Por Pedro Zambarda, no site do FNDC:
Impeachment ou golpe? Bolivarianismo ou projeto de país? A notícia que está na mídia de massa está correta? Por que questionar?
A mídia alternativa brasileira que se propaga hoje é muito diferente dos anos 70 e 80, fruto de censores que invadiram as redações dos maiores jornais e revistas do país para impôr a ideologia e as pautas da ditadura militar. No entanto, há semelhanças.
O Pasquim durou entre 1969 e 1991 publicando palavrões, deboche e entrevistas com tons sarcásticos, além de reunir os melhores nomes da imprensa daquele tempo, como Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa, Ruy Castro e muitos outros.
Apesar de diferenças históricas, a mídia alternativa que temos em 2017 é similar em muitos aspectos.
Jornalista de destaque na TV Record, Paulo Henrique Amorim foi um dos pioneiros nesta mídia que contesta a “grande mídia”. Criou o Conversa Afiada como um programa de economia que passou pela TV Cultura e hoje sustenta o site com textos críticos agudos contra o PSDB, a Globo, o Judiciário e banqueiros como Daniel Dantas. Diz ele que a frase é do deputado petista Fernando Ferro, mas foi PHA que emplacou a expressão “Partido da Imprensa Golpista”, o PIG.
No mesmo tom de crítica aguda e até deboche das figuras tucanas, os irmãos Kiko e Paulo Nogueira criaram o Diário do Centro do Mundo (DCM), local onde o autor deste texto também trabalha. Criado originalmente como um blog na revista Época, quando Paulo era correspondente em Londres, atualmente é um site de hardnews com seleções de notícias da imprensa, textos opinativos e furos de reportagem. Um destaque que pouco é dado é justamente para as campanhas bem-sucedidas de crowdfunding do DCM, que financiaram com até R$ 25 mil reportagens sobre a mansão atribuída à família Marinho da TV Globo, o helicóptero de cocaína do aliado de Aécio Neves (Zezé Perrella), a crise hídrica da Sabesp e muitas outras pautas que não são cobertas com tanto afinco pela imprensa das grandes famílias. Alguns destaques do Diário são textos de repórteres como Joaquim de Carvalho (ex-Veja e Jornal Nacional), que faz textos de fôlego, Mauro Donato, que cobre sobretudo as ruas, e Nathalí Macedo, que vai atrás de assuntos feministas.
A Revista Fórum, de Renato Rovai, traz importantes furos e comentários sobre o panorama nacional, com diferentes blogueiros. Os sites Tijolaço, Viomundo e Cafezinho normalmente se centram em análises, embora o segundo tenha sido o primeiro a ter acesso ao processo de sonegação fiscal envolvendo direitos da Copa de 2002 e a Rede Globo. Mais antigo do que todos estes sites, a revista Carta Capital de Mino Carta mantém-se como uma alternativa impressa e digital às concorrentes ISTOÉ, Época e Veja desde os anos 90. Mais novos de todos, a Mídia Ninja e os Jornalistas Livres, sendo o último chefiado por Laura Capriglione (ex-Folha e Veja), fazem a cobertura dos protestos de rua desde 2013 ao vivo e de pautas do cotidiano, incluindo abusos policiais, penitenciárias e tópicos correlatos. Opera Mundi é um site com viés esquerdista para assuntos internacionais.
O Brasil247 faz uma cozinha crítica sobre as principais notícias e colunas dos grupos Estado, Folha, Globo e outros, além de trazer textos opinativos de jornalistas consagrados, como Paulo Moreira Leite e Tereza Cruvinel. Leio pouco, mas acompanho o Pragmatismo Político. No entanto, acho que ele copia demais informações de outros sites e não faz nenhum comentário, ponderação ou furo jornalístico do que ocorre no atual cenário brasileiro.
Por último, e não menos importante, o GGN de Luís Nassif (ex-conselho editorial da Folha) carrega tanta experiência quanto Paulo Henrique Amorim, mas um tom mais ameno e analítico do noticiário. Jornalista econômico por muitos anos e pioneiro na busca de dados desde seus tempos no Estadão, Nassif faz contrapontos sobretudo quanto à precisão dos grandes grupos de comunicação.
