando negocia inflexões na política econômica e espaços para colaboradores no governo, Lula dá sinais de que é isso pretende.
Lula na Casa Civil será o ponto de energia num governo esmaecido e debilitado, será eminência e também oráculo. A opção final pela Casa Civil foi decorrência da amplitude do acordo de compartilhamento do poder firmado entre ele e Dilma. É na Casa Civil, pasta historicamente tida como segundo posto de poder no regime presidencialista, que ele terá ascendência sobre outros ministros e poderá influir em todas as políticas públicas do governo. Em breve estará falando de economia mas também do combate o mosquito da dengue e do Zika vírus. Na Secretaria de Governo teria status de ministro, o que até reforçaria o discurso dos adversários, de que se escorou numa pasta para fugir da Lava Jato e ser investigado pelo STF. Ali, poderia cuidar da articulação política, das relações com a sociedade civil mas não de muitos outros assuntos cujo encaminhamento hoje contribuem para a má avaliação do governo.
A prioridade primeira, neste momento, será naturalmente na seara política, onde a oposição marcha para deflagrar o processo de impeachment, a partir da decisão que o STF tomará hoje sobre o rito. Lula vai perseguir a restauração da aliança com o PMDB, ou com uma parte dele, e até parece já ter começado a conseguir isso, pois foi anunciada hoje a posse do deputado Mauro Lopes para a Secretaria de Aviação Civil, que havia sido suspensa pela decisão da convenção do partido no sábado, de vetar novas nomeações no governo nos próximos 30 dias, ao fim dos quais haverá a decisão sobre romper ou continuar no governo. Buscará uma repactuação com os partidos menores, quase todos na mira da Lava Jato, e a volta do sentido de coalizão.
No lulismo, os partidos sentiam-se parte do governo, não coadjuvantes, ainda que não tivessem o poder que pensavam ter. A cada mês, Lula se reunia com os presidentes e líderes do partido no Conselho Político. Tentará agregar aliados hoje distanciados, como Ciro e Cid Gomes. Atores hoje magoados, como José Sarney, serão revalorizados. Mas não será fácil reeditar o lulismo nas condições políticas adversas de hoje, bem diferentes daquele tempo. Lula não contará, por exemplo, com um aliado na presidência da Câmara. Em seu governo passaram pelo cargo João Paulo, Arlindo Chinaglia, Michel Temer, Aldo Rebelo e Marco Maia, noves fora Severino Cavalcanti. Hoje, lá está o adversário Eduardo Cunha. Mas no Senado ele terá Renan Calheiros e os dois nunca perderam a afinidade, nem mesmo nos piores momentos da relação PMDB-Dilma. E a oposição, anêmica em seus tempos de presidente, hoje ganhou músculos e perdeu o constrangimento de tentar, a todo custo, remover o PT do governo contornando as urnas. Enfrentará um mar de críticas, será combatido sem o respeito anteriormente devido à liturgia e os adversários tentarão reduzir sua presença no governo à busca de proteção contra Sergio Moro.
Fora da política institucional, outro desafio de Lula será o de resgatar o apoio da base social que rejeitou o ajuste fiscal de Dilma-Levy, composta por movimentos sociais, sindicais e por toda as franjas da esquerda nacional, que ultrapassam o petismo. E para isso negociou os ajustes na política fiscal, notícia que mexeram com o humor da bolsa e do câmbio.
Para compreender o que ele pretende na economia vale revisitar os fundamentos econômicos do lulismo, a começar pelo fato de que o setor produtivo, para Lula, é mais relevante que o mercado financeiro. Por isso já corre também a informação de que ele terá sob sua coordenação o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “conselhão”, fórum de empresários, trabalhadores e representantes da sociedade civil que teve um protagonismo forte em seu governo e foi praticamente congelado na era Dilma. Hoje está claro que os empresários, para além da politicamente engajada Fiesp, perderam as esperanças na capacidade do governo de enfrentar a crise. Lula tentará recuperar a confiança deste setor produtivo cujo ceticismo ajuda a afundar a economia e que em seu tempo compunha as caravanas que o acompanhavam em suas viagens pelo mundo. Aliás, a volta de Celso Amorim ao Itamaraty, que também está no radar, aponta para uma ofensiva na política comercial e para o resgate da projeção que o Brasil conquistou e depois perdeu.
