Foto: Ricardo Stuckert |
Dona Marisa morreu triste, disse Luiz Inácio Lula da Silva, durante o velório de sua esposa no último sábado, 4/2. Além dos conhecidos motivos que a entristeceram, a agonia da primeira-dama operária foi longa: chegou ao hospital consciente, permaneceu em coma induzido e nove dias depois os médicos iniciaram os procedimentos para verificar a morte cerebral. Seu coração ainda bateu por mais um dia, até parar na tarde de sexta-feira, 3/2.
Entre a piora do quadro e o óbito constatado se passaram quatro dias. Nesse período, o ex-presidente Lula recebeu a visita de familiares, amigos, militantes e políticos, incluindo uma comitiva com o presidente Michel Temer, ministros e senadores da oposição.
Duas atitudes, no entanto, chamaram a atenção: a visita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o telefonema do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Ambos estavam afastados de Lula há anos.
Fernando Henrique foi pessoalmente ao Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e retribuiu o abraço de Lula quando dona Ruth Cardoso, esposa do tucano, faleceu, em 2008. Estava acompanhado do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Direitos Humanos na gestão de FHC, José Gregori. Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa durante o governo Dilma também estava presente.
“Como participante direto, sei que foi um ato de amizade e de solidariedade”, afirma Gregori. “Fernando Henrique não tinha outro objetivo a não ser, em uma hora extrema, dar um abraço, uma força, de solidariedade, de amizade. No caso específico dos dois, no mesmo nível que Lula tinha dado anos atrás quando o Fernando Henrique passou por uma hora semelhante.”
Gregori pondera que, ainda que o encontro tenha tido como origem razões de humanismo, uma conversa com dois interlocutores tão representativos produz consequências em um cenário de muita radicalização no País. “As duas metades do Brasil estavam se encontrando. Isso distensionou a situação”, afirma o ex-ministro. “Tudo o que distensiona numa hora em que o Brasil está crescentemente conflagrado, ajuda os outros aspectos brasileiros, que estão também envolvidos em crises”, conclui.
O telefonema do ministro Gilmar Mendes foi marcante pelo tom emotivo e pela retomada de diálogo. Mendes e Lula, antes amigos, se distanciaram em 2008, quando o magistrado acusou o ex-presidente de tentar influenciar no julgamento do mensalão.
Na conversa no hospital, Lula recordou o relacionamento de amizade que Marisa e a mulher de Mendes, Guiomar, mantinham. Chorando, o ex-presidente prometeu que se reencontrariam, de acordo com relato publicado pela jornalista Monica Bergamo.
“Um momento desse, de comoção, em que todos nós nos sensibilizamos, talvez nos leve a uma reflexão de que a posição de adversidade política ou de desinteligência eventual não se transforme em inimizade”, afirmou Gilmar Mendes à Brasileiros. Ele disse que o gesto dos ex-presidentes foram bastante importantes. “É preciso contribuir para desarmar os espíritos. Nós podemos divergir sem nos atacar.”
Ele afirmou que pretende retomar o diálogo com Lula “sem dúvida nenhuma” e que o ex-presidente disse que iria procurá-lo para uma conversa.
Por um novo acordo
A busca por entendimento entre diferentes partidos, sindicatos e empresários para conter crises tem sido frequente nos diversos governos do Brasil. Inspirados pelo Pacto de Moncloa, que aconteceu em 1977, na Espanha, para marcar a transição entre o regime fascista e a democracia, presidentes brasileiros sugerem pactos sociais e econômicos em nome da estabilidade política.
Tancredo Neves (PMDB) considerou o acordo espanhol um modelo e em janeiro de 1985 criou um pacto de governabilidade, implantado depois de sua morte por José Sarney (PMDB). Em 1989, Fernando Collor (naquele momento filiado ao PRN) esteve no Palácio de la Moncloa, sede do governo espanhol, para conhecer os técnicos que criaram a versão original, para tentar aplicar algo semelhante no Brasil.
Inspirado pelo mesmo acordo, em 1999, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) propos um pacto para lidar com o déficit da Previdência, que chegava a R$ 45 bilhões naquele ano. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adotou um pacto social e em 2002 criou o Conselho Econômico e Social, composto por pessoas de diferentes setores da sociedade, desde lideranças de movimentos sociais até grandes empresários.
A ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2013, também propôs um pacto nacional e a realização de um plebiscito para convocar uma nova Constituinte, que daria andamento a uma reforma política. Ela sugeriu acordos sobre responsabilidade social, reforma política, saúde, educação e transporte público, reunindo 27 governadores e 26 prefeitos das capitais. Era uma tentativa de responder à sociedade depois das manifestações de junho daquele ano.
O desfecho da falta de acordos foi o impeachment, que interessava a alguns partidos – e agravou a crise política. Agora, o PSDB de FHC e o ministro Gilmar Mendes, alinhado ao tucanato, dão sinais de que pretendem retomar o diálogo com Lula. O ex-presidente, acossado pela Justiça mas líder nas pesquisas de intenção de voto para 2018, parece ser ainda figura imprescindível, se o objetivo do atual presidente for levar à mesa lideranças capazes de conter a grave crise política brasileira.
6 comentários:
Particularmente, sobre Gilmar Mendes e FHC, acho muito otimismo achar que estão sensibilizados e, em nome disso, dispostos a pactos conciliatórios com Lula em nome do resgate do país. Nem o país e muito menos Lula estão nas pautas deles com aliados.
Esse encontro apenas evidencia como eles querem se relacionar com o Lula, isto é, na condição de fragilizado, destruído. É como a casa grande se relaciona com a empregada: enquanto ela permanece inferior é um membro da casa, "quase" uma "pessoa" da família. Mas se a filha dela entra na universidade, na mesma que o filho da patroa, Ahhhh.... ai tudo muda.
Enquanto o Lula era uma bandeira, uma tese acadêmica, era muito bem vindo, mas quando se tornou o melhor presidente que o Brasil já teve, Ahhhh.... ai tudo mudou.
Eu tenho a impressão que este golpe , não foi como esperado. Apesar do tentarem fragilizar a esquerda e conseguiram, em parte, mas não conseguiram fragilizar o lider que é o Lula. Diante disso ele sim pode dar as cartas na mesma proporção que o Ministro Gilmar e o ex- Presidente da República FHC.Pois o modelo pós golpe será trágico para o país e esses golpistas estão percebendo. O exemplo está começando no Espírito Santo. Um Estado saneado economicamente de acordo com políticas que querem adotar no Brasil, elogiados pelos "economistas" e agora enfrenta um problema social, beirando a guerra civil.Este modelo só foi possível com a aliança, psdb e pmdb. Portanto, concluo: tanto no econômico e no político estão fragilizado e precisaram do Lula, que terá alternativas
Não, não ha possibilidade de conciliação com traidores da pátria, golpistas e entreguistas. Destruíram tudo que foi criado ate hoje com muito suor, sangue e sacrifícios de milhões de brasileiro e o que eh de mais caro para uma Nação, a esperança em dias cada vez melhores. Inviabilizaram um governo serio de uma mulher honesta ate derrubarem-na através de um golpe sujo, porque sao todos sujos e corruptos, agora querem conciliação ? Não ! Lula deve ter apreendido a lição. Com golpistas e traidores não ha conciliação. Eles terão que pagar pelo que fizeram com a Patria, os trilhões de reais de prejuízos que estao dando, a entrega de nossas riquezas como o petróleo, a destruição de nossas empresas e o desemprego de milhões de brasileiros. Lugar desta gente eh a prisão e o lixo da Historia.
Gilmar mendes é líder político também, para agendar uma conversa com o Lula? Pensei que ele fosse juiz.
Não se trata de reconciliação de Lula com FHC e Gilmar Mendes. Lula jamais poderá considerar esta possibilidade. Primeiro que o ex presidente Lula representa uma parte da sociedade que está sendo destroçada pelas forças aliadas destes dois golpistas, segundo porque Lula deveria consultar a parte da sociedade que ele representa para então poder tomar qualquer tipo de atitude. O PT vem perdendo espaço político justamente pelo desprezo progressivo que varios de seus representantes tem dado a população da qual emergiram politicamente.
Este encontro só pode se dar se Lula levar consigo as lideranças da sociedade da qual representa. Quero ver essa dupla de marginais ter a coragem de olhar nos olhos do povo. Lula não pode abdicar da sorte mais uma vez.
Isso, Lula. Faz acordo com eles, um pacto nacional, volte ao poder e mande todos pra cadeia, que é o que deveria ter feito em 2003.
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