Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Em janeiro de 2016, a coalizão que derrubou Dilma Rousseff tinha uma certeza e muitas esperanças. A primeira era de que os dias do governo petista estavam contados. Estavam mesmo.
Já em relação ao que esperavam do futuro, não foi igual. Tudo deu errado. Um ano depois, não se confirmou nenhuma das expectativas daquele conglomerado de interesses empresariais, oligopólios de comunicação, partidos antipetistas e setores do aparelho estatal.
Ela caiu, mas o cenário complicou-se para essas forças. Hoje, nada garante que conseguirão consolidar a vitória que obtiveram quando a tiraram da Presidência e assumiram as rédeas do Estado.
O problema é o tempo. De que adianta governar por alguns meses, sem um horizonte razoável de continuidade? Fora os negocinhos (e os negociões) que geram frutos imediatos, nada que realmente vale a pena traz retorno no curtíssimo prazo.
De que serve, por exemplo, uma mudança constitucional se seu futuro é incerto, se um novo governo pode revertê-la tão logo eleito, legitimado pelos milhões de votos recém-conquistados? Que serventia tem uma reforma como essa da Previdência, burra e cruel para com os mais frágeis, sujeita a ser cancelada logo após a promulgação?
Os vitoriosos de 2016 achavam que a história se repetiria e que Michel Temer seria um novo Itamar Franco. Que, apesar da insignificância, Temer poderia produzir um “novo fenômeno”, uma reencarnação de Fernando Henrique Cardoso, prontinho para salvar o primitivo capitalismo brasileiro, livrando-o dos perigos do “lulopetismo”.
O que tivemos, no entanto, foi a confirmação da velha regra, de que, na segunda vez, um episódio histórico se torna farsa. Temer é pior do que Itamar em qualquer quesito, a começar pela honorabilidade.
Henrique Meirelles, o candidato a novo FHC, que, no Ministério da Fazenda, assinaria uma espécie de novo Plano Real, foi um devaneio de banqueiros que não durou um mês. Seu programa econômico não funciona, é rejeitado pelo País e é mal recebido até pelo Fundo Monetário Internacional.
Deu também errado a aposta na morte da liderança de Lula e no fim do PT. Estavam convencidos de que nenhum dos dois resistiria aos ataques diários que sofrem na mídia conservadora, mas todas as pesquisas mostram que as intenções de voto em Lula crescem, enquanto afunda a avaliação do governo.
Frustrou-se a suposição de que a opinião pública aplaudiria a troca de Dilma por Temer. Achavam que a insatisfação era tamanha que a derrubada da petista desanuviaria os espíritos e aliviaria as tensões acumuladas durante os longos meses de crise política. Chegaram a acreditar em “manifestações de massa” a favor de Temer e repúdio ao PT. Não houve nenhuma.
Ainda no correr deste ano, entraremos na campanha aberta para as eleições presidenciais de 2018. Os vitoriosos no golpe de 2016, que supunham que, a esta altura, teriam boas cartas na mão, estão com um jogo micado. Seus candidatos iam mal e pioraram.
Queriam um Itamar e têm, no máximo, o José Sarney do quinto ano, com o mesmo formalismo vazio, a mesma falta de respaldo popular, a mesma incompetência e inoperância. Idênticos na dúvida que provocam de se vale a pena mexer nas instituições para terminar perambulando pelos corredores do Palácio do Planalto. Proibidos de enunciar o nome de seus candidatos na eleição seguinte, para não terminar de inviabilizá-los.
Resta-lhes uma única carta, que não é boa, e nela depositam suas esperanças de permanecer no poder por mais tempo: tentar levar o jogo para o tapetão, fugindo do campo da disputa democrática. Como não conseguem derrotá-lo, perseguem Lula e procuram impedir sua candidatura na próxima eleição. Com julgamentos enviesados, acusações baseadas em “convicções” e fanfarronices de delegados.
Não há sintoma maior da falência das velhas elites brasileiras do que estarem completamente nas mãos de meia dúzia de juízes, promotores e delegados que parecem ignorar o bê-á-bá do direito. Depois de se verem como os mestres do universo, que tudo podiam e faziam, triste o ponto a que chegaram.
Mas existe um Brasil maior, de gente menos parcial, mais capaz de respeitar a democracia e menos manipulável, assim como existem sentimentos civilizados na comunidade internacional. Juntas, essas forças precisam agir.