Já se foram 13 anos desde que Lula tomou posse pela primeira vez em janeiro de 2003, numa situação econômica também adversa, herdada do Governo FH, e que hoje os tucanos atribuem inteiramente ao risco Lula durante a campanha, embora a deterioração das contas já estivesse em curso desde o apagão elétrico de 2001, inclusive a inflação. Aos que falam que Lula vem para restaurar a gastança e relaxar o ajuste fiscal, valer recordar que ele nunca desprezou a importância do equilíbrio das contas públicas e da credibilidade do governo. Tanto é que, a partir de 2003, com Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, seu governo tratou primeiro de fazer um ajuste, sanear as contas e domar a inflação. O superávit primário fixado foi de 4,25% do PIB, o que hoje parece estratosférico. Em 2015, coerentemente, defendeu com ardor a ida de Meirelles para a Fazenda na montagem do ministério para o segundo mandato de Dilma. Não foi ouvido, ela preferiu Levy, o breve. Já se fala agora na saída de Tombini do Banco Central e até na volta de Meirelles, o que também expressaria a volta do lulismo. Meirelles cuidou da inflação, Pallocci fez o ajuste mas com diferenças que Lula vive apontando em suas críticas ao ajuste de Dilma: buscando sempre turbinar e não esfriar a economia. E sem sacrificar a base social, pelo contrário, garantindo crédito e renda para que os mais pobres pudessem consumir e fortalecer o mercado interno, com retorno positivo para o setor produtivo.
O lulismo na economia foi isso. Em 2003, Lula dizia nos discursos que Palocci estava arrumando a casa para que tivesse início o ciclo de crescimento e de distribuição de renda. Ao mesmo tempo, o governo tateava para encontrar o rumo nas políticas sociais, errou um pouco com o Fome Zero e acertou quando foi criado o ministério do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias assumiu a pasta e deu unidade a diversos programas no Bolsa Família. A renda aumentou nas camadas mais pobres e o choque de crédito completou as condições para o aumento do consumo, favorecendo o crescimento, afora as condições externas, que eram de fato muito mais benignas. A economia cresceu pouco em 2003 (1,15%), reagiu bem em 2004 (5,71%), foi ligeiramente contaminada pelo escândalo do mensalão em 2005 (3,16%) e 2006 (3,96%) e embicou num crescimento forte no segundo mandato, fechado com a taxa exuberante de 7,53% em 2010. A crise de 2008 trouxe um encolhimento passageiro em 2009, que Lula enfrentou estimulando o consumo e a confiança dos empresários. Errou ao prever uma marolinha mas acertou no modo de enfrentá-la.
Quando Levy lançou as primeiras medidas, ele discordou advertindo que elas significavam, para Dilma, “brigar com a nossa base”. O ajuste de Levy mexeu com viúvas do INSS, como seguro desemprego e até com a bolsa dos pescadores. Pouco foi pedido das empresas. Houve a redução da desoneração da folha de pagamento, e só. O tempo fechou, o impeachment entrou em cena, vieram os protestos faturados pela direita e pela oposição, e hoje a custo o PT e a esquerda conseguem responder com manifestações de apoio sempre inferiores.
Nas discussões com Dilma para assumir o cargo Lula defendeu uma inflexão, não uma mudança na política econômica. Quer a volta do crédito (o que implica em baixar juros), mais PAC, vale dizer, investimentos na construção civil e em setores que geram emprego, e manutenção dos programas sociais. Quer medidas que, sem comprometer as metas do ajuste, contribuam para o aquecimento da economia, não para o agravamento da recessão.
Outro ponto é comunicação. Lula já disse reservadamente que Dilma começou errando no tom de seu discurso de posse. E depois, na apresentação do ajuste à sociedade. “Ela tem que dizer por que está fazendo ajuste. Não pode pedir sacrifícios sem apontar um rumo, sem dizer o que todos vão ganhar com isso lá na frente”, disse muitas vezes. Fala-se que Edinho Silva pode ser substituído na Secom embora não se saiba se pelo fato de ser investigado pela Lava Jato ou porque seria tentada uma mudança forte na política de comunicação. Ainda que não, como ministro Lula para todos os assuntos Lula suprirá a deficiência, com sua linguagem que tanto o povo como os empresários compreendem.
Se Lula tiver sucesso, salvará Dilma e o governo e estará mais perto de voltar como presidente em 2018. Se mesmo com o ás de ouro Dilma perder a parada e sofrer o impeachment, ou for afastada pelo TSE, e se a economia continuar afundando, será o fim para o PT, para Lula e para a utopia de um governo com viés popular. E será trágico para os brasileiros, pois o país mergulhará numa crise sem data para acabar.
Fora da política institucional, outro desafio de Lula será o de resgatar o apoio da base social que rejeitou o ajuste fiscal de Dilma-Levy, composta por movimentos sociais, sindicais e por toda as franjas da esquerda nacional, que ultrapassam o petismo. E para isso negociou os ajustes na política fiscal, notícia que mexeram com o humor da bolsa e do câmbio.
Para compreender o que ele pretende na economia vale revisitar os fundamentos econômicos do lulismo, a começar pelo fato de que o setor produtivo, para Lula, é mais relevante que o mercado financeiro. Por isso já corre também a informação de que ele terá sob sua coordenação o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “conselhão”, fórum de empresários, trabalhadores e representantes da sociedade civil que teve um protagonismo forte em seu governo e foi praticamente congelado na era Dilma. Hoje está claro que os empresários, para além da politicamente engajada Fiesp, perderam as esperanças na capacidade do governo de enfrentar a crise. Lula tentará recuperar a confiança deste setor produtivo cujo ceticismo ajuda a afundar a economia e que em seu tempo compunha as caravanas que o acompanhavam em suas viagens pelo mundo. Aliás, a volta de Celso Amorim ao Itamaraty, que também está no radar, aponta para uma ofensiva na política comercial e para o resgate da projeção que o Brasil conquistou e depois perdeu.
