Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil:
A expressão "jornalismo de guerra" aparece no livro Clarín, La Era de Magnetto, escrito por Martin Sivak, publicado em Buenos Aires. Segundo o autor, o Clarín (espécie de O Globo, argentino) "mudou sua forma de fazer política e passou a fazer um jornalismo de guerra", referindo-se à dura campanha desencadeada contra o governo de Cristina Kirchner. O próprio jornal, através de um de seus editores, Julian Blanck, reconheceu essa prática.
Vê-se agora que ela não é exclusividade do Clarín nem da Argentina. A eleição para formar a Assembléia Constituinte, convocada pelo governo da Venezuela e realizada no dia 31 de julho, mostrou que o "jornalismo de guerra" se espalha pelo mundo.
Formou-se quase uma unanimidade internacional midiática contra o governo venezuelano, tornando mais agudos e profundos os ataques que já eram constantes desde o início do primeiro mandato do presidente Hugo Chávez.
Um modelo político e econômico na América Latina que amplie a participação da população nas decisões do Estado e estenda benefícios sociais a parcelas maiores dessa mesma população é inconcebível para esses meios de comunicação.
A convocação da Constituinte foi, para eles, uma afronta. Não admitem uma organização política e social cuja formulação tenha origem em representações abrangentes da sociedade. Uma discussão que passa longe da mídia tradicional. Aqui no Brasil, como em vários outros países, a mídia praticamente escondeu aquilo que era o mais importante e a grande inovação de todo o processo: a forma de composição da nova Assembléia.
Foram eleitos 545 constituintes, dos quais 364 representam os municípios venezuelanos (um por município, dois por capital de estado e sete por Caracas, a capital do pais) e outros 181 dividem-se em 79 trabalhadores da ativa, 28 aposentados, oito camponeses/pescadores, oito indígenas, cinco pessoas com deficiência, cinco empresários, 24 estudantes e 24 representantes de conselhos comunais. Algo muito distante das bancadas brasileiras do boi, da bíblia, da bala e assemelhadas que ocupam o Congresso Nacional e deturpam a representação popular.
A ousada iniciativa venezuelana mereceria não apenas a informação pura e simples, mas uma discussão aprofundada em entrevistas e debates no rádio, na TV, em jornais e revistas. O que se viu não foi nada disso. A mídia brasileira, e outras pelo mundo, reduziu a experiência da Venezuela a cenas de violência e a depoimentos escolhidos a dedo, extraídos de opositores do atual governo.
Em alguns jornais ficou clara a decisão do repórter de só circular por bairros ricos de Caracas onde a oposição ao governo e o repúdio à Constituinte era forte. Não se deu ao trabalho de ouvir pelo menos um, dos mais 8 milhões de venezuelanos que foram às urnas.
Seria o mínimo a se esperar de uma cobertura jornalística de qualidade. Mas poderíamos produzir muito mais, com mais seriedade e menos propaganda política. Penso num programa de TV que esmiuçasse o processo eleitoral da Venezuela, com um breve documentário explicativo seguido de um debate com especialistas aprofundando o tema. Indo além das eleições e enveredando pelo papel que a nova Constituição terá no enfrentamento dos difíceis problemas vividos pelo país. Dessa forma a televisão estaria cumprindo sua vocação de serviço público, aproximando o telespectador brasileiro de uma realidade que está ao nosso lado mas que nos chega, quase sempre, enviesada.
Infelizmente, por aqui não existe esse compromisso. A Venezuela nas telas de nossa é TV é um país convulsionado, onde bombas são jogadas sobre policiais e os autores desses atentados não são identificados, simplesmente porque fazem oposição ao atual governo. Sem falar nos chamados comentaristas, sempre prontos a rezar pela mesma cartilha oposicionista, alguns até em tom de deboche.
É lamentável mas não somos os únicos a deparar com esse tipo de "jornalismo de guerra". Em Portugal, o sociólogo Boaventura Sousa Santos disse ao jornal Público "sentir-se chocado com a parcialidade da comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela, um enviesamento que recorre a todos os meios para demonizar um governo legitimamente eleito, atiçar o incêndio social e político e legitimar uma intervenção estrangeira de consequências incalculáveis".
Vê-se agora que ela não é exclusividade do Clarín nem da Argentina. A eleição para formar a Assembléia Constituinte, convocada pelo governo da Venezuela e realizada no dia 31 de julho, mostrou que o "jornalismo de guerra" se espalha pelo mundo.
