Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
Senador Cristovam Buarque,
Sempre tive carinho e amizade pelo senhor e sei que a recíproca sempre foi verdadeira nos muitos anos em que convivemos no PDT.
Sei também das mágoas que guarda em relação ao PT e a Lula. Todos sempre temos algumas e benditos aqueles que conseguem praticar os versos da Violeta Parra e deixam que o amor – e as causas são amores, não são? – nos “aleje tão dulcemente de rencores y violencias”.
Sempre tivemos intimidade para brincar e me recordo de um dia, naqueles tempos em que o senhor defendia a permanência provisória de Pedro Malan e Armínio Fraga no comando da economia, como forma de dar ao “mercado” a tranquilidade com a mudança de governo da sua cara de espanto quando, imitando a voz do velho Brizola, perguntei se o senhor conhecia a “Síndrome de Estocôlmo”, assim mesmo, com o O fechado como ele falava, que era aquela onde o sequestrado se apaixonava pelo sequestrador.
Era sério, mas demos boas risadas, que a alma leve é privilégio dos homens de bem.
Hoje, porém, não dá para dar risada.
Não vou tratar como piada a ida de Alexandre Frota ao Ministério da Educação entregar, segundo ele disse “uma pauta para a educação” no Brasil, na qual destaca-se uma baboseira chamada “escola sem partido”, que diz que é para impedir a doutrinação e é para estabelecer a discriminação ideológica nos colégios e universidades.
Aquela que eu, como aluno de escolas públicas e o senhor, como aluno e depois professor, também viu. Aquela que jogou pelos caminhos do mundo, no exílio, o nosso querido Darcy Ribeiro, que sabia conviver com os índios, mas não com os selvagens de paletó e gravata.
É este o governo que, infelizmente, o seu voto no Senado ajudou a instalar, o que não ouve as ideias generosas, mas está aberto a ouvir e acumpliciar-se às mesquinhas, encarnadas num sujeito que se notabilizou, na horizontal e na vertical, por transformar em brutalidade o que deveria ser o gesto mais delicado a unir pessoas.
Não vou condená-lo ainda ao desprezo, que é a morte em vida, Senador, porque me lembro do que dizia Brizola ser um direito humano: o de mudar.
Mas vou esperar que, diante desta bofetada em sua causa – na nossa causa – a da Educação, o senhor anuncie que seu voto será não ao impeachment e não a este destino inglório do MEC. Que já foi ocupado por gente conservadora, como Gustavo Capanema, mas decente.
E e espero para já, senador, porque a cabeça pode se confundir, mas o estômago sente na hora o que está estragado e podre.
Talvez aquele senhor musculoso e brucutu não saiba, mas não fez até hoje nenhuma cena mais pornográfica que a de hoje, “entregando propostas” ao Ministro da Educação.
Espero, de coração, que o senhor, a esta altura da vida, não se preste a ser ator coadjuvante de Alexandre Frota.
Senador Cristovam Buarque,
Sempre tive carinho e amizade pelo senhor e sei que a recíproca sempre foi verdadeira nos muitos anos em que convivemos no PDT.
Sei também das mágoas que guarda em relação ao PT e a Lula. Todos sempre temos algumas e benditos aqueles que conseguem praticar os versos da Violeta Parra e deixam que o amor – e as causas são amores, não são? – nos “aleje tão dulcemente de rencores y violencias”.
Sempre tivemos intimidade para brincar e me recordo de um dia, naqueles tempos em que o senhor defendia a permanência provisória de Pedro Malan e Armínio Fraga no comando da economia, como forma de dar ao “mercado” a tranquilidade com a mudança de governo da sua cara de espanto quando, imitando a voz do velho Brizola, perguntei se o senhor conhecia a “Síndrome de Estocôlmo”, assim mesmo, com o O fechado como ele falava, que era aquela onde o sequestrado se apaixonava pelo sequestrador.
Era sério, mas demos boas risadas, que a alma leve é privilégio dos homens de bem.
Hoje, porém, não dá para dar risada.
Não vou tratar como piada a ida de Alexandre Frota ao Ministério da Educação entregar, segundo ele disse “uma pauta para a educação” no Brasil, na qual destaca-se uma baboseira chamada “escola sem partido”, que diz que é para impedir a doutrinação e é para estabelecer a discriminação ideológica nos colégios e universidades.
Aquela que eu, como aluno de escolas públicas e o senhor, como aluno e depois professor, também viu. Aquela que jogou pelos caminhos do mundo, no exílio, o nosso querido Darcy Ribeiro, que sabia conviver com os índios, mas não com os selvagens de paletó e gravata.
É este o governo que, infelizmente, o seu voto no Senado ajudou a instalar, o que não ouve as ideias generosas, mas está aberto a ouvir e acumpliciar-se às mesquinhas, encarnadas num sujeito que se notabilizou, na horizontal e na vertical, por transformar em brutalidade o que deveria ser o gesto mais delicado a unir pessoas.
Não vou condená-lo ainda ao desprezo, que é a morte em vida, Senador, porque me lembro do que dizia Brizola ser um direito humano: o de mudar.
Mas vou esperar que, diante desta bofetada em sua causa – na nossa causa – a da Educação, o senhor anuncie que seu voto será não ao impeachment e não a este destino inglório do MEC. Que já foi ocupado por gente conservadora, como Gustavo Capanema, mas decente.
E e espero para já, senador, porque a cabeça pode se confundir, mas o estômago sente na hora o que está estragado e podre.
Talvez aquele senhor musculoso e brucutu não saiba, mas não fez até hoje nenhuma cena mais pornográfica que a de hoje, “entregando propostas” ao Ministro da Educação.
Espero, de coração, que o senhor, a esta altura da vida, não se preste a ser ator coadjuvante de Alexandre Frota.
4 comentários:
Super hiper ultra parabéns,Fernando Brito.Sua voz,escrita,foi a de muitos,entre as
quais a minha.Agradecidíssima.
Quem conhece o Cristovam sabe, que ele sempre foi defensor dos banqueiros ...
Esperava mais do Cristóvão
Me senti altamente confortável representada neste texto! Lamentável a postura de Critovam ! Decepcionante! !
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