Com fama de truculento e vingativo, o correntista suíço Eduardo Cunha é um homem emotivo. Após a cena comovente do choro no anúncio da sua renúncia à presidência da Câmara Federal, no início de julho, nesta quarta-feira (27) ele promoveu uma festa de despedida para os funcionários da residência oficial, localizada em área nobre de Brasília. Segundo o noticiário, teve churrasco e espumantes. Nas redes sociais, porém, os internautas não deram trégua ao pobre coitado - que foi traído até pelo Judas Michel Temer. A pergunta recorrente dos insensíveis internautas foi sobre quem financiou a festança, com maldosas insinuações de que a grana teve origem nos cofres públicos ou nas bilionárias propinas que o lobista recebeu de empresas em esquemas de corrupção. Pura maldade!
De acordo com a assessoria do ainda deputado - que deverá ser cassado em meados de agosto -, cerca de 50 funcionários participaram do "churrascão". Entre eles, assessores, seguranças e policiais, além da esposa Cláudia Cruz. Em sua conta no Twitter, o ex-poderoso chefão demonstrou sua humildade. "Quero reconhecer a dedicação de todos e agradecer a atenção dispensada a mim e a minha família nesse tempo em que residi na residência oficial", postou. Não há relatos sobre a sua tristeza. Afinal, ele será obrigado a deixar o palacete oficial, no Lago Sul, para residir em um apartamento funcional de reles deputado - isto para, logo em seguida, ser também enxotado. E já havia perdido as regalias da presidência da Câmara Federal - que custavam cerca de R$ 500 mil ao mês, Que crueldade!
Devolução de R$ 300 milhões em propina
É certo que Eduardo Cunha não sofrerá muitas agruras no futuro - a não ser que seja preso ou forçado a devolver toda a fortuna que roubou dos cofres públicos. Na semana retrasada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal que o peemedebista seja condenado a ressarcir R$ 298,8 milhões por seu envolvimento no esquema de propina investigado na Lava-Jato. O valor representa a soma do ressarcimento requerido pela PGR nas três denúncias oferecidas contra ele ao STF por crime de corrupção e lavagem de dinheiro. É possível que o montante ainda cresça. Agora que o golpista cumpriu o seu papel sujo no impeachment de Dilma e já foi descartado como bagaço, não param de surgir denúncias do seu envolvimento em novas maracutaias.
A mais recente indica um esquema profissional de corrupção na Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2015. Eduardo Cunha patrocinou a indicação de Fábio Cleto para a vice-presidência do banco, em um acerto com o corretor de valores Lúcio Funaro. A nomeação teria sido articulada para garantir a cobrança de propina de empresas interessadas em receber investimentos do FI-FGTS. Em sua delação premiada, Fábio Cleto garantiu que Eduardo Cunha - apelidado até por seus aliados de "meu malvado favorito" - indicava os projetos de investimentos que deviam ser aprovados ou reprovados e utilizou o influente posto para chantagear amigos e prejudicar adversários.
Ausência dos deputados; "Hoje sou eu; vocês, amanhã"
O "churrascão" desta quarta-feira não teve a presença dos deputados que protagonizaram a sessão de horrores da Câmara Federal que deu a largada ao processo de impeachment de Dilma, em 17 de abril. Segundo os jornais, eles nem foram convidados - foi uma festinha apenas para os funcionários. Tudo indica que Eduardo Cunha está muito magoado com esta turma, que o abandonou na rua da amargura. Boatos que circulam em Brasília apontam que o achacador ajudou a eleger cerca de 120 deputados, com generosas doações de campanha. Na hora em que mais precisou, muitos deles o traíram. Baita sacanagem! Há quem garanta que o emotivo parlamentar não perdoa esta traição.
Quando ainda resistia à ideia da renúncia, Eduardo Cunha afirmou em uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça que muitos que o abandonaram sofreriam as consequências no futuro. "Hoje, sou eu. É o efeito Orloff; vocês, amanhã", disse em tom profético, quase religioso. Ele ainda lembrou: "Ao todo, 117 parlamentares, mais de 20% da Casa, detêm inquéritos, alguns com mais de um, todos com natureza penal... Meus adversários não vão ouvir nenhum dos meus argumentos, esquecendo-se que amanhã pode ser qualquer um (deles)". A frase foi encarada por alguns como ameaça. Ou seja: não haveria clima para a presença no "churrascão" de despedida. Que cena triste!
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