Por Altamiro Borges
No final de junho, o colunista Ricardo Feltrin postou no UOL: “Nos últimos sete anos os salários em quase todos os setores da Globo caíram muito ou sofreram mudanças trabalhistas, de forma que a emissora gastasse menos. Isso aconteceu também na dramaturgia, onde contratos nababescos e ou de longa duração são hoje uma exceção”. Especialista em mídia, ele citou um caso concreto. “De todo o setor da dramaturgia, o que sofreu o maior ‘baque’ foi a produção de ‘Malhação’. Um dos mais importantes produtos da casa, ‘Malhação’ tem um histórico de gerar muitos talentos para a Globo nos últimos 22 anos”.
“Até o início desta década, além de ser uma ótima oportunidade profissional e do status em si, trabalhar em ‘Malhação’ dava ótimos salários, que não raro eram de dois dígitos. Bom, mas esses anos dourados acabaram. Na temporada atual, segundo levantamento feito pela coluna, atrizes centrais como Gabriela Medvedovski (Keyla), Manoela Aliperti (Lica), Heslaine Vieira (Ellen), entre outras, ganham entre R$ 4.000 e R$ 4.500 mensais (por obra ou temporada). Está longe de ser um salário baixo para jovens profissionais, mas é bem menos da metade do que a Globo pagava em 2010 para o primeiro escalão de sua novelinha teen. Atores e atrizes secundários da história, porém, podem receber menos da metade disso (R$ 2.000)”.
O arrocho não atingiu somente as estrelas da Globo. “Em ‘Malhação’, os ganhos não caíram só para artistas, mas também na produção. Um diretor de cenas externas sete anos atrás ganhava até R$ 16 mil. Hoje mal chega à metade. Uma produtora em 2010 ganhava o equivalente hoje a R$ 10 mil, e era contratada. Hoje, não chega a R$ 5.000. E provavelmente ela é PJ. Houve uma mudança radical na emissora na questão trabalhista. Muitos setores que no passado eram formados por funcionários registrados em carteira hoje são ocupados por ‘unidades’ de pessoas jurídicas. Até mesmo o cachê de figurantes, que são todos terceirizados, foi achatado. Em alguns casos os figurantes recebem apenas R$ 60 por um dia inteiro de gravação”.
Efeitos da crise econômica
No final do seu artigo, Ricardo Feltrin até tentou aliviar a barra dos filhos de Roberto Marinho – eleitos pela revista Fortune como as maiores fortunas do Brasil. “A queda nos cachês e salários nos últimos anos impressiona, mas é importante lembrar que isso decorre de ajustes do Grupo Globo ao que ele considera a realidade da economia ano após ano. A Globo não está sendo perversa. Cortar gastos é a regra em qualquer corporação. Não se trata de uma questão moral, mas de saúde financeira. Mas, de fato, chama a atenção que artistas que estão no ar em rede nacional ganhem tão pouco”.
Já no início deste mês de agosto, outras duas notinhas confirmaram as dificuldades da emissora, que são decorrentes – entre outros fatores – do agravamento da crise econômica no país que a famiglia Marinho tenta esconder dos seus telespectadores. Na terça-feira (1), o site UOL informou que “a Globo não renovou o contrato com Fernanda Souza, assim como tem feito com vários atores da emissora ao optar assinar contratos por obra. Após 18 anos e participações em mais de 10 novelas, Fernanda continua contratada apenas do Multishow, da Globosat, onde apresenta o ‘Vai Fernandinha’”.
E na quinta-feira (3), o mesmo Ricardo Feltrin relatou que a crise não afeta apenas o setor de dramaturgia. A área de esportes, que sempre rendeu muita grana à famiglia Marinho, também patina. “A Globo acaba de apresentar ao mercado publicitário a sua proposta de patrocínio para a Copa da Rússia 2018. Ela está colocando seis cotas de patrocínio ‘master’ à venda, cada uma por R$ 180 milhões (valor de tabela cheia). Se vender as seis, a emissora espera faturar cerca de R$ 1,08 bilhão. Isso representará uma queda em torno de 25% em relação ao faturamento na Copa do Mundo no Brasil... Uma das explicações possíveis para essa redução de expectativas da Globo é que ela enfrenta, como todos os negócios, a crise econômica no país”.
