Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
O melhor perfil de Roberto Marinho está no livro Brazillionaires, do jornalista americano Alex Cuadros.
Entre 2010 e 2015, Alex viveu no Brasil, onde cobriu para a revista Forbes os bilionários brasileiros.
Desta experiência nasceu o livro, há pouco lançado em sua versão original em inglês. Seria uma imensa pena se uma tradução em português não aparecesse logo.
Comprei com um clique na Amazon, e fui direto ao personagem que mais me interessa, Roberto Marinho. Não consegui parar de ler.
Não há exatamente revelações portentosas. Muitas das informações os leitores do DCM conhecem de artigos sobre o personagem. Mas Cuadros juntou tudo o que apurou de uma forma inteligente, harmoniosa e irresistível.
A combinação de frivolidades com a visão de negócios de Roberto Marinho é uma das forças do perfil.
Logo de cara, você fica sabendo que ao morrer Roberto Marinho tinha 5328 gravatas. Isso dá uma amostra da imensa vaidade do maior dos barões da imprensa brasileira.
De tez morena, ele passava pó de arroz para embranquecer. Usava saltos especiais nos sapatos para ficar mais alto, já que era baixinho. (Estas informações estão na biografia caseira que Bial fez de RM.)
Mas ao lado de coisas de revistas de fofocas você encontra, em Cuadros, traços de RM essenciais para você entender a trajetória da Globo.
Ele tinha uma visão paranóica de um negócio: ou você cresce constantemente ou começa a afundar.
Foi um argumento que ele usou astutamente dos governos militares para extrair mais e mais concessões. (O livro Dossiê Geisel, feito com base em papeis de Geisel, detalha isso.)
Ele não fazia cerimônias para passar o pires para a ditadura. Dizia que, na condição de “maior e mais constante amigo” dos generais na imprensa, merecia “favores especiais”.
A imagem de um país de próspera tranquilidade na ditadura foi, em grande parte, forjada pela Globo. Medici dizia que gostava de ver o Jornal Nacional porque ali não havia nada do mundo em convulsão que existia na realidade no Brasil e fora dele.
Roberto Marinho soube cobrar o preço de seus favores para a ditadura. Daí os bilhões de sua fortuna pessoal, hoje distribuída entre os três filhos.
Um outro aspecto interessante do perfil de Cuadros é a relação da Globo com as questões raciais brasileiras. Ele não deixou escapar de sua análise o infame livro do diretor de telejornalismo da Globo Ali Kamel, Não Somos Racistas.
Cuadros volta atrás e lembra que na novela A Cabana do Pai Tomás a Globo utilizou um ator branco, Sérgio Cardoso, pintado de negro, e com artifícios para inflar suas narinas.
Ele recorda uma fala, também, de um ator que numa novela tinha se apaixonado por uma empregada. “Que importa se ela é negra, se sua alma é branca e pura?”
Os privilégios dados a Roberto Marinho pelos militares deram a ele um poder descomunal para extorquir mamatas de presidentes civis.
Tancredo Neves, lembra Cuadros, disse que brigaria com o papa e com quem quer que fosse, exceto com o “Doutor Roberto”. Tancredo submeteu-lhe os nomes do ministério que montaria não morresse dias antes de assumir.
Ninguém jamais viu RM com um livro, e nem sabe de uma legenda sequer que tenha escrito, mas fazia questão de ser chamado de Doutor Roberto.
Cuadros lembra que Lula também se curvou diante de Roberto Marinho. Decretou luto de três dias quando ele enfim morreu, aos 98 anos. Mais importante, jamais deixou de passar quantias colossais de dinheiro público para a Globo em anúncios, prática que sua sucessora Dilma nunca ousou interromper, a despeito do jornalismo de guerra dos Marinhos para derrubá-la.
Roberto Marinho dizia que fazia tudo o que fazia “patrioticamente”. “Gostaríamos de ter força para corrigir tudo que não funciona no país.”
Cuadros não escreveu o complemento, mas é tentador lembrar uma frase do escritor e pensador britânico Samuel Johnson. “O patriotismo é o último refúgio do canalha.”
Se se olhasse no espelho, Roberto Marinho teria diante de si o que é talvez o maior obstáculo ao desenvolvimento econômico e social do Brasil: ele mesmo.
