Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Estava na praia, trabalhando ao celular (vantagens de ser blogueiro), quando vejo notícias sobre os "Panamá Papers", chamado de "o maior vazamento da história".
Os arquivos da Mossack Fonseca, a maior parideira de offshores do mundo, foram vazados.
Minha empolgação, porém, não durou muito.
Os vazamentos estão em mãos de um jornal alemão e do ICIJ - The International Consortium of Investigative Journalists...
O ICIJ é uma organização que, ao que tudo indica, é controlada por interesses ligados ao governo americano.
Aparentemente, o status quo global arrumou uma maneira de lidar com os vazamentos a la Wikileaks e Snowden. Agora eles mesmo o fazem, mas de maneira controlada e seletiva, cumprindo uma série de interesses geopolíticos.
Pode ser um pouco de paranoia, mas eu estou convicto que entramos em tempos de tanta guerra de informação que a paranoia se tornou uma necessidade.
Tanto é assim que, no Brasil, apenas Fernando Rodrigues, do UOL, e o Estadão, jornalão da direita golpista, além de duas figuras da Rede TV, terão acesso aos dados do vazamento.
É um escárnio: a ICIJ tinha obrigação de incluir membros da imprensa progressista em seu rol de parceiros: alguém da Carta Capital, da Caros Amigos, um blogueiro, etc.
Se puderem, mandem email para contact@icij.org, pedindo mais pluralidade entre seus parceiros no Brasil.
Não tenho ilusões: os membros brasileiros do ICIJ só irão catar dados que possam alimentar suas narrativas golpistas.
Já começaram, aliás. O foco é o mesmo: as "empresas da Lava Jato". É ridículo. É o mesmo modus operandi dos vazamentos do HSBC, também fornecidos pelo ICIJ ao UOL: focaram apenas nas "empresas da Lava Jato".
Descobriu-se que os barões da mídia tinham contas secretas na Suíça, informação divulgada, estrategicamente, no dia seguinte a uma grande manifestação antigoverno.
Divulgaram um monte de coisa e abafaram imediatamente.
As empresas da Lava Jato se tornaram, para a imprensa brasileira, as únicas contra as quais se pode publicar denúncias, pois isso ajuda a fortalecer politicamente uma operação que se tornou a ponta-de-lança do golpe.
E a Lava Jato precisa ser constantemente fortalecida. Tem de ser endeusada pela mídia, como algo acima do bem e do mal. É a única maneira de salvá-la das denúncias inúmeras que enfrenta, de abusos, irregularidades, crimes de todo o tipo.
As "empresas da Lava Jato" são as mesmas que fizeram obras para governos tucanos, e estão envolvidas em todos os grandes escândalos, pelo simples fato de que são as principais indústrias brasileiras do setor de construção civil, o único setor que sempre se mistura, por razões óbvias, por razões inclusive democráticas, eu diria, com a política, porque são os governos que as contratam.
Elas poderiam ser chamadas também de "empresas do trensalão", por exemplo.
As empresas têm nome. Não são "empresas da Lava Jato".
Qual o sentido jornalístico em ligar os documentos da Mossack Fonseca à Lava Jato, uma operação ilegal, golpista e acusada inclusive de nascer de um grampo ilegal? Nenhum.
A imprensa não poderia fazer reportagens independentes sobre os vazamentos da Mossack Fonseca?
É incrível: tudo, absolutamente tudo, é usado em prol do golpe.
Neste momento, jornalistas do UOL e do Estadão devem estar passando um pente fino nos dados, para ver se acham qualquer coisa que possam ligar ao governo.
São 20:44 e a Globo até o momento não publicou uma palavra sobre um escândalo que está na capa de todos os jornais do mundo. A Folha tem publicado sobre o caso desde as 15 horas. O silêncio da Globo explica-se pelo fato de ainda não terem encontrado algo que possa ligar o escândalo à Dilma ou Lula.
Como não encontraram nada, não publicam nada.
Internacionalmente, a coisa vai na mesma linha: o alvo principal é Putin, presidente da Rússia, um dos inimigos principais dos Estados Unidos, não mais por razões ideológicas, mas porque a Rússia se tornou o principal exportador de petróleo e gás do mundo.
Até o momento, não aparece nenhuma empresa americana ou alemã nos Papers, o que acentua a impressão de que o "maior vazamento do mundo" está vazando de maneira bastante seletiva.
Se depender dessa turma, esse vazamento será inteiramente manipulado com objetivo de beneficiar os interesses políticos das economias centrais e de seus satélites.
A esperança, portanto, é que comecem a acontecer vazamentos do vazamento, que tirem da ICIJ o monopólio dessas informações.
A notícia supostamente boa é que o ICIJ prometeu divulgar a lista completa ainda em maio deste ano, ou seja, daqui a um mês.
Prefiro permanecer cético.
O leitor deve se lembrar que uma das etapas da Lava Jato, a Triplo X, que visava pegar o "triplex"- que não é - de Lula em Guarujá, acabou por investigar a Mossack Fonseca. Quando se descobriu que algumas das offshore investigadas pela Lava Jato, em especial a própria Mossack Fonseca, tinham ligações com a Globo, Sergio Moro mandou soltar os presos - mesmo tendo sido descoberto que eles estavam destruindo provas - e a investigação foi completamente abafada. A mídia não publicou quase nada e a Lava Jato seguiu em outra direção.
O jornalista Luis Carlos Azenha, do blog Viomundo, publicou no twitter uma imagem que eu gostaria de comentar. É um dos documentos da Lava Jato que perderam o sigilo.
Na tabela em anexo, que aparentemente trata de pagamentos feitos à Mossack Fonseca por seus clientes, vemos ao final o nome da Vaincre LLC, uma offshore que tem como sócia a Agropecuária Veine.
A Veine é dona do "triplex em Paraty", aquele que a família Marinho diz que não é dela.
Mas reparem na coluna da esquerda, intitulada Clientes. Ao lado da Vaincre aparece o nome Glem Participações, que pertence ao ex-genro de João Roberto Marinho, Alexandre Chiappetta de Azevedo, ex-marido de Paula Marinho Azevedo, filha de João Roberto Marinho.
Todas essas empresas ligadas ao triplex em Parati, ao genro de João Roberto Marinho, tem conexões na Mossack Fonseca.
A eclosão do escândalo da Mossack Fonseca, caso não haja ocultação de documentos por parte dos membros brasileiros da ICIJ, e caso eles esqueçam um pouco a obsessão de endeusar a Lava Jato e se debrucem sobre os documentos como um todo (deixando de lado essa palhaçada de "empresas da Lava Jato"), pode nos ajudar a descobrir e desbaratar grandes e antigos esquemas de corrupção e sonegação.
Desde que tudo seja feito com responsabilidade, sem espetáculo, sem abuso de poder, sem uso de tortura, sem prisões desnecessárias, sem terrorismo judicial, sem o intento de destruir as empresas nacionais e, sobretudo, sem o desejo de transformar a investigação numa ação político-partidária, os vazamentos vindos do Panamá podem nos ser úteis.
Estava na praia, trabalhando ao celular (vantagens de ser blogueiro), quando vejo notícias sobre os "Panamá Papers", chamado de "o maior vazamento da história".
Os arquivos da Mossack Fonseca, a maior parideira de offshores do mundo, foram vazados.
Minha empolgação, porém, não durou muito.
Os vazamentos estão em mãos de um jornal alemão e do ICIJ - The International Consortium of Investigative Journalists...
O ICIJ é uma organização que, ao que tudo indica, é controlada por interesses ligados ao governo americano.
Aparentemente, o status quo global arrumou uma maneira de lidar com os vazamentos a la Wikileaks e Snowden. Agora eles mesmo o fazem, mas de maneira controlada e seletiva, cumprindo uma série de interesses geopolíticos.
Pode ser um pouco de paranoia, mas eu estou convicto que entramos em tempos de tanta guerra de informação que a paranoia se tornou uma necessidade.
Tanto é assim que, no Brasil, apenas Fernando Rodrigues, do UOL, e o Estadão, jornalão da direita golpista, além de duas figuras da Rede TV, terão acesso aos dados do vazamento.
É um escárnio: a ICIJ tinha obrigação de incluir membros da imprensa progressista em seu rol de parceiros: alguém da Carta Capital, da Caros Amigos, um blogueiro, etc.
Se puderem, mandem email para contact@icij.org, pedindo mais pluralidade entre seus parceiros no Brasil.
Não tenho ilusões: os membros brasileiros do ICIJ só irão catar dados que possam alimentar suas narrativas golpistas.
Já começaram, aliás. O foco é o mesmo: as "empresas da Lava Jato". É ridículo. É o mesmo modus operandi dos vazamentos do HSBC, também fornecidos pelo ICIJ ao UOL: focaram apenas nas "empresas da Lava Jato".
Descobriu-se que os barões da mídia tinham contas secretas na Suíça, informação divulgada, estrategicamente, no dia seguinte a uma grande manifestação antigoverno.
Divulgaram um monte de coisa e abafaram imediatamente.
As empresas da Lava Jato se tornaram, para a imprensa brasileira, as únicas contra as quais se pode publicar denúncias, pois isso ajuda a fortalecer politicamente uma operação que se tornou a ponta-de-lança do golpe.
E a Lava Jato precisa ser constantemente fortalecida. Tem de ser endeusada pela mídia, como algo acima do bem e do mal. É a única maneira de salvá-la das denúncias inúmeras que enfrenta, de abusos, irregularidades, crimes de todo o tipo.
As "empresas da Lava Jato" são as mesmas que fizeram obras para governos tucanos, e estão envolvidas em todos os grandes escândalos, pelo simples fato de que são as principais indústrias brasileiras do setor de construção civil, o único setor que sempre se mistura, por razões óbvias, por razões inclusive democráticas, eu diria, com a política, porque são os governos que as contratam.
Elas poderiam ser chamadas também de "empresas do trensalão", por exemplo.
As empresas têm nome. Não são "empresas da Lava Jato".
Qual o sentido jornalístico em ligar os documentos da Mossack Fonseca à Lava Jato, uma operação ilegal, golpista e acusada inclusive de nascer de um grampo ilegal? Nenhum.
A imprensa não poderia fazer reportagens independentes sobre os vazamentos da Mossack Fonseca?
É incrível: tudo, absolutamente tudo, é usado em prol do golpe.
Neste momento, jornalistas do UOL e do Estadão devem estar passando um pente fino nos dados, para ver se acham qualquer coisa que possam ligar ao governo.
São 20:44 e a Globo até o momento não publicou uma palavra sobre um escândalo que está na capa de todos os jornais do mundo. A Folha tem publicado sobre o caso desde as 15 horas. O silêncio da Globo explica-se pelo fato de ainda não terem encontrado algo que possa ligar o escândalo à Dilma ou Lula.
Como não encontraram nada, não publicam nada.
Internacionalmente, a coisa vai na mesma linha: o alvo principal é Putin, presidente da Rússia, um dos inimigos principais dos Estados Unidos, não mais por razões ideológicas, mas porque a Rússia se tornou o principal exportador de petróleo e gás do mundo.
Até o momento, não aparece nenhuma empresa americana ou alemã nos Papers, o que acentua a impressão de que o "maior vazamento do mundo" está vazando de maneira bastante seletiva.
Se depender dessa turma, esse vazamento será inteiramente manipulado com objetivo de beneficiar os interesses políticos das economias centrais e de seus satélites.
A esperança, portanto, é que comecem a acontecer vazamentos do vazamento, que tirem da ICIJ o monopólio dessas informações.
A notícia supostamente boa é que o ICIJ prometeu divulgar a lista completa ainda em maio deste ano, ou seja, daqui a um mês.
Prefiro permanecer cético.
O leitor deve se lembrar que uma das etapas da Lava Jato, a Triplo X, que visava pegar o "triplex"- que não é - de Lula em Guarujá, acabou por investigar a Mossack Fonseca. Quando se descobriu que algumas das offshore investigadas pela Lava Jato, em especial a própria Mossack Fonseca, tinham ligações com a Globo, Sergio Moro mandou soltar os presos - mesmo tendo sido descoberto que eles estavam destruindo provas - e a investigação foi completamente abafada. A mídia não publicou quase nada e a Lava Jato seguiu em outra direção.
O jornalista Luis Carlos Azenha, do blog Viomundo, publicou no twitter uma imagem que eu gostaria de comentar. É um dos documentos da Lava Jato que perderam o sigilo.
Na tabela em anexo, que aparentemente trata de pagamentos feitos à Mossack Fonseca por seus clientes, vemos ao final o nome da Vaincre LLC, uma offshore que tem como sócia a Agropecuária Veine.
A Veine é dona do "triplex em Paraty", aquele que a família Marinho diz que não é dela.
Mas reparem na coluna da esquerda, intitulada Clientes. Ao lado da Vaincre aparece o nome Glem Participações, que pertence ao ex-genro de João Roberto Marinho, Alexandre Chiappetta de Azevedo, ex-marido de Paula Marinho Azevedo, filha de João Roberto Marinho.
Todas essas empresas ligadas ao triplex em Parati, ao genro de João Roberto Marinho, tem conexões na Mossack Fonseca.
A eclosão do escândalo da Mossack Fonseca, caso não haja ocultação de documentos por parte dos membros brasileiros da ICIJ, e caso eles esqueçam um pouco a obsessão de endeusar a Lava Jato e se debrucem sobre os documentos como um todo (deixando de lado essa palhaçada de "empresas da Lava Jato"), pode nos ajudar a descobrir e desbaratar grandes e antigos esquemas de corrupção e sonegação.
Desde que tudo seja feito com responsabilidade, sem espetáculo, sem abuso de poder, sem uso de tortura, sem prisões desnecessárias, sem terrorismo judicial, sem o intento de destruir as empresas nacionais e, sobretudo, sem o desejo de transformar a investigação numa ação político-partidária, os vazamentos vindos do Panamá podem nos ser úteis.
2 comentários:
Band News, agora, 12:32: entrevista a um economista, para esclarecimentos sobre offshore: o q é, como funciona, a que é a quem serve. Quando o economista diz que um exemplo de offshore legal são as empresas de transporte marítimo, a Band perdeu o contato... E não buscou mais o economista!! Parece que descobriram o segredo é já era o suficiente!
Além do UOL, aquí, na Argentina é o Clarín, gente impoluta.
Como não se fala dos paraísos fiscais nos estados americanos, e bota paraíso nisso, pode ser uma operação para assustar a turma e forçar uma migração em massa para os mesmos (os Rotschild já migraram).
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