Por Leonardo Segura Moraes, no site Brasil Debate:
Os economistas de mercado são pessoas curiosas. Preocupam-se com soluções possíveis desde que essas perpetuem as estruturas sociais dominantes. Como qualquer humano, esses seres têm medos, anseios e desejos, os quais, geralmente, estão representados nas distintas formas de espiritualidade. Concretamente, a religião desses economistas coloca o Mercado como rei dos deuses, cuja ânsia devoradora exige sacrifícios de tempos em tempos. Infelizmente, os sacrificados pouco importam para deus Mercado.
A edição de novembro e dezembro de 2016 da revista Rumos reporta uma síntese do debate entre vários economistas (de mercado) promovido pelo BNDES no intuito de discutir saídas para a atual crise brasileira e caminhos para o desenvolvimento. É bem verdade que nem todos ali se mostram tão comprometidos a deus Mercado, porém mesmo os mais céticos mantêm alguma crença.
Fabio Giambiagi, famoso por seus manuais sobre Economia do Setor Público e Economia Brasileira, ilustra o desfile dos mais devotos. Sua devoção é tamanha que chega ao ponto de ressignificar o conceito de “crise econômica” para “crescimento moderado em todo o mundo”, mesmo que uma série de movimentos populares tenha emergido desde 2008 denunciando exatamente as contradições e limites do capitalismo.
Apenas para pegar o período pós 2008/2009, o qual marca o detonamento da atual crise mundial, grandes protestos antimercado despontaram mundo afora. No Chile, em defesa da educação pública. Os movimentos Occupy contra a desigualdade e a mercantilização da democracia, que se espalharam desde 2011 de Wall Street para todos os continentes. Teve, também, aqueles especificamente contra a austeridade econômica na Grécia, Irlanda, Itália, Portugal, Espanha, Reino Unido e Canadá, para citar alguns exemplos. Isso sem contar as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil, as quais certamente não aconteceram em defesa das instituições de mercado. Ou, então, a ascensão de nomes assumidamente socialistas como potenciais vencedores nacionais nas disputas eleitorais dos EUA (Bernie Sanders) e Inglaterra (Jeremy Corbyn). Se essa quantidade de fenômenos sociais antimercado não indica que esse sistema econômico está em crise, o que mais indicaria, caro Fabio?
Outro desses devotos de mercado na reportagem é o economista Sergio Besserman Vianna, o qual sugere, por exemplo, a precificação do meio ambiente como solução para uma retomada da economia brasileira.
Para sustentar seu argumento, ele canta louvores à nossa matriz energética (supostamente) limpa e a capacidade brasileira de produzir alimentos. Seria interessante que o economista Sergio observasse um pouco mais de perto o processo pelo qual nossas hidrelétricas produzem energia, pois é provável que ele veja as coisas de um modo mais manchado de sangue e lágrimas.
Ou, então, o que significaria alavancar nossa capacidade produtora de alimentos sem reestruturarmos as relações de produção e propriedade no campo. Até porque, como mostra o Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, quem de fato produz alimentos para consumo interno é majoritariamente a agricultura familiar, a mesma que possui cerca de 25% das terras cultiváveis ocupando por volta de 75% dos trabalhadores do campo.
Por outro lado, o latifúndio detém cerca de 75% das terras cultiváveis ocupando meros 25% dos trabalhadores rurais. Seria quase um pleonasmo vicioso dizer que o latifúndio e suas organizações de classe exaltam o deus Mercado, independentemente da destruição de vidas camponesas e da diversidade ambiental implícitas às demandas de Deus Mercado. Basta ver quem é o atual ministro da Agricultura, Pesca e Abastecimento, o senhor Blairo Maggi, um dos maiores latifundiários do Brasil.
Ao contrário do que os economistas de mercado dizem, economia e política não são coisas distintas. Toda crise exige soluções políticas, as quais não são neutras ou apartidárias. Cada proposta revela ao mesmo tempo sua devoção religiosa e a dos economistas de mercado é a da sustentação do capitalismo.
Dito de outra forma, o que tais profissionais sugerem é, para citar as palavras de Eduardo Galeano, a mesma opção que um cozinheiro dá às aves que irá cozinhar. Nesses termos, a única opção possível é escolhermos com qual molho deus Mercado nos comerá. Pessoalmente, eu gostaria de saber por que os clérigos da igreja do deus Mercado insistem em entregar os historicamente marginalizados e oprimidos como oferenda. Até porque, convenhamos, quem decidiu que deus Mercado seria a divindade suprema?