Já se foram 13 anos desde que Lula tomou posse pela primeira vez em janeiro de 2003, numa situação econômica também adversa, herdada do Governo FH, e que hoje os tucanos atribuem inteiramente ao risco Lula durante a campanha, embora a deterioração das contas já estivesse em curso desde o apagão elétrico de 2001, inclusive a inflação. Aos que falam que Lula vem para restaurar a gastança e relaxar o ajuste fiscal, valer recordar que ele nunca desprezou a importância do equilíbrio das contas públicas e da credibilidade do governo. Tanto é que, a partir de 2003, com Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, seu governo tratou primeiro de fazer um ajuste, sanear as contas e domar a inflação. O superávit primário fixado foi de 4,25% do PIB, o que hoje parece estratosférico. Em 2015, coerentemente, defendeu com ardor a ida de Meirelles para a Fazenda na montagem do ministério para o segundo mandato de Dilma. Não foi ouvido, ela preferiu Levy, o breve. Já se fala agora na saída de Tombini do Banco Central e até na volta de Meirelles, o que também expressaria a volta do lulismo. Meirelles cuidou da inflação, Pallocci fez o ajuste mas com diferenças que Lula vive apontando em suas críticas ao ajuste de Dilma: buscando sempre turbinar e não esfriar a economia. E sem sacrificar a base social, pelo contrário, garantindo crédito e renda para que os mais pobres pudessem consumir e fortalecer o mercado interno, com retorno positivo para o setor produtivo.
O lulismo na economia foi isso. Em 2003, Lula dizia nos discursos que Palocci estava arrumando a casa para que tivesse início o ciclo de crescimento e de distribuição de renda. Ao mesmo tempo, o governo tateava para encontrar o rumo nas políticas sociais, errou um pouco com o Fome Zero e acertou quando foi criado o ministério do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias assumiu a pasta e deu unidade a diversos programas no Bolsa Família. A renda aumentou nas camadas mais pobres e o choque de crédito completou as condições para o aumento do consumo, favorecendo o crescimento, afora as condições externas, que eram de fato muito mais benignas. A economia cresceu pouco em 2003 (1,15%), reagiu bem em 2004 (5,71%), foi ligeiramente contaminada pelo escândalo do mensalão em 2005 (3,16%) e 2006 (3,96%) e embicou num crescimento forte no segundo mandato, fechado com a taxa exuberante de 7,53% em 2010. A crise de 2008 trouxe um encolhimento passageiro em 2009, que Lula enfrentou estimulando o consumo e a confiança dos empresários. Errou ao prever uma marolinha mas acertou no modo de enfrentá-la.
Quando Levy lançou as primeiras medidas, ele discordou advertindo que elas significavam, para Dilma, “brigar com a nossa base”. O ajuste de Levy mexeu com viúvas do INSS, como seguro desemprego e até com a bolsa dos pescadores. Pouco foi pedido das empresas. Houve a redução da desoneração da folha de pagamento, e só. O tempo fechou, o impeachment entrou em cena, vieram os protestos faturados pela direita e pela oposição, e hoje a custo o PT e a esquerda conseguem responder com manifestações de apoio sempre inferiores.
Nas discussões com Dilma para assumir o cargo Lula defendeu uma inflexão, não uma mudança na política econômica. Quer a volta do crédito (o que implica em baixar juros), mais PAC, vale dizer, investimentos na construção civil e em setores que geram emprego, e manutenção dos programas sociais. Quer medidas que, sem comprometer as metas do ajuste, contribuam para o aquecimento da economia, não para o agravamento da recessão.
Outro ponto é comunicação. Lula já disse reservadamente que Dilma começou errando no tom de seu discurso de posse. E depois, na apresentação do ajuste à sociedade. “Ela tem que dizer por que está fazendo ajuste. Não pode pedir sacrifícios sem apontar um rumo, sem dizer o que todos vão ganhar com isso lá na frente”, disse muitas vezes. Fala-se que Edinho Silva pode ser substituído na Secom embora não se saiba se pelo fato de ser investigado pela Lava Jato ou porque seria tentada uma mudança forte na política de comunicação. Ainda que não, como ministro Lula para todos os assuntos Lula suprirá a deficiência, com sua linguagem que tanto o povo como os empresários compreendem.
Se Lula tiver sucesso, salvará Dilma e o governo e estará mais perto de voltar como presidente em 2018. Se mesmo com o ás de ouro Dilma perder a parada e sofrer o impeachment, ou for afastada pelo TSE, e se a economia continuar afundando, será o fim para o PT, para Lula e para a utopia de um governo com viés popular. E será trágico para os brasileiros, pois o país mergulhará numa crise sem data para acabar.
1 comentários:
O impedimento como,sra. jornalista,se não há nenhuma base legal?!
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