Outras TVs estão na UTI
Mas não é apenas a poderosa Rede Globo que sente os efeitos do agravamento da crise. Toda a mídia hegemônica, que protagonizou o golpe que alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer, achava que iria se safar das dificuldades com as benesses do governo. Além da motivação política-ideológica, ela conspirou contra a democracia por razões mercenárias. Esta manobra, porém, não deu certo e vários veículos estão afundando. Como aponta Flávio Ricco, em matéria postada no UOL, várias emissoras já estão na UTI. “A situação de algumas TVs ainda não é desesperadora, mas está bem perto disso”.
“A Band, por exemplo, sobrevive e consegue fazer frente a alguns dos seus compromissos, graças ao que arrecada com igrejas e empresas como a Avatar, uma das responsáveis pelos caça-palavras. Só o ‘MasterChef’, como produção própria e rentável, não segura. Assim como ela, a RedeTV!, Rede Brasil e outras tantas, já de algum tempo, têm sobrevivido devido ao comércio da venda de horários, prática que também contribuiu de forma bem importante para que chegassem ao estágio em que se encontram. É muito triste. Mas absolutamente coerente dizer que a televisão no Brasil, exceção feita às três principais, Globo, SBT e Record, está na UTI. E em estado muito delicado”.
O texto acima foi publicado em junho. Já nesta terça-feira (8), o mesmo colunista realçou que nem o mercenário Silvio Santos está salvo. “Consumando o que já se ensaiava, o SBT promoveu várias demissões na semana passada, reduzindo a operação de quase todas as suas produções. Entre elas, a do Ratinho. Nem a condição de vice-líder diário o desobrigou de diminuir os seus quadros, com isso criando dúvidas de como será o seu funcionamento a partir de agora. E se terá condição de manter esta posição, no instante em que passa a contar com apenas um roteirista, uma assistente e nenhum diretor de externas”.
*****
Leia também:
- Audiência da TV Globo está derretendo!
- Futebol despenca em audiência na Globo
- Temer taxa Netflix. Globo agradece!
- Mídia mercenária. O golpe compensa!
- A força crescente da internet no Brasil
- A crise da imprensa e do jornalismo
- “Companheiro-patrão” esfola jornalistas
- Nem o “mensalão” do Temer salva a Veja
- A queda de influência dos jornais e TVs
- Que tal TVs voltarem a pagar ICMS?
- Porque os grupos de mídia atacam os blogs
No final de junho, o colunista Ricardo Feltrin postou no UOL: “Nos últimos sete anos os salários em quase todos os setores da Globo caíram muito ou sofreram mudanças trabalhistas, de forma que a emissora gastasse menos. Isso aconteceu também na dramaturgia, onde contratos nababescos e ou de longa duração são hoje uma exceção”. Especialista em mídia, ele citou um caso concreto. “De todo o setor da dramaturgia, o que sofreu o maior ‘baque’ foi a produção de ‘Malhação’. Um dos mais importantes produtos da casa, ‘Malhação’ tem um histórico de gerar muitos talentos para a Globo nos últimos 22 anos”.
“Até o início desta década, além de ser uma ótima oportunidade profissional e do status em si, trabalhar em ‘Malhação’ dava ótimos salários, que não raro eram de dois dígitos. Bom, mas esses anos dourados acabaram. Na temporada atual, segundo levantamento feito pela coluna, atrizes centrais como Gabriela Medvedovski (Keyla), Manoela Aliperti (Lica), Heslaine Vieira (Ellen), entre outras, ganham entre R$ 4.000 e R$ 4.500 mensais (por obra ou temporada). Está longe de ser um salário baixo para jovens profissionais, mas é bem menos da metade do que a Globo pagava em 2010 para o primeiro escalão de sua novelinha teen. Atores e atrizes secundários da história, porém, podem receber menos da metade disso (R$ 2.000)”.
O arrocho não atingiu somente as estrelas da Globo. “Em ‘Malhação’, os ganhos não caíram só para artistas, mas também na produção. Um diretor de cenas externas sete anos atrás ganhava até R$ 16 mil. Hoje mal chega à metade. Uma produtora em 2010 ganhava o equivalente hoje a R$ 10 mil, e era contratada. Hoje, não chega a R$ 5.000. E provavelmente ela é PJ. Houve uma mudança radical na emissora na questão trabalhista. Muitos setores que no passado eram formados por funcionários registrados em carteira hoje são ocupados por ‘unidades’ de pessoas jurídicas. Até mesmo o cachê de figurantes, que são todos terceirizados, foi achatado. Em alguns casos os figurantes recebem apenas R$ 60 por um dia inteiro de gravação”.
