Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O sentido do artigo de William Waack publicado na Folha de São Paulo, hoje, se expressa no título: "Não sou racista, minha obra prova".
Há muito tempo estou convencido de que a única forma de Waack se recuperar da "Coisa Preta," episódio lamentável de racismo explícito, é reconhecer o caráter inaceitável de seu comentário e apresentar um pedido de desculpas - em público, claro e sem ambiguidades.
Acredito que, numa situação como esta, é indispensável reconhecer uma dívida moral, que deve ser reparada - simbolicamente - com uma demonstração de respeito à dignidade de quem sentiu-se ofendido. É preciso mostrar-se humilde diante de quem foi humilhado.
Também seria um exemplo necessário para aqueles que, com certeza da impunidade, pronunciam comentários equivalentes, produzindo as mesmas dores que o preconceito, a discriminação e o ódio costumam provocar.
Sabemos que é fácil reconhecer que ninguém está livre dos preconceitos de seu tempo, que acompanham a humanidade a partir da conhecida verdade de que a "ideologia dominante de uma sociedade é a ideologia da classe dominante".
Essa constatação não deve servir, em nenhum momento, para se tolerar manifestações de racismo ou qualquer preconceito. Mas ajuda a entender que elas devem ser reconhecidas e enfrentadas, pois esta é a única forma de avançar na construção de uma sociedade democrática.
Sabemos que a hipocrisia é um componente necessário da velha noção de democracia racial, alimentando uma postura que esconde e disfarça o preconceito, de grande utilidade para esconder uma situação de dominação. Tolera-se o racismo em diversas formas - a condição para o truque funcionar é sempre seja encoberto, nunca explicitado.
Ao longos dos últimos anos, a luta do movimento negro brasileiro ajudou a desmascarar o mito da democracia racial, numa contribuição essencial à formação cultural de uma nação que está longe de ter acertado as contas com três séculos de escravidão.
A reação ampla e indignada ao comentário ofensivo de William Waack só se explica porque a situação do país mudou muito nesse aspecto. A maioria de nós, brasileiros, hoje tem consciência de que vive num país estruturalmente racista, e que este comportamento, intolerável, se reproduz em nossas conversas, atitudes e decisões - econômicas, sociais e pessoais.
Seria importante reconhecer essa mudança, um dos ganhos essenciais do atual período histórico. Daí a importância, repito, de honrar uma dívida moral contraída pelo "Coisa de Preto".
Em vez disso, William Waack prefere no artigo denunciar a atuação de "grupos organizados que atuam no interior das redes sociais". Sem jamais mencionar a TV Globo de forma direta, diz que, "por falta de visão estratégica ou covardia, ou ambas", os grandes grupos de mídia tradicional tornaram-se reféns das redes mobilizadas, sugerindo, em resumo, que blogueiros & Cia mandam num sistema de comunicação nacional, monopolizada por cinco famílias.
Há muito tempo estou convencido de que a única forma de Waack se recuperar da "Coisa Preta," episódio lamentável de racismo explícito, é reconhecer o caráter inaceitável de seu comentário e apresentar um pedido de desculpas - em público, claro e sem ambiguidades.
Acredito que, numa situação como esta, é indispensável reconhecer uma dívida moral, que deve ser reparada - simbolicamente - com uma demonstração de respeito à dignidade de quem sentiu-se ofendido. É preciso mostrar-se humilde diante de quem foi humilhado.
Também seria um exemplo necessário para aqueles que, com certeza da impunidade, pronunciam comentários equivalentes, produzindo as mesmas dores que o preconceito, a discriminação e o ódio costumam provocar.
Sabemos que é fácil reconhecer que ninguém está livre dos preconceitos de seu tempo, que acompanham a humanidade a partir da conhecida verdade de que a "ideologia dominante de uma sociedade é a ideologia da classe dominante".
Essa constatação não deve servir, em nenhum momento, para se tolerar manifestações de racismo ou qualquer preconceito. Mas ajuda a entender que elas devem ser reconhecidas e enfrentadas, pois esta é a única forma de avançar na construção de uma sociedade democrática.
Sabemos que a hipocrisia é um componente necessário da velha noção de democracia racial, alimentando uma postura que esconde e disfarça o preconceito, de grande utilidade para esconder uma situação de dominação. Tolera-se o racismo em diversas formas - a condição para o truque funcionar é sempre seja encoberto, nunca explicitado.
Ao longos dos últimos anos, a luta do movimento negro brasileiro ajudou a desmascarar o mito da democracia racial, numa contribuição essencial à formação cultural de uma nação que está longe de ter acertado as contas com três séculos de escravidão.
A reação ampla e indignada ao comentário ofensivo de William Waack só se explica porque a situação do país mudou muito nesse aspecto. A maioria de nós, brasileiros, hoje tem consciência de que vive num país estruturalmente racista, e que este comportamento, intolerável, se reproduz em nossas conversas, atitudes e decisões - econômicas, sociais e pessoais.
Seria importante reconhecer essa mudança, um dos ganhos essenciais do atual período histórico. Daí a importância, repito, de honrar uma dívida moral contraída pelo "Coisa de Preto".
Em vez disso, William Waack prefere no artigo denunciar a atuação de "grupos organizados que atuam no interior das redes sociais". Sem jamais mencionar a TV Globo de forma direta, diz que, "por falta de visão estratégica ou covardia, ou ambas", os grandes grupos de mídia tradicional tornaram-se reféns das redes mobilizadas, sugerindo, em resumo, que blogueiros & Cia mandam num sistema de comunicação nacional, monopolizada por cinco famílias.
Em sua defesa, pede ajuda colega Gloria Maria que, num debate onde o preconceito é o prato de resistência, analisou o caso com as seguintes palavras: "ele não é racista. Aquilo foi piada de português." Também fala de Carmen Lúcia, presidente do STF, para mencionar um "clima de intolerância e cerceamento de liberdades".
A luta continua, com seus tropeços, armadilhas e recuos. Como se podia ler nos muros de várias cidades do mundo, cinquenta anos atrás: "Burgueses, vocês não entenderam nada".
A luta continua, com seus tropeços, armadilhas e recuos. Como se podia ler nos muros de várias cidades do mundo, cinquenta anos atrás: "Burgueses, vocês não entenderam nada".
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