Formou-se quase uma unanimidade internacional midiática contra o governo venezuelano, tornando mais agudos e profundos os ataques que já eram constantes desde o início do primeiro mandato do presidente Hugo Chávez.
Um modelo político e econômico na América Latina que amplie a participação da população nas decisões do Estado e estenda benefícios sociais a parcelas maiores dessa mesma população é inconcebível para esses meios de comunicação.
A convocação da Constituinte foi, para eles, uma afronta. Não admitem uma organização política e social cuja formulação tenha origem em representações abrangentes da sociedade. Uma discussão que passa longe da mídia tradicional. Aqui no Brasil, como em vários outros países, a mídia praticamente escondeu aquilo que era o mais importante e a grande inovação de todo o processo: a forma de composição da nova Assembléia.
Foram eleitos 545 constituintes, dos quais 364 representam os municípios venezuelanos (um por município, dois por capital de estado e sete por Caracas, a capital do pais) e outros 181 dividem-se em 79 trabalhadores da ativa, 28 aposentados, oito camponeses/pescadores, oito indígenas, cinco pessoas com deficiência, cinco empresários, 24 estudantes e 24 representantes de conselhos comunais. Algo muito distante das bancadas brasileiras do boi, da bíblia, da bala e assemelhadas que ocupam o Congresso Nacional e deturpam a representação popular.
A ousada iniciativa venezuelana mereceria não apenas a informação pura e simples, mas uma discussão aprofundada em entrevistas e debates no rádio, na TV, em jornais e revistas. O que se viu não foi nada disso. A mídia brasileira, e outras pelo mundo, reduziu a experiência da Venezuela a cenas de violência e a depoimentos escolhidos a dedo, extraídos de opositores do atual governo.
Em alguns jornais ficou clara a decisão do repórter de só circular por bairros ricos de Caracas onde a oposição ao governo e o repúdio à Constituinte era forte. Não se deu ao trabalho de ouvir pelo menos um, dos mais 8 milhões de venezuelanos que foram às urnas.
Seria o mínimo a se esperar de uma cobertura jornalística de qualidade. Mas poderíamos produzir muito mais, com mais seriedade e menos propaganda política. Penso num programa de TV que esmiuçasse o processo eleitoral da Venezuela, com um breve documentário explicativo seguido de um debate com especialistas aprofundando o tema. Indo além das eleições e enveredando pelo papel que a nova Constituição terá no enfrentamento dos difíceis problemas vividos pelo país. Dessa forma a televisão estaria cumprindo sua vocação de serviço público, aproximando o telespectador brasileiro de uma realidade que está ao nosso lado mas que nos chega, quase sempre, enviesada.
Infelizmente, por aqui não existe esse compromisso. A Venezuela nas telas de nossa é TV é um país convulsionado, onde bombas são jogadas sobre policiais e os autores desses atentados não são identificados, simplesmente porque fazem oposição ao atual governo. Sem falar nos chamados comentaristas, sempre prontos a rezar pela mesma cartilha oposicionista, alguns até em tom de deboche.
É lamentável mas não somos os únicos a deparar com esse tipo de "jornalismo de guerra". Em Portugal, o sociólogo Boaventura Sousa Santos disse ao jornal Público "sentir-se chocado com a parcialidade da comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela, um enviesamento que recorre a todos os meios para demonizar um governo legitimamente eleito, atiçar o incêndio social e político e legitimar uma intervenção estrangeira de consequências incalculáveis".
1 comentários:
O capitalismo internacional, reacionario e ganancioso, comandado pelos EUA que se julga dono do planeta, tal como fez aqui no Brsil em 2015 e 2016, esta' de olho no petroleo venezuelano e procura, por todos os meios, desestabilizar o governo de Maduro, acusando-o de violar a constituicao. Como pode um violador da constituicao convocar legalmente uma constituinte e ser um ditador ? So na cabeca destes idiotizados da midia reacionaria que nao admitem uma Venezuela rica em petroleo ser governada pelo povo venezuelano e faz de tudo para derrotar o governo democratico bolivariano que luta por uma Venezuela que defende as suas ricas reservas de petroleo contra a cobica norte-americana e de petroleiras internacionais. O que nao acontece no democratico Brasil de Aloizio Nunes Ferreira,vergonha da diplomacia brasileira !
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