Quem tem de julgar Lula é o povo, plenamente capaz de fazê-lo.
Já em relação ao que esperavam do futuro, não foi igual. Tudo deu errado. Um ano depois, não se confirmou nenhuma das expectativas daquele conglomerado de interesses empresariais, oligopólios de comunicação, partidos antipetistas e setores do aparelho estatal.
Ela caiu, mas o cenário complicou-se para essas forças. Hoje, nada garante que conseguirão consolidar a vitória que obtiveram quando a tiraram da Presidência e assumiram as rédeas do Estado.
O problema é o tempo. De que adianta governar por alguns meses, sem um horizonte razoável de continuidade? Fora os negocinhos (e os negociões) que geram frutos imediatos, nada que realmente vale a pena traz retorno no curtíssimo prazo.
De que serve, por exemplo, uma mudança constitucional se seu futuro é incerto, se um novo governo pode revertê-la tão logo eleito, legitimado pelos milhões de votos recém-conquistados? Que serventia tem uma reforma como essa da Previdência, burra e cruel para com os mais frágeis, sujeita a ser cancelada logo após a promulgação?
Os vitoriosos de 2016 achavam que a história se repetiria e que Michel Temer seria um novo Itamar Franco. Que, apesar da insignificância, Temer poderia produzir um “novo fenômeno”, uma reencarnação de Fernando Henrique Cardoso, prontinho para salvar o primitivo capitalismo brasileiro, livrando-o dos perigos do “lulopetismo”.
O que tivemos, no entanto, foi a confirmação da velha regra, de que, na segunda vez, um episódio histórico se torna farsa. Temer é pior do que Itamar em qualquer quesito, a começar pela honorabilidade.
Henrique Meirelles, o candidato a novo FHC, que, no Ministério da Fazenda, assinaria uma espécie de novo Plano Real, foi um devaneio de banqueiros que não durou um mês. Seu programa econômico não funciona, é rejeitado pelo País e é mal recebido até pelo Fundo Monetário Internacional.
Deu também errado a aposta na morte da liderança de Lula e no fim do PT. Estavam convencidos de que nenhum dos dois resistiria aos ataques diários que sofrem na mídia conservadora, mas todas as pesquisas mostram que as intenções de voto em Lula crescem, enquanto afunda a avaliação do governo.
Frustrou-se a suposição de que a opinião pública aplaudiria a troca de Dilma por Temer. Achavam que a insatisfação era tamanha que a derrubada da petista desanuviaria os espíritos e aliviaria as tensões acumuladas durante os longos meses de crise política. Chegaram a acreditar em “manifestações de massa” a favor de Temer e repúdio ao PT. Não houve nenhuma.
Ainda no correr deste ano, entraremos na campanha aberta para as eleições presidenciais de 2018. Os vitoriosos no golpe de 2016, que supunham que, a esta altura, teriam boas cartas na mão, estão com um jogo micado. Seus candidatos iam mal e pioraram.
Queriam um Itamar e têm, no máximo, o José Sarney do quinto ano, com o mesmo formalismo vazio, a mesma falta de respaldo popular, a mesma incompetência e inoperância. Idênticos na dúvida que provocam de se vale a pena mexer nas instituições para terminar perambulando pelos corredores do Palácio do Planalto. Proibidos de enunciar o nome de seus candidatos na eleição seguinte, para não terminar de inviabilizá-los.
Resta-lhes uma única carta, que não é boa, e nela depositam suas esperanças de permanecer no poder por mais tempo: tentar levar o jogo para o tapetão, fugindo do campo da disputa democrática. Como não conseguem derrotá-lo, perseguem Lula e procuram impedir sua candidatura na próxima eleição. Com julgamentos enviesados, acusações baseadas em “convicções” e fanfarronices de delegados.
Não há sintoma maior da falência das velhas elites brasileiras do que estarem completamente nas mãos de meia dúzia de juízes, promotores e delegados que parecem ignorar o bê-á-bá do direito. Depois de se verem como os mestres do universo, que tudo podiam e faziam, triste o ponto a que chegaram.
Mas existe um Brasil maior, de gente menos parcial, mais capaz de respeitar a democracia e menos manipulável, assim como existem sentimentos civilizados na comunidade internacional. Juntas, essas forças precisam agir.
Quem tem de julgar Lula é o povo, plenamente capaz de fazê-lo.
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