Por Carlos Drummond, na revista CartaCapital:
Previsões sobre o desempenho da economia no próximo ano, no país e no resto do mundo, surgem em profusão nesta época e é quase impossível ignorá-las.
Algumas precauções talvez ajudem, entretanto, a não levá-las tão a sério quanto os seus autores gostariam, o que provavelmente ajudará a reduzir a ansiedade inerente ao conhecimento de sondagens do futuro, sejam elas otimistas, pessimistas ou um pouco de ambos.
É básico, por exemplo, desconfiar das projeções feitas pelos profissionais do ramo. Prakash Loungani, chefe da Divisão de Macroeconomia do Desenvolvimento no Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional, fez pesquisas em 2000 sobre a precisão das previsões dos economistas.
Utilizando dados da publicação Consensus Forecasts, da Consensus Economics, amplamente usada por governos como fonte de estimativas independentes do crescimento econômico, Loungani descobriu que das 60 recessões registradas desde 1989 em 63 países acompanhados, apenas duas foram previstas até abril do ano anterior e dois terços permaneceram não detectadas em abril do ano em que ocorreram.
Além disso, as previsões dos analistas do setor privado e aquelas do setor público pouco diferiam e tinham uma forte tendência para o otimismo.
Loungani foi entrevistado em julho pela BBC e divulgou uma atualização do seu trabalho. Afirmou que, ao longo de três décadas, das 150 recessões registradas apenas duas foram previstas. A taxa de erro aumentou, portanto, para quase 100%, ao invés de diminuir. Loungani admitiu que ele era muito impopular entre seus colegas por divulgar o seu completo e absoluto fracasso.
Além de desconfiar sempre das projeções dos profissionais da área, é fundamental não considerar a economia como um saber científico inquestionável. “É a ideologia, não a ciência, o que leva os economistas a afirmar que os resgates dos bancos pelos governos são toleráveis, mas as políticas que protegem os pobres não são".
Não surpreende que essas teorias e modelos defeituosos sejam um grande conforto para as elites financeiras e é por isso que tantos economistas são contratados e financiados por grandes bancos, corporações e os ricos”, dispara Ann Pettifor, respeitada economista do Reino Unido, consultora do Partido Trabalhista britânico, de governos e que foi condecorada por seu trabalho pelo cancelamento de dívidas do Peru e da Nigéria em 1999 e 2001.
Uma das poucas no mundo a prever a crise de 2008, primeiro em 2003 e depois em um livro publicado em 2006, Pettifor diz concordar com Andy Haldane, economista-chefe e diretor executivo de Análise Monetária e Estatística do Banco da Inglaterra, na sua afirmação de que os economistas, ao falharem em apontar a formação da crise mundial antes de 2007, se tornaram responsáveis por “um monumental erro intelectual coletivo” que, segundo Pettifor, teve um papel chave na ascensão do populismo político no mundo.
Uma das evidências mais eloquentes da influência da ideologia nas avaliações apresentadas como objetivas e técnicas são as previsões sobre a economia chinesa. Há 30 anos economistas ocidentais preveem a derrocada da China, que insistiu em contrariá-los e cresceu nesse período cerca de 10% ao ano.
O erro crônico de três décadas se explica em muito pelo fator ideológico, mas inclui alguns deslizes básicos inaceitáveis. Um deles é a utilização de parâmetros ocidentais de sistema financeiro e cambial frouxamente regulados por instituições públicas capturadas pelos bancos privados para projetar o desempenho de uma economia como a da China, de sistema financeiro com predomínio estatal e câmbio controlado pelo governo. Outro é o uso de critérios das economias do Ocidente, dominadas pelas empresas privadas, para traçar perspectivas para um país onde as empresas estatais tem força determinante.
Haldane comparou o vexame das estimativas dos economistas ao famoso fracasso da previsão do famoso meteorologista britânico Michael Fish. Ele insistiu, em 1987, que não haveria furacão até algumas horas antes da tempestade mais devastadora do Sul da Inglaterra em mais de 300 anos.
Desde o fracasso de Fish, mais tarde assumido pelo seu chefe, os meteorologistas aprimoraram a sua atividade e melhoraram as previsões. “Mas isso não é verdadeiro na profissão de economista. O modelo dominante da liberalização financeira, dominância da política monetária e da austeridade fiscal permanece intacto”, destaca Ann Pettifor.
O Brasil, hoje um campeão de estatísticas econômicas e sociais negativas, sobressai também nas previsões furadas. Incontáveis vezes, desde o início da recessão, analistas e a mídia comemoraram melhoras sutis em indicadores do nível de atividade como se fossem sinais inequívocos de franca recuperação.
Não pareciam temer o ridículo ao comemorar, por exemplo, variações de um décimo de ponto porcentual positivo em indicadores econômicos, não como sinal de estabilidade, mas de melhora inequívoca.
Algumas precauções talvez ajudem, entretanto, a não levá-las tão a sério quanto os seus autores gostariam, o que provavelmente ajudará a reduzir a ansiedade inerente ao conhecimento de sondagens do futuro, sejam elas otimistas, pessimistas ou um pouco de ambos.
É básico, por exemplo, desconfiar das projeções feitas pelos profissionais do ramo. Prakash Loungani, chefe da Divisão de Macroeconomia do Desenvolvimento no Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional, fez pesquisas em 2000 sobre a precisão das previsões dos economistas.
Utilizando dados da publicação Consensus Forecasts, da Consensus Economics, amplamente usada por governos como fonte de estimativas independentes do crescimento econômico, Loungani descobriu que das 60 recessões registradas desde 1989 em 63 países acompanhados, apenas duas foram previstas até abril do ano anterior e dois terços permaneceram não detectadas em abril do ano em que ocorreram.
Além disso, as previsões dos analistas do setor privado e aquelas do setor público pouco diferiam e tinham uma forte tendência para o otimismo.
Loungani foi entrevistado em julho pela BBC e divulgou uma atualização do seu trabalho. Afirmou que, ao longo de três décadas, das 150 recessões registradas apenas duas foram previstas. A taxa de erro aumentou, portanto, para quase 100%, ao invés de diminuir. Loungani admitiu que ele era muito impopular entre seus colegas por divulgar o seu completo e absoluto fracasso.
Além de desconfiar sempre das projeções dos profissionais da área, é fundamental não considerar a economia como um saber científico inquestionável. “É a ideologia, não a ciência, o que leva os economistas a afirmar que os resgates dos bancos pelos governos são toleráveis, mas as políticas que protegem os pobres não são".
Não surpreende que essas teorias e modelos defeituosos sejam um grande conforto para as elites financeiras e é por isso que tantos economistas são contratados e financiados por grandes bancos, corporações e os ricos”, dispara Ann Pettifor, respeitada economista do Reino Unido, consultora do Partido Trabalhista britânico, de governos e que foi condecorada por seu trabalho pelo cancelamento de dívidas do Peru e da Nigéria em 1999 e 2001.
Uma das poucas no mundo a prever a crise de 2008, primeiro em 2003 e depois em um livro publicado em 2006, Pettifor diz concordar com Andy Haldane, economista-chefe e diretor executivo de Análise Monetária e Estatística do Banco da Inglaterra, na sua afirmação de que os economistas, ao falharem em apontar a formação da crise mundial antes de 2007, se tornaram responsáveis por “um monumental erro intelectual coletivo” que, segundo Pettifor, teve um papel chave na ascensão do populismo político no mundo.
Uma das evidências mais eloquentes da influência da ideologia nas avaliações apresentadas como objetivas e técnicas são as previsões sobre a economia chinesa. Há 30 anos economistas ocidentais preveem a derrocada da China, que insistiu em contrariá-los e cresceu nesse período cerca de 10% ao ano.
O erro crônico de três décadas se explica em muito pelo fator ideológico, mas inclui alguns deslizes básicos inaceitáveis. Um deles é a utilização de parâmetros ocidentais de sistema financeiro e cambial frouxamente regulados por instituições públicas capturadas pelos bancos privados para projetar o desempenho de uma economia como a da China, de sistema financeiro com predomínio estatal e câmbio controlado pelo governo. Outro é o uso de critérios das economias do Ocidente, dominadas pelas empresas privadas, para traçar perspectivas para um país onde as empresas estatais tem força determinante.
Haldane comparou o vexame das estimativas dos economistas ao famoso fracasso da previsão do famoso meteorologista britânico Michael Fish. Ele insistiu, em 1987, que não haveria furacão até algumas horas antes da tempestade mais devastadora do Sul da Inglaterra em mais de 300 anos.
Desde o fracasso de Fish, mais tarde assumido pelo seu chefe, os meteorologistas aprimoraram a sua atividade e melhoraram as previsões. “Mas isso não é verdadeiro na profissão de economista. O modelo dominante da liberalização financeira, dominância da política monetária e da austeridade fiscal permanece intacto”, destaca Ann Pettifor.
O Brasil, hoje um campeão de estatísticas econômicas e sociais negativas, sobressai também nas previsões furadas. Incontáveis vezes, desde o início da recessão, analistas e a mídia comemoraram melhoras sutis em indicadores do nível de atividade como se fossem sinais inequívocos de franca recuperação.
Não pareciam temer o ridículo ao comemorar, por exemplo, variações de um décimo de ponto porcentual positivo em indicadores econômicos, não como sinal de estabilidade, mas de melhora inequívoca.
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