Estes sites e iniciativas são frequentemente chamados de “sites petistas” ou “blogs sujos”, sendo a última expressão empregada por Mario Sabino, Diogo Mainardi e jornalistas alinhados com José Serra. Publicamente, eles se declaram favoráveis aos programas sociais do PT e alguns deles manifestam apoio claro ao ex-presidente Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff. No entanto, o principal motor destes novos grupos de mídia não é a propaganda política e sim a falta de diversidade de vozes no debate público.
Há ainda outras publicações alternativas mais equilibradas, como é o caso do Nexo Jornal e Agência Pública, além dos novos representantes brasileiros de grupos de mídia internacionais, como Intercept, El País, Deutsche Welle e BBC. No entanto, para além da polarização destrutiva, é fundamental que exista grupos de contrapontos no Brasil.
De acordo com o site Volt Data Lab, mais de 500 profissionais perderam o emprego em 2016. Do montante, a maioria absoluta foi de grandes grupos de mídia. Num mercado de baixa competitividade entre empresas, onde o grupo Globo ainda recebe 60% do bolo publicitário sobretudo por ter a maior TV aberta, a briga política entre os meios se transforma também num embate pela pluralidade que resultará em mais vozes públicas e publicáveis.
Internacionalmente, é tradição existir mídias polarizadas e debates editoriais. Nos Estados Unidos, o Huffington Post é declaradamente democrata, pró-LGBT e crítico às guerras do Afeganistão e do Iraque, enquanto o Washington Post e o Wall Street Journal se alinham aos setores mais conservadores e ao Partido Republicano. O New York Times também dá apoio aberto ao Partido Democrata.
Na França, o Libération é abertamente de esquerda, o Le Monde é centrista e o Le Figaro é conservador. O polêmico Charlie Hebdo, embora seja muito crítico com islâmicos e árabes, também é esquerdista. Já no Reino Unido, há uma variedade de publicações de direita, como a Economist, Financial Times e outras, embora o Guardian seja abertamente progressista.
Ao invés de taxar este site como “petista” e outro como “tucano”, vamos celebrar a beleza da mídia alternativa e da mainstream: A diversidade. É isso que a mídia alternativa de fato pode fazer pelo Brasil polarizado de hoje.
Sou um leitor de imprensa onívoro, embora tenha convicções políticas de centro-esquerda.
Seja onívoro. Consuma mídia alternativa além dos grandes grupos.
Impeachment ou golpe? Bolivarianismo ou projeto de país? A notícia que está na mídia de massa está correta? Por que questionar?
A mídia alternativa brasileira que se propaga hoje é muito diferente dos anos 70 e 80, fruto de censores que invadiram as redações dos maiores jornais e revistas do país para impôr a ideologia e as pautas da ditadura militar. No entanto, há semelhanças.
O Pasquim durou entre 1969 e 1991 publicando palavrões, deboche e entrevistas com tons sarcásticos, além de reunir os melhores nomes da imprensa daquele tempo, como Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa, Ruy Castro e muitos outros.
Apesar de diferenças históricas, a mídia alternativa que temos em 2017 é similar em muitos aspectos.
Jornalista de destaque na TV Record, Paulo Henrique Amorim foi um dos pioneiros nesta mídia que contesta a “grande mídia”. Criou o Conversa Afiada como um programa de economia que passou pela TV Cultura e hoje sustenta o site com textos críticos agudos contra o PSDB, a Globo, o Judiciário e banqueiros como Daniel Dantas. Diz ele que a frase é do deputado petista Fernando Ferro, mas foi PHA que emplacou a expressão “Partido da Imprensa Golpista”, o PIG.
No mesmo tom de crítica aguda e até deboche das figuras tucanas, os irmãos Kiko e Paulo Nogueira criaram o Diário do Centro do Mundo (DCM), local onde o autor deste texto também trabalha. Criado originalmente como um blog na revista Época, quando Paulo era correspondente em Londres, atualmente é um site de hardnews com seleções de notícias da imprensa, textos opinativos e furos de reportagem. Um destaque que pouco é dado é justamente para as campanhas bem-sucedidas de crowdfunding do DCM, que financiaram com até R$ 25 mil reportagens sobre a mansão atribuída à família Marinho da TV Globo, o helicóptero de cocaína do aliado de Aécio Neves (Zezé Perrella), a crise hídrica da Sabesp e muitas outras pautas que não são cobertas com tanto afinco pela imprensa das grandes famílias. Alguns destaques do Diário são textos de repórteres como Joaquim de Carvalho (ex-Veja e Jornal Nacional), que faz textos de fôlego, Mauro Donato, que cobre sobretudo as ruas, e Nathalí Macedo, que vai atrás de assuntos feministas.