O melhor perfil de Roberto Marinho está no livro Brazillionaires, do jornalista americano Alex Cuadros.
Entre 2010 e 2015, Alex viveu no Brasil, onde cobriu para a revista Forbes os bilionários brasileiros.
Desta experiência nasceu o livro, há pouco lançado em sua versão original em inglês. Seria uma imensa pena se uma tradução em português não aparecesse logo.
Comprei com um clique na Amazon, e fui direto ao personagem que mais me interessa, Roberto Marinho. Não consegui parar de ler.
Não há exatamente revelações portentosas. Muitas das informações os leitores do DCM conhecem de artigos sobre o personagem. Mas Cuadros juntou tudo o que apurou de uma forma inteligente, harmoniosa e irresistível.
A combinação de frivolidades com a visão de negócios de Roberto Marinho é uma das forças do perfil.
Logo de cara, você fica sabendo que ao morrer Roberto Marinho tinha 5328 gravatas. Isso dá uma amostra da imensa vaidade do maior dos barões da imprensa brasileira.
De tez morena, ele passava pó de arroz para embranquecer. Usava saltos especiais nos sapatos para ficar mais alto, já que era baixinho. (Estas informações estão na biografia caseira que Bial fez de RM.)
Mas ao lado de coisas de revistas de fofocas você encontra, em Cuadros, traços de RM essenciais para você entender a trajetória da Globo.
Ele tinha uma visão paranóica de um negócio: ou você cresce constantemente ou começa a afundar.
Foi um argumento que ele usou astutamente dos governos militares para extrair mais e mais concessões. (O livro Dossiê Geisel, feito com base em papeis de Geisel, detalha isso.)
Ele não fazia cerimônias para passar o pires para a ditadura. Dizia que, na condição de “maior e mais constante amigo” dos generais na imprensa, merecia “favores especiais”.
A imagem de um país de próspera tranquilidade na ditadura foi, em grande parte, forjada pela Globo. Medici dizia que gostava de ver o Jornal Nacional porque ali não havia nada do mundo em convulsão que existia na realidade no Brasil e fora dele.
Roberto Marinho soube cobrar o preço de seus favores para a ditadura. Daí os bilhões de sua fortuna pessoal, hoje distribuída entre os três filhos.
Um outro aspecto interessante do perfil de Cuadros é a relação da Globo com as questões raciais brasileiras. Ele não deixou escapar de sua análise o infame livro do diretor de telejornalismo da Globo Ali Kamel, Não Somos Racistas.
Cuadros volta atrás e lembra que na novela A Cabana do Pai Tomás a Globo utilizou um ator branco, Sérgio Cardoso, pintado de negro, e com artifícios para inflar suas narinas.
Ele recorda uma fala, também, de um ator que numa novela tinha se apaixonado por uma empregada. “Que importa se ela é negra, se sua alma é branca e pura?”
Os privilégios dados a Roberto Marinho pelos militares deram a ele um poder descomunal para extorquir mamatas de presidentes civis.
Tancredo Neves, lembra Cuadros, disse que brigaria com o papa e com quem quer que fosse, exceto com o “Doutor Roberto”. Tancredo submeteu-lhe os nomes do ministério que montaria não morresse dias antes de assumir.
Ninguém jamais viu RM com um livro, e nem sabe de uma legenda sequer que tenha escrito, mas fazia questão de ser chamado de Doutor Roberto.
Cuadros lembra que Lula também se curvou diante de Roberto Marinho. Decretou luto de três dias quando ele enfim morreu, aos 98 anos. Mais importante, jamais deixou de passar quantias colossais de dinheiro público para a Globo em anúncios, prática que sua sucessora Dilma nunca ousou interromper, a despeito do jornalismo de guerra dos Marinhos para derrubá-la.
Roberto Marinho dizia que fazia tudo o que fazia “patrioticamente”. “Gostaríamos de ter força para corrigir tudo que não funciona no país.”
Cuadros não escreveu o complemento, mas é tentador lembrar uma frase do escritor e pensador britânico Samuel Johnson. “O patriotismo é o último refúgio do canalha.”
Se se olhasse no espelho, Roberto Marinho teria diante de si o que é talvez o maior obstáculo ao desenvolvimento econômico e social do Brasil: ele mesmo.
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