Moreno e Temer: um vazamento lava o outro |
Uma coisa de que Michel Temer jamais precisará é de um porta voz. E, dentre todos os advogados na imprensa oficial, e não são poucos, um militante se destaca: o colunista Jorge Bastos Moreno, do Globo.
Moreno é o chamado “ministro das boas notícias”, como o padrasto de Hamlet, outro usurpador, apelidou Polônio. Puxa-saco de primeira hora, ele mora no Twitter, onde se dedica a mostrar que o golpe não é golpe.
Volta e meia resolve crucificar quem ousa proferir a palavra proibida, como o cineasta Kleber Mendonça Filho, que comandou o protesto em Cannes com seu filme “Aquarius”.
Kleber, avisa Moreno, não poderia denunciar o impeachment porque é funcionário público em Pernambuco. Parem as rotativas.
A entrevista patética de Temer ao Fantástico mereceu louvações imbecis. “Mérito principalmente da entrevistadora, com excelentes respostas do entrevistado”, disse. “Viram como é fácil entrevistar um presidente. Basta ser jornalista, como a Sonia Bridi. E Temer nem precisou mesoclar. Ser-lhe-ia até fácil”.
Não, não é ironia. A sutileza passa longe dali. De acordo com o próprio Moreno, os dois se conhecem há mais de vinte anos. Quando quis vazar sua famosa carta, em dezembro, Temer o usou.
Depois mentiu, negando que tivesse sido ideia sua o vazamento. Quando Renan o criticou, ele respondeu onde? Na mesma coluna.
Moreno é bem informado, mas completamente sem noção do absurdo dessa promiscuidade. Orgulha-se da sabujice. Ter um presidente como fonte é uma vantagem. Mas, quando o repórter é um sicofanta, não há o que salve o trabalho.
Uma nota publicada no domingo, dia 22, dá uma ideia da maneira como Moreno encara o poder: “A chegada do novo governo ao Planalto tem agradado os jornalistas que cobrem o palácio. Eles estão comemorando o fato de poderem circular livremente pelo terceiro andar, onde fica o gabinete presidencial. Com o PT, isso era impossível.”
Isso é, realmente, motivo para alguém comemorar numa democracia??
Ou é um atestado de que vivemos no Paraguai? Imagine o cara que cobre a Casa Branca felizão por poder andar numa boa na área onde fica Obama. Tudo bem? Depreende-se que Dilma não permitia que esse pessoal ficasse ali. Maldita bolivariana.
Há outro motivo forte ter certeza de que Moreno não ficará sem suas fofocas. O novo presidente da EBC, Empresa Brasil de Comunicação, é seu amigo de fé Laerte Rímoli, um revoltado on line disfarçado de jornalista, coordenador de campanha de Aécio em 2014, uma das várias indicações de Eduardo Cunha na atual administração interina.
Em outubro, Jean Wyllys classificou a contratação de Rímoli para a chefia de TV Câmara de “tenebrosa transação”. Moreno partiu para cima. Rímoli, afirmou, “é conhecido e respeitado pelos seus colegas de profissão. Não seja injusto, por favor”.
Em 2012, também no Twitter, ele contou que “quando éramos crianças, Laerte Rímoli e eu gostávamos de brincar de Adão & Eva. Eu saudava: ‘Ave, Eva’. E ele: ‘Ave, Adão’. Bons tempos.”
O governo Temer não é ruim apenas por si só - seus defensores prestam um serviço inestimável à causa da mediocridade.
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