Os economistas de mercado são pessoas curiosas. Preocupam-se com soluções possíveis desde que essas perpetuem as estruturas sociais dominantes. Como qualquer humano, esses seres têm medos, anseios e desejos, os quais, geralmente, estão representados nas distintas formas de espiritualidade. Concretamente, a religião desses economistas coloca o Mercado como rei dos deuses, cuja ânsia devoradora exige sacrifícios de tempos em tempos. Infelizmente, os sacrificados pouco importam para deus Mercado.
A edição de novembro e dezembro de 2016 da revista Rumos reporta uma síntese do debate entre vários economistas (de mercado) promovido pelo BNDES no intuito de discutir saídas para a atual crise brasileira e caminhos para o desenvolvimento. É bem verdade que nem todos ali se mostram tão comprometidos a deus Mercado, porém mesmo os mais céticos mantêm alguma crença.
Fabio Giambiagi, famoso por seus manuais sobre Economia do Setor Público e Economia Brasileira, ilustra o desfile dos mais devotos. Sua devoção é tamanha que chega ao ponto de ressignificar o conceito de “crise econômica” para “crescimento moderado em todo o mundo”, mesmo que uma série de movimentos populares tenha emergido desde 2008 denunciando exatamente as contradições e limites do capitalismo.
Apenas para pegar o período pós 2008/2009, o qual marca o detonamento da atual crise mundial, grandes protestos antimercado despontaram mundo afora. No Chile, em defesa da educação pública. Os movimentos Occupy contra a desigualdade e a mercantilização da democracia, que se espalharam desde 2011 de Wall Street para todos os continentes. Teve, também, aqueles especificamente contra a austeridade econômica na Grécia, Irlanda, Itália, Portugal, Espanha, Reino Unido e Canadá, para citar alguns exemplos. Isso sem contar as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil, as quais certamente não aconteceram em defesa das instituições de mercado. Ou, então, a ascensão de nomes assumidamente socialistas como potenciais vencedores nacionais nas disputas eleitorais dos EUA (Bernie Sanders) e Inglaterra (Jeremy Corbyn). Se essa quantidade de fenômenos sociais antimercado não indica que esse sistema econômico está em crise, o que mais indicaria, caro Fabio?
Outro desses devotos de mercado na reportagem é o economista Sergio Besserman Vianna, o qual sugere, por exemplo, a precificação do meio ambiente como solução para uma retomada da economia brasileira.
Para sustentar seu argumento, ele canta louvores à nossa matriz energética (supostamente) limpa e a capacidade brasileira de produzir alimentos. Seria interessante que o economista Sergio observasse um pouco mais de perto o processo pelo qual nossas hidrelétricas produzem energia, pois é provável que ele veja as coisas de um modo mais manchado de sangue e lágrimas.
Ou, então, o que significaria alavancar nossa capacidade produtora de alimentos sem reestruturarmos as relações de produção e propriedade no campo. Até porque, como mostra o Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, quem de fato produz alimentos para consumo interno é majoritariamente a agricultura familiar, a mesma que possui cerca de 25% das terras cultiváveis ocupando por volta de 75% dos trabalhadores do campo.
Por outro lado, o latifúndio detém cerca de 75% das terras cultiváveis ocupando meros 25% dos trabalhadores rurais. Seria quase um pleonasmo vicioso dizer que o latifúndio e suas organizações de classe exaltam o deus Mercado, independentemente da destruição de vidas camponesas e da diversidade ambiental implícitas às demandas de Deus Mercado. Basta ver quem é o atual ministro da Agricultura, Pesca e Abastecimento, o senhor Blairo Maggi, um dos maiores latifundiários do Brasil.
Ao contrário do que os economistas de mercado dizem, economia e política não são coisas distintas. Toda crise exige soluções políticas, as quais não são neutras ou apartidárias. Cada proposta revela ao mesmo tempo sua devoção religiosa e a dos economistas de mercado é a da sustentação do capitalismo.
Dito de outra forma, o que tais profissionais sugerem é, para citar as palavras de Eduardo Galeano, a mesma opção que um cozinheiro dá às aves que irá cozinhar. Nesses termos, a única opção possível é escolhermos com qual molho deus Mercado nos comerá. Pessoalmente, eu gostaria de saber por que os clérigos da igreja do deus Mercado insistem em entregar os historicamente marginalizados e oprimidos como oferenda. Até porque, convenhamos, quem decidiu que deus Mercado seria a divindade suprema?
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