A Revista Fórum, de Renato Rovai, traz importantes furos e comentários sobre o panorama nacional, com diferentes blogueiros. Os sites Tijolaço, Viomundo e Cafezinho normalmente se centram em análises, embora o segundo tenha sido o primeiro a ter acesso ao processo de sonegação fiscal envolvendo direitos da Copa de 2002 e a Rede Globo. Mais antigo do que todos estes sites, a revista Carta Capital de Mino Carta mantém-se como uma alternativa impressa e digital às concorrentes ISTOÉ, Época e Veja desde os anos 90. Mais novos de todos, a Mídia Ninja e os Jornalistas Livres, sendo o último chefiado por Laura Capriglione (ex-Folha e Veja), fazem a cobertura dos protestos de rua desde 2013 ao vivo e de pautas do cotidiano, incluindo abusos policiais, penitenciárias e tópicos correlatos. Opera Mundi é um site com viés esquerdista para assuntos internacionais.
O Brasil247 faz uma cozinha crítica sobre as principais notícias e colunas dos grupos Estado, Folha, Globo e outros, além de trazer textos opinativos de jornalistas consagrados, como Paulo Moreira Leite e Tereza Cruvinel. Leio pouco, mas acompanho o Pragmatismo Político. No entanto, acho que ele copia demais informações de outros sites e não faz nenhum comentário, ponderação ou furo jornalístico do que ocorre no atual cenário brasileiro.
Por último, e não menos importante, o GGN de Luís Nassif (ex-conselho editorial da Folha) carrega tanta experiência quanto Paulo Henrique Amorim, mas um tom mais ameno e analítico do noticiário. Jornalista econômico por muitos anos e pioneiro na busca de dados desde seus tempos no Estadão, Nassif faz contrapontos sobretudo quanto à precisão dos grandes grupos de comunicação.
Estes sites e iniciativas são frequentemente chamados de “sites petistas” ou “blogs sujos”, sendo a última expressão empregada por Mario Sabino, Diogo Mainardi e jornalistas alinhados com José Serra. Publicamente, eles se declaram favoráveis aos programas sociais do PT e alguns deles manifestam apoio claro ao ex-presidente Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff. No entanto, o principal motor destes novos grupos de mídia não é a propaganda política e sim a falta de diversidade de vozes no debate público.
Há ainda outras publicações alternativas mais equilibradas, como é o caso do Nexo Jornal e Agência Pública, além dos novos representantes brasileiros de grupos de mídia internacionais, como Intercept, El País, Deutsche Welle e BBC. No entanto, para além da polarização destrutiva, é fundamental que exista grupos de contrapontos no Brasil.
De acordo com o site Volt Data Lab, mais de 500 profissionais perderam o emprego em 2016. Do montante, a maioria absoluta foi de grandes grupos de mídia. Num mercado de baixa competitividade entre empresas, onde o grupo Globo ainda recebe 60% do bolo publicitário sobretudo por ter a maior TV aberta, a briga política entre os meios se transforma também num embate pela pluralidade que resultará em mais vozes públicas e publicáveis.
Internacionalmente, é tradição existir mídias polarizadas e debates editoriais. Nos Estados Unidos, o Huffington Post é declaradamente democrata, pró-LGBT e crítico às guerras do Afeganistão e do Iraque, enquanto o Washington Post e o Wall Street Journal se alinham aos setores mais conservadores e ao Partido Republicano. O New York Times também dá apoio aberto ao Partido Democrata.
Na França, o Libération é abertamente de esquerda, o Le Monde é centrista e o Le Figaro é conservador. O polêmico Charlie Hebdo, embora seja muito crítico com islâmicos e árabes, também é esquerdista. Já no Reino Unido, há uma variedade de publicações de direita, como a Economist, Financial Times e outras, embora o Guardian seja abertamente progressista.
Ao invés de taxar este site como “petista” e outro como “tucano”, vamos celebrar a beleza da mídia alternativa e da mainstream: A diversidade. É isso que a mídia alternativa de fato pode fazer pelo Brasil polarizado de hoje.
Sou um leitor de imprensa onívoro, embora tenha convicções políticas de centro-esquerda.
Seja onívoro. Consuma mídia alternativa além dos grandes grupos.
* Publicado originalmente no site Portal Comunique-se.
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