Efeitos da crise econômica
No final do seu artigo, Ricardo Feltrin até tentou aliviar a barra dos filhos de Roberto Marinho – eleitos pela revista Fortune como as maiores fortunas do Brasil. “A queda nos cachês e salários nos últimos anos impressiona, mas é importante lembrar que isso decorre de ajustes do Grupo Globo ao que ele considera a realidade da economia ano após ano. A Globo não está sendo perversa. Cortar gastos é a regra em qualquer corporação. Não se trata de uma questão moral, mas de saúde financeira. Mas, de fato, chama a atenção que artistas que estão no ar em rede nacional ganhem tão pouco”.
Já no início deste mês de agosto, outras duas notinhas confirmaram as dificuldades da emissora, que são decorrentes – entre outros fatores – do agravamento da crise econômica no país que a famiglia Marinho tenta esconder dos seus telespectadores. Na terça-feira (1), o site UOL informou que “a Globo não renovou o contrato com Fernanda Souza, assim como tem feito com vários atores da emissora ao optar assinar contratos por obra. Após 18 anos e participações em mais de 10 novelas, Fernanda continua contratada apenas do Multishow, da Globosat, onde apresenta o ‘Vai Fernandinha’”.
E na quinta-feira (3), o mesmo Ricardo Feltrin relatou que a crise não afeta apenas o setor de dramaturgia. A área de esportes, que sempre rendeu muita grana à famiglia Marinho, também patina. “A Globo acaba de apresentar ao mercado publicitário a sua proposta de patrocínio para a Copa da Rússia 2018. Ela está colocando seis cotas de patrocínio ‘master’ à venda, cada uma por R$ 180 milhões (valor de tabela cheia). Se vender as seis, a emissora espera faturar cerca de R$ 1,08 bilhão. Isso representará uma queda em torno de 25% em relação ao faturamento na Copa do Mundo no Brasil... Uma das explicações possíveis para essa redução de expectativas da Globo é que ela enfrenta, como todos os negócios, a crise econômica no país”.
Outras TVs estão na UTI
Mas não é apenas a poderosa Rede Globo que sente os efeitos do agravamento da crise. Toda a mídia hegemônica, que protagonizou o golpe que alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer, achava que iria se safar das dificuldades com as benesses do governo. Além da motivação política-ideológica, ela conspirou contra a democracia por razões mercenárias. Esta manobra, porém, não deu certo e vários veículos estão afundando. Como aponta Flávio Ricco, em matéria postada no UOL, várias emissoras já estão na UTI. “A situação de algumas TVs ainda não é desesperadora, mas está bem perto disso”.
“A Band, por exemplo, sobrevive e consegue fazer frente a alguns dos seus compromissos, graças ao que arrecada com igrejas e empresas como a Avatar, uma das responsáveis pelos caça-palavras. Só o ‘MasterChef’, como produção própria e rentável, não segura. Assim como ela, a RedeTV!, Rede Brasil e outras tantas, já de algum tempo, têm sobrevivido devido ao comércio da venda de horários, prática que também contribuiu de forma bem importante para que chegassem ao estágio em que se encontram. É muito triste. Mas absolutamente coerente dizer que a televisão no Brasil, exceção feita às três principais, Globo, SBT e Record, está na UTI. E em estado muito delicado”.
O texto acima foi publicado em junho. Já nesta terça-feira (8), o mesmo colunista realçou que nem o mercenário Silvio Santos está salvo. “Consumando o que já se ensaiava, o SBT promoveu várias demissões na semana passada, reduzindo a operação de quase todas as suas produções. Entre elas, a do Ratinho. Nem a condição de vice-líder diário o desobrigou de diminuir os seus quadros, com isso criando dúvidas de como será o seu funcionamento a partir de agora. E se terá condição de manter esta posição, no instante em que passa a contar com apenas um roteirista, uma assistente e nenhum diretor de externas”.
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Leia também:
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