Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Num país indignado com as privatizações, a entrega das riquezas nacionais e o desmanche de conquistas sociais, a pesquisa Datafolha mostra a liderança de Lula como um caso de direito adquirido, perto de uma vítória em primeiro turno.
Realizada cinco dias depois do julgamento do TRF-4, a pesquisa mostra que, mesmo tendo sido manchete diária nas redes sociais, na TV e nos jornais, por mais de uma semana, a absurda sentença de 12 anos de prisão teve impacto nulo na confiança que ele dispõe junto a uma imensa parcela de brasileiros.
Lula não perdeu uma única intenção de voto – dado que confirma tanto a consistência de sua candidatura como a baixa credibilidade da permanente campanha midiática que enfrenta desde a AP 470.
A pesquisa também mostra o desempenho dos outros candidatos, caso Lula seja impedido de entrar na disputa, operação que é a prioridade número 1 das forças que passaram a mandar no país após a deposição de Dilma Rousseff. Os dados anunciam uma tragédia para a democracia, numa eleição incapaz de oferecer qualquer resposta aos anseios da maioria de eleitores, condição necessária para que se encaminhe uma indispensável repactuação da vida brasileira.
O primeiro resultado é claro: a marca de nulos e brancos atinge 32%, a mais alta já atingida em qualquer período após o fim do regime militar. Primeiro colocado numa disputa sem Lula, Jair Bolsonaro perde para nulos e brancