Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Lamentável sob qualquer ponto de vista, a mudança de cadeiras na Comissão de Ética da Câmara, que tem em mãos o destino do suíço Eduardo Cunha, é um episódio revelador sobre os verdadeiros interesses em jogo neste domingo, quando 513 deputados irão tomar a decisão política mais importante de sua geração, ao examinar um absurdo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Como se pode verificar pela simples leitura dos jornais, Cunha é o verdadeiro maestro do espetáculo. Marcou datas, definiu regras e ritos.
Não importa o número de abaixo assinados que você apoiou. Esqueça as reações indignadas do Ministério Público. Eduardo Cunha é o mal necessário para os adversários do governo derrubarem Dilma. Tudo será feito sob medida para que se torne intocável.
Para quem imagina que uma eventual derrota de Dilma representa uma derrota da corrupção e dos esquemas nefastos da política brasileira, a nova composição do Conselho não poderia ser mais didática e esclarecedora. O mesmo movimento que procura sufocar Dilma dedica-se a dar musculatura e oxigênio ao suíço Cunha, abrindo as portas para sua recuperação e sobrevivência.
A oportunidade surgiu quando, por razões que até agora não foram inteiramente esclarecidas, o deputado Fausto Pinato decidiu renunciar a sua vaga no Conselho, abrindo espaço para uma deputada do PRB da Bahia, Tia Eron, recebida em clima de festa pela bancada de Cunha.
O acordo está em gestação em Brasília. Em vez de avançar o processo na direção da cassação de seu mandato, como seria inevitável pela composição anterior do Conselho, o que se pretende é aprovar uma inofensiva moção de censura pelo crime de manter cinco contas secretas na Suíça e ter mentido ao Congresso. Um presente antecipado de Natal, num país onde cidadãos encontram-se presos há meses na carceragem de Curitiba, a grande maioria sem nenhuma prova material de enriquecimento ilícito - em qualquer caso, raros foram apanhados com provas desse teor, com tal volume de recursos. Isso não ocorre por acaso.
A impunidade de Cunha é o preço que a oposição - sem perder o nariz empinado - se dispõe a pagar pelo apoio de uma máquina que, por si só, fará diferença no plenário, depois de amanhã, cumprindo o papel decisivo no esforço para dar votos a uma tentativa de golpe de Estado e afastar uma presidente eleita, sem prova de crime de responsabilidade.
Não custa lembrar a sequencia dos fatos. Enquanto acreditou na possibilidade de um acordo com o Planalto, Cunha cultivou uma postura de coexistência pacífica em relação a proposta de afastar a presidente, recusando os pedidos impeachment.
Quando o Partido dos Trabalhadores anunciou que seus deputados na Comissão votariam por sua cassação, Cunha passou por uma transformação radical, ainda que fosse previsível. Chegou a dar conselhos aos três advogados que haviam desembarcado em Brasília com um pedido de impeachment ainda mais precário do que o relatório de Jovair Arantes. Fez um movimento claro de retaliação e vingança - exatamente como diz a defesa da presidente - depois que a chantagem não deu certo.
São mais de 100 parlamentares controlados à mão, com uma estrutura própria, movimentos e interesses exclusivos, que tentam a mais inescrupulosa barganha de nossa história republicana: a cabeça de uma presidente reconhecidamente honesta pela sobrevivência de um deputado contra o qual abundam provas criminosas e milionárias de todo tipo.
Para quem gosta de encher a boca para falar de valores éticos, acreditar na lenda de que está ocorrendo uma limpeza da política brasileira e que a honestidade pessoal deve estar acima de tudo,essa situação deveria ser chocante.
Não é. Apenas ajuda a mostrar o caráter utilitário, dirigido, do debate em curso no país de 2016.
Não é difícil adivinhar por que, apesar do tiroteio frequente e até barulhento do procurador Rodrigo Janot, Cunha permanece intocável em sua atividade. Não há motivo de espanto.
Simples: a máquina que quer a destruição de Dilma, Lula e tudo aquilo que eles representam, não pode dispensar os serviços de um aliado desse porte. O golpe precisa de Cunha, embora possa falar mal dele nos fins de semana, quando é obrigado a dar satisfação a família, em particular aos filhos, quem sabe netos.
Nenhum personagem é tão útil para se entender o espetáculo deste fim de semana, concorda?
A história humana é um cemitério de ilusões, fraudes e decepções. Um jornalista e militante de ideias refinadas, Isaac Deutscher, fala nas ironias da história, lembrando que os processos que defendem mudanças generosas, e até revolucionárias, podem transformar-se em seu oposto. Fez um grande livro a respeito, Ironias da História, cujo tema era a revolução russa de 1917.
O detalhe é que, em geral, é preciso esperar muitos anos, quem sabe décadas, para reconhecer uma farsa. Protagonista de uma tentativa de golpe no Brasil de 2016, o suíço Eduardo Cunha é a fraude em estado puro, que pode ser vista com antecedência. Já foi identificada, reconhecida. Não haverá decepção, meus caros. Como sabem aliados e adversários, Cunha cumpre o que promete. Este é seu papel.
Lamentável sob qualquer ponto de vista, a mudança de cadeiras na Comissão de Ética da Câmara, que tem em mãos o destino do suíço Eduardo Cunha, é um episódio revelador sobre os verdadeiros interesses em jogo neste domingo, quando 513 deputados irão tomar a decisão política mais importante de sua geração, ao examinar um absurdo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Como se pode verificar pela simples leitura dos jornais, Cunha é o verdadeiro maestro do espetáculo. Marcou datas, definiu regras e ritos.
Não importa o número de abaixo assinados que você apoiou. Esqueça as reações indignadas do Ministério Público. Eduardo Cunha é o mal necessário para os adversários do governo derrubarem Dilma. Tudo será feito sob medida para que se torne intocável.
Para quem imagina que uma eventual derrota de Dilma representa uma derrota da corrupção e dos esquemas nefastos da política brasileira, a nova composição do Conselho não poderia ser mais didática e esclarecedora. O mesmo movimento que procura sufocar Dilma dedica-se a dar musculatura e oxigênio ao suíço Cunha, abrindo as portas para sua recuperação e sobrevivência.
A oportunidade surgiu quando, por razões que até agora não foram inteiramente esclarecidas, o deputado Fausto Pinato decidiu renunciar a sua vaga no Conselho, abrindo espaço para uma deputada do PRB da Bahia, Tia Eron, recebida em clima de festa pela bancada de Cunha.
O acordo está em gestação em Brasília. Em vez de avançar o processo na direção da cassação de seu mandato, como seria inevitável pela composição anterior do Conselho, o que se pretende é aprovar uma inofensiva moção de censura pelo crime de manter cinco contas secretas na Suíça e ter mentido ao Congresso. Um presente antecipado de Natal, num país onde cidadãos encontram-se presos há meses na carceragem de Curitiba, a grande maioria sem nenhuma prova material de enriquecimento ilícito - em qualquer caso, raros foram apanhados com provas desse teor, com tal volume de recursos. Isso não ocorre por acaso.
A impunidade de Cunha é o preço que a oposição - sem perder o nariz empinado - se dispõe a pagar pelo apoio de uma máquina que, por si só, fará diferença no plenário, depois de amanhã, cumprindo o papel decisivo no esforço para dar votos a uma tentativa de golpe de Estado e afastar uma presidente eleita, sem prova de crime de responsabilidade.
Não custa lembrar a sequencia dos fatos. Enquanto acreditou na possibilidade de um acordo com o Planalto, Cunha cultivou uma postura de coexistência pacífica em relação a proposta de afastar a presidente, recusando os pedidos impeachment.
Quando o Partido dos Trabalhadores anunciou que seus deputados na Comissão votariam por sua cassação, Cunha passou por uma transformação radical, ainda que fosse previsível. Chegou a dar conselhos aos três advogados que haviam desembarcado em Brasília com um pedido de impeachment ainda mais precário do que o relatório de Jovair Arantes. Fez um movimento claro de retaliação e vingança - exatamente como diz a defesa da presidente - depois que a chantagem não deu certo.
São mais de 100 parlamentares controlados à mão, com uma estrutura própria, movimentos e interesses exclusivos, que tentam a mais inescrupulosa barganha de nossa história republicana: a cabeça de uma presidente reconhecidamente honesta pela sobrevivência de um deputado contra o qual abundam provas criminosas e milionárias de todo tipo.
Para quem gosta de encher a boca para falar de valores éticos, acreditar na lenda de que está ocorrendo uma limpeza da política brasileira e que a honestidade pessoal deve estar acima de tudo,essa situação deveria ser chocante.
Não é. Apenas ajuda a mostrar o caráter utilitário, dirigido, do debate em curso no país de 2016.
Não é difícil adivinhar por que, apesar do tiroteio frequente e até barulhento do procurador Rodrigo Janot, Cunha permanece intocável em sua atividade. Não há motivo de espanto.
Simples: a máquina que quer a destruição de Dilma, Lula e tudo aquilo que eles representam, não pode dispensar os serviços de um aliado desse porte. O golpe precisa de Cunha, embora possa falar mal dele nos fins de semana, quando é obrigado a dar satisfação a família, em particular aos filhos, quem sabe netos.
Nenhum personagem é tão útil para se entender o espetáculo deste fim de semana, concorda?
A história humana é um cemitério de ilusões, fraudes e decepções. Um jornalista e militante de ideias refinadas, Isaac Deutscher, fala nas ironias da história, lembrando que os processos que defendem mudanças generosas, e até revolucionárias, podem transformar-se em seu oposto. Fez um grande livro a respeito, Ironias da História, cujo tema era a revolução russa de 1917.
O detalhe é que, em geral, é preciso esperar muitos anos, quem sabe décadas, para reconhecer uma farsa. Protagonista de uma tentativa de golpe no Brasil de 2016, o suíço Eduardo Cunha é a fraude em estado puro, que pode ser vista com antecedência. Já foi identificada, reconhecida. Não haverá decepção, meus caros. Como sabem aliados e adversários, Cunha cumpre o que promete. Este é seu papel.
1 comentários:
Cunha vai começar a votação do impitim; pelos deputados que estão na lista de Furnas, seguido da lista do Panamá e por último, os que estão na lista da Odebrecht.
Postar um comentário