Por Flaviana Serafim, no site do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo:
“Os jornalistas e a crise política brasileira” foi o tema da plenária de abertura do 15º Congresso Estadual dos Jornalistas, que começou na noite desta sexta (4) e segue até domingo (6) no auditório Vladimir Herzog, sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), no centro da capital paulista.
O debate contou com a participação do jornalista Altamiro Borges, do Blog do Miro, de Douglas Izzo, presidente da CUT São Paulo, da jornalista Laura Capriglione, do coletivo “Jornalistas Livres”, do professor Laurindo Leal Filho, o Lalo, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, de José Augusto Camargo, vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), além de Paulo Zocchi, presidente do Sindicato.
A discussão foi mediada por Lilian Parise, secretária de Comunicação e Cultura do SJSP e, na cerimônia de abertura, Renê Vicente, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), fez uma saudação aos e às congressistas.
O cenário de crise política e institucional se aprofunda no país, agravando a realidade do conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras diante da ampla retirada de direitos. No caso dos jornalistas, o impacto ocorre duplamente, como apontaram os debatedores – reflete nas garantias e condições de trabalho do cotidiano e, ainda, na própria cobertura jornalística, com censura interna, perda do papel social da comunicação e quebra de sigilo da fonte pelo judiciário.
Como a reforma trabalhista entra em vigor a partir de novembro próximo, o segundo semestre é de mobilização para reagir às medidas, garante o presidente do Sindicato dos Jornalistas. Para o dirigente, as questões da esfera trabalhista passam pela luta política e com organização da categoria para reagir.
“Vamos entrar no segundo semestre com greve geral e outras ações contra a reforma, unidos ao conjunto da classe trabalhadora. Já somos uma categoria precarizada pela pejotização e pelas demissões em massa e teremos um trabalho enorme para manter nossos direitos garantidos nas convenções coletivas, mas vamos reagir ao acirramento do golpe”, disse Zocchi.
Disputa de narrativas
Para Laura Capriglione, “a crise do jornalismo também tem a ver com o fato de que as empresas de comunicação viraram as cotas para uma parcela da população dizendo ‘não queremos vocês’ aos 54 milhões de votos de Dilma. As pessoas caíram fora disso e não encontraram representatividade nenhuma nessa mídia que vemos aí na Folha de S. Paulo, na Rede Globo e em outras empresas de reputação ‘ilibada’”.
Nessa conjuntura, a fundadora dos “Jornalistas Livres” destacou a relevância da mídia independente para contrapor e disputar as narrativas da mídia tradicional que tem apoiado tanto o golpe à democracia quanto a retirada de direitos trabalhistas.
“Derrubamos a ditadura com meia dúzia de jornais independentes, eram meia dúzia de valorosos guerreiros. Hoje a mídia independente não é meia dúzia, são cerca de dois mil veículos que alcançam milhões de pessoas. Isso é uma riqueza e a baixa popularidade de Temer é trabalho, em boa parte, do que a mídia independente está fazendo”, pontuou.
Para Douglas Izzo, apesar do cenário de dificuldades, “o momento é rico para fazer o debate e construir perspectivas para os jornalistas. Mesmo antes da reforma já era uma categoria afetada pela pejotização, pelo assédio moral, pelas péssimas condições de trabalho esse é um momento de muita reflexão para defesa de direitos”, afirmou.
O presidente da CUT São Paulo, destacou ainda que, diante do golpe, os movimentos sociais também investiram numa mídia independente. “Estamos apostando também em uma guerrilha da comunicação como contraponto da narrativa tradicional”, completou.
Miro Borges apontou o papel central dos donos da mídia no golpe e disse que “sem essa mídia, dificilmente o juiz Sergio Moro teria visibilidade. Essa mídia também explica um parlamento acovardado e a multiplicação da bancada da bala e da bíblia”, criticou.
