Por Fábio Terra, na revista CartaCapital:
A zebra não é um dos animais do jogo do bicho. Por isso, é um resultado impossível e serve como metáfora para aquilo que ninguém esperava acontecer. Pois bem, é comum nas análises sobre as eleições de 2018 ouvir-se que o pré-candidato Jair Bolsonaro é zebra, mesmo com o desempenho crescente dele nas pesquisas recentes. Será? Pelo menos quatro fatores fazem crer que Bolsonaro imprimirá uma concorrência verdadeira nas eleições de 2018 e, assim, ele está no conjunto dos resultados possíveis.
Em primeiro lugar, diversas pesquisas mostram a violência como uma constante reclamação da população brasileira, independente do estrato de renda a que pertencem. Além disso, outro problema continuamente apontado são as drogas que, contudo, a população compreende como sendo a principal causa da violência. Ou seja, estes são problemas comumente relatados e que, para a população, estão intimamente relacionados.
Diferente de emprego e inflação, que são problemas que aparecem de acordo com a conjuntura, violência e drogas estão sempre entre as maiores queixas. Ao apontá-las como problemas constantes com que convive, a população reclama, em outros termos, segurança e ordem, e são estas as duas principais bandeiras de Bolsonaro. Daí, inclusive, seu reconhecido caráter autoritário.
O segundo elemento a favor de Bolsonaro é a desordem política. A operação Lava Jato vem confirmando o que há muito já se sabia, porém jamais de forma tão clara: a política brasileira é uma desordem plena, cujo único denominador comum reconhecido é a corrupção.
Diante de uma população desacreditada da classe política, Bolsonaro, que dela faz parte, porém ainda está ileso da Lava Jato, ganha crédito e ressonância. Quando isso se soma ao seu perfil ordenador, intransigente, autoritário, o eleitor nele encontra uma opção para seus anseios imediatos, de segurança e ordem, social e política.
O terceiro ponto é o conservadorismo, espécie de cura para o medo coletivo, fruto da sensação de insegurança e desordem. Brexit e Trump são exemplos de conservadorismos construídos a partir da sensação de desordem que, para americanos e britânicos, a globalização e seu mundo com menos fronteiras e mais imigrantes, construiu. No Brasil, a desordem tem outras naturezas, o caos político e o social, mas a resposta tem sido similar, polarização e, sobretudo, conservadorismo. E qual a escolha conservadora para 2018? Não, a resposta não será zebra.
Por fim, um último fator é Bolsonaro não se construir como o anti-Lula, para surfar na rejeição ao ex-presidente. A estratégia de ser o anti-Lula é a adotada pelo prefeito de São Paulo, João Doria. Porém, é uma estratégia que não convence, pois sugere pouco conteúdo e muito populismo, o “jogar para a torcida”.
Embora alguns achem Bolsonaro um populista no sentido ruim da palavra, como o é Doria, esta é uma análise incorreta. As falas de ordem e segurança de Bolsonaro, bem como sua marca autoritária, não são de agora, mas o acompanham desde sempre. Isso o confere uma plataforma e uma identidade, algo requerido pelos que buscam um candidato. Isso é ainda mais o caso quando há desejos conservadores mais aflorados, que normalmente temem a fluidez da modernidade.
Enfim, diversos elementos relevantes para a decisão do eleitor, que atendem seus desejos mais imediatos, porém não apenas de momento, como emprego ou salário, fazem historicamente parte da identidade política de Bolsonaro. Por sua vez, a circunstância histórica está construindo a convergência destes anseios individuais com o perfil do pré-candidato, tirando-o da condição de zebra.
A história é repleta desses matches, e nos últimos dois anos Trump e Brexit servem de exemplo. Que o exemplo sirva para não se subestimar o poder competitivo de Bolsonaro. De outra forma, a narrativa de que ele é um mito pode se transformar em verdade. Fossem tempos normais, valeriam posturas mais centrais, em termos das escolhas políticas do eleitor médio, que é o que decide a eleição. Já tempos extremos...
* Fábio Terra é professor da Universidade Federal do ABC.
Em primeiro lugar, diversas pesquisas mostram a violência como uma constante reclamação da população brasileira, independente do estrato de renda a que pertencem. Além disso, outro problema continuamente apontado são as drogas que, contudo, a população compreende como sendo a principal causa da violência. Ou seja, estes são problemas comumente relatados e que, para a população, estão intimamente relacionados.
Diferente de emprego e inflação, que são problemas que aparecem de acordo com a conjuntura, violência e drogas estão sempre entre as maiores queixas. Ao apontá-las como problemas constantes com que convive, a população reclama, em outros termos, segurança e ordem, e são estas as duas principais bandeiras de Bolsonaro. Daí, inclusive, seu reconhecido caráter autoritário.
O segundo elemento a favor de Bolsonaro é a desordem política. A operação Lava Jato vem confirmando o que há muito já se sabia, porém jamais de forma tão clara: a política brasileira é uma desordem plena, cujo único denominador comum reconhecido é a corrupção.
Diante de uma população desacreditada da classe política, Bolsonaro, que dela faz parte, porém ainda está ileso da Lava Jato, ganha crédito e ressonância. Quando isso se soma ao seu perfil ordenador, intransigente, autoritário, o eleitor nele encontra uma opção para seus anseios imediatos, de segurança e ordem, social e política.
O terceiro ponto é o conservadorismo, espécie de cura para o medo coletivo, fruto da sensação de insegurança e desordem. Brexit e Trump são exemplos de conservadorismos construídos a partir da sensação de desordem que, para americanos e britânicos, a globalização e seu mundo com menos fronteiras e mais imigrantes, construiu. No Brasil, a desordem tem outras naturezas, o caos político e o social, mas a resposta tem sido similar, polarização e, sobretudo, conservadorismo. E qual a escolha conservadora para 2018? Não, a resposta não será zebra.
Por fim, um último fator é Bolsonaro não se construir como o anti-Lula, para surfar na rejeição ao ex-presidente. A estratégia de ser o anti-Lula é a adotada pelo prefeito de São Paulo, João Doria. Porém, é uma estratégia que não convence, pois sugere pouco conteúdo e muito populismo, o “jogar para a torcida”.
Embora alguns achem Bolsonaro um populista no sentido ruim da palavra, como o é Doria, esta é uma análise incorreta. As falas de ordem e segurança de Bolsonaro, bem como sua marca autoritária, não são de agora, mas o acompanham desde sempre. Isso o confere uma plataforma e uma identidade, algo requerido pelos que buscam um candidato. Isso é ainda mais o caso quando há desejos conservadores mais aflorados, que normalmente temem a fluidez da modernidade.
Enfim, diversos elementos relevantes para a decisão do eleitor, que atendem seus desejos mais imediatos, porém não apenas de momento, como emprego ou salário, fazem historicamente parte da identidade política de Bolsonaro. Por sua vez, a circunstância histórica está construindo a convergência destes anseios individuais com o perfil do pré-candidato, tirando-o da condição de zebra.
A história é repleta desses matches, e nos últimos dois anos Trump e Brexit servem de exemplo. Que o exemplo sirva para não se subestimar o poder competitivo de Bolsonaro. De outra forma, a narrativa de que ele é um mito pode se transformar em verdade. Fossem tempos normais, valeriam posturas mais centrais, em termos das escolhas políticas do eleitor médio, que é o que decide a eleição. Já tempos extremos...
* Fábio Terra é professor da Universidade Federal do ABC.
2 comentários:
O alerta para o fato de que Bolsonaro poderá eventualmente vencer as eleições em 2018 deveria ser levado a sério por todos os que rejeitam a ideia de um governo abertamente fascista. Porém, há, a meu ver, alguns equívocos entre os fatores arrolados pelo professor, principalmente porque ele parte dos elementos integrantes do senso comum para projetá-los como fatores definidores de escolhas futuras do eleitor, desconsiderando a possibilidade destes elementos serem desconstruídos em um processo de debates políticos e ideológicos possível de ser desencadeado desde já e, sobretudo, no transcurso do pleito de 2018. A questão da violência, por exemplo, tem ampla possibilidade de se converter em um fator de conscientização política, trazendo a maioria da população para a adesão das formas de enfrentamento dessa violência propostas pela esquerda e pelos democratas e humanistas de um modo geral. Isso porque, se a esquerda e os democratas sinceros não forem capazes de combater eficientemente com os argumentos humanistas e racionais que fundamentam o seu projeto de combate à violência os argumentos em defesa de maior repressão, de mais presídios, inerentes à ideologia fascista a ponto de impedir a vitória de um candidato abertamente fascista como Bolsonaro, é porque já estaríamos vivendo a hegemonia do fascismo como ideologia dominante, nos obrigando, inclusive, a preparar a nossa retirada organizada para uma situação de clandestinidade e de preparação de uma nova resistência nos moldes da que se fez durante a ditadura militar. Mas, se essa hegemonia da ideologia fascista já existe entre nós, então existiria também condições políticas para um golpe de estado abertamente fascista como o ocorrido em 1964, não sendo necessário que um fascista intelectualmente medíocre, como Bolsonaro, disputasse a preferência do eleitorado em 2018. Portanto, os corações e mentes dos que apoiam nas enquetes as soluções defendidas por Bolsonaro para o combate à violência ainda estão longe de terem sido conquistados ideologicamente, sendo suas atuais posições produzidos apenas pela excessiva exposição a programas de jornalismo policial sensacionalistas que atuaram até o momento sem que fossem conhecidas campanhas organizadas e unitárias de desmascaramento das propostas protofascistas que defendem. Se é verdade que a violência e drogas incomodam efetivamente a amplos setores da classe média, também me parece verdade que amplos setores do povo conhecem, por experiência própria, as consequências nefastas do combate da violência e do tráfico de drogas através dos métodos defendidos por Bolsonaro, como quero crer que revelaria uma enquete realizada nas periferias das cidades brasileiras acostumadas a conviver com a violência cotidiana praticada pelos policiais militares ou pelos milicianos que atuam atualmente nas redes sociais como militantes das falanges bolsonaristas.
Para concluir dentro do limite de palavras que se permite a um comentário por aqui, entendo que o professor se equivocou ao considerar o Brexit como fruto do mesmo conservadorismo que elegeu Trump, posto que, entre os defensores do Brexit, se encontravam amplos segmentos progressistas que o entenderam como uma defesa de direitos sociais e nacionais que estavam sendo aviltados pela hegemonia do capital financeiro alemão no âmbito da UE. Por outro lado, entre os fatores que poderão vir a eleger Bolsonaro em 2018, o professor esqueceu-se de citar o principal apoiador com o qual Bolsonaro certamente poderá contar caso se converta na única alternativa de vitória sobre uma candidatura como a de Lula: o capital financeiro nacional e internacional e seus agentes do chamado mercado financeiro, , com sua tradicional falta de escrúpulos, e com a sua enorme capacidade de coordenar suas ações em função de um objetivo político, como vimos durante o golpe aplicado contra Dilma
Darcy...matou a pau!
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