“Esse projeto golpista começa a ter problemas e a divisão começa a aparecer na própria mídia. Com Michel Temer, o projeto neoliberal corre risco, pois a economia vai afundar cada vez mais e, com isso, Lula se projeta. A Globo tomou a dianteira, mas há outro setor da mídia que acha extremamente arriscado tirar Temer, como a Band e a bancada do agronegócio, e o Estadão e a burguesia industrial paulista. É uma área que precisamos entender porque o que estava coeso agora já não está mais”, observa o blogueiro.
Jornalista é trabalhador
Nesse enfrentamento à crise que afeta o Brasil e o jornalismo, há uma ideia essencial que precisa ser recuperada na opinião do professor Lalo. “Os jornalistas, assim como médicos e engenheiros, se consideram desvinculados da relação fundamental de trabalho e isso precisa ser rediscutidos. Somos trabalhadores que se equiparam a qualquer outro, basta ver a importância que o Sindicato dos Jornalistas teve na luta pela redemocratização e nas lutas de outras categorias, como bancários e metalúrgicos”.
Além dessa conscientização, diz o professor, também é imprescindível que os jornalistas tenham dimensão do que é “produzir uma mercadoria diferenciada, que tem impacto, apesar das amarras dos patrões e das empresas, sobre um trabalho mais autônomo dos jornalistas. Essa relação com esse tipo de mercadoria é fundamental”, afirmou.
Como tarefa para o Sindicato dos Jornalistas, o professor Lalo apontou a necessidade de aproximação da entidade com os estudantes de comunicação, pois hoje a formação está cada vez mais voltada ao mercado “sem uma leitura crítica da comunicação, sem falar da importância do papel social da comunicação e do comunicador”.
Vice-presidente da Fenaj, Guto Camargo chamou atenção para o item da reforma trabalhista que define como “hipersuficiente” o empregado que tem curso superior e ganha mais de dois tetos da Previdência, hoje cerca de R$ 11 mil, pois esse trabalhador passa a negociar individualmente com a empresa, sem a proteção do Sindicato.
“Há um universo profissional nos veículos de comunicação que ganha mais que esse valor. É uma questão nas grandes empresas, pois há um espectro médio das redações que vai ser atingido. É um problema particularmente sério para algumas categorias e a nossa é uma delas”, concluiu.
“Os jornalistas e a crise política brasileira” foi o tema da plenária de abertura do 15º Congresso Estadual dos Jornalistas, que começou na noite desta sexta (4) e segue até domingo (6) no auditório Vladimir Herzog, sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), no centro da capital paulista.
O debate contou com a participação do jornalista Altamiro Borges, do Blog do Miro, de Douglas Izzo, presidente da CUT São Paulo, da jornalista Laura Capriglione, do coletivo “Jornalistas Livres”, do professor Laurindo Leal Filho, o Lalo, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, de José Augusto Camargo, vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), além de Paulo Zocchi, presidente do Sindicato.
A discussão foi mediada por Lilian Parise, secretária de Comunicação e Cultura do SJSP e, na cerimônia de abertura, Renê Vicente, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), fez uma saudação aos e às congressistas.
O cenário de crise política e institucional se aprofunda no país, agravando a realidade do conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras diante da ampla retirada de direitos. No caso dos jornalistas, o impacto ocorre duplamente, como apontaram os debatedores – reflete nas garantias e condições de trabalho do cotidiano e, ainda, na própria cobertura jornalística, com censura interna, perda do papel social da comunicação e quebra de sigilo da fonte pelo judiciário.
Como a reforma trabalhista entra em vigor a partir de novembro próximo, o segundo semestre é de mobilização para reagir às medidas, garante o presidente do Sindicato dos Jornalistas. Para o dirigente, as questões da esfera trabalhista passam pela luta política e com organização da categoria para reagir.
“Vamos entrar no segundo semestre com greve geral e outras ações contra a reforma, unidos ao conjunto da classe trabalhadora. Já somos uma categoria precarizada pela pejotização e pelas demissões em massa e teremos um trabalho enorme para manter nossos direitos garantidos nas convenções coletivas, mas vamos reagir ao acirramento do golpe”, disse Zocchi.
Disputa de narrativas
Para Laura Capriglione, “a crise do jornalismo também tem a ver com o fato de que as empresas de comunicação viraram as cotas para uma parcela da população dizendo ‘não queremos vocês’ aos 54 milhões de votos de Dilma. As pessoas caíram fora disso e não encontraram representatividade nenhuma nessa mídia que vemos aí na Folha de S. Paulo, na Rede Globo e em outras empresas de reputação ‘ilibada’”.
Nessa conjuntura, a fundadora dos “Jornalistas Livres” destacou a relevância da mídia independente para contrapor e disputar as narrativas da mídia tradicional que tem apoiado tanto o golpe à democracia quanto a retirada de direitos trabalhistas.
“Derrubamos a ditadura com meia dúzia de jornais independentes, eram meia dúzia de valorosos guerreiros. Hoje a mídia independente não é meia dúzia, são cerca de dois mil veículos que alcançam milhões de pessoas. Isso é uma riqueza e a baixa popularidade de Temer é trabalho, em boa parte, do que a mídia independente está fazendo”, pontuou.
Para Douglas Izzo, apesar do cenário de dificuldades, “o momento é rico para fazer o debate e construir perspectivas para os jornalistas. Mesmo antes da reforma já era uma categoria afetada pela pejotização, pelo assédio moral, pelas péssimas condições de trabalho esse é um momento de muita reflexão para defesa de direitos”, afirmou.
O presidente da CUT São Paulo, destacou ainda que, diante do golpe, os movimentos sociais também investiram numa mídia independente. “Estamos apostando também em uma guerrilha da comunicação como contraponto da narrativa tradicional”, completou.
Miro Borges apontou o papel central dos donos da mídia no golpe e disse que “sem essa mídia, dificilmente o juiz Sergio Moro teria visibilidade. Essa mídia também explica um parlamento acovardado e a multiplicação da bancada da bala e da bíblia”, criticou.
“Esse projeto golpista começa a ter problemas e a divisão começa a aparecer na própria mídia. Com Michel Temer, o projeto neoliberal corre risco, pois a economia vai afundar cada vez mais e, com isso, Lula se projeta. A Globo tomou a dianteira, mas há outro setor da mídia que acha extremamente arriscado tirar Temer, como a Band e a bancada do agronegócio, e o Estadão e a burguesia industrial paulista. É uma área que precisamos entender porque o que estava coeso agora já não está mais”, observa o blogueiro.
Jornalista é trabalhador
Nesse enfrentamento à crise que afeta o Brasil e o jornalismo, há uma ideia essencial que precisa ser recuperada na opinião do professor Lalo. “Os jornalistas, assim como médicos e engenheiros, se consideram desvinculados da relação fundamental de trabalho e isso precisa ser rediscutidos. Somos trabalhadores que se equiparam a qualquer outro, basta ver a importância que o Sindicato dos Jornalistas teve na luta pela redemocratização e nas lutas de outras categorias, como bancários e metalúrgicos”.
Além dessa conscientização, diz o professor, também é imprescindível que os jornalistas tenham dimensão do que é “produzir uma mercadoria diferenciada, que tem impacto, apesar das amarras dos patrões e das empresas, sobre um trabalho mais autônomo dos jornalistas. Essa relação com esse tipo de mercadoria é fundamental”, afirmou.
Como tarefa para o Sindicato dos Jornalistas, o professor Lalo apontou a necessidade de aproximação da entidade com os estudantes de comunicação, pois hoje a formação está cada vez mais voltada ao mercado “sem uma leitura crítica da comunicação, sem falar da importância do papel social da comunicação e do comunicador”.
Vice-presidente da Fenaj, Guto Camargo chamou atenção para o item da reforma trabalhista que define como “hipersuficiente” o empregado que tem curso superior e ganha mais de dois tetos da Previdência, hoje cerca de R$ 11 mil, pois esse trabalhador passa a negociar individualmente com a empresa, sem a proteção do Sindicato.
“Há um universo profissional nos veículos de comunicação que ganha mais que esse valor. É uma questão nas grandes empresas, pois há um espectro médio das redações que vai ser atingido. É um problema particularmente sério para algumas categorias e a nossa é uma delas”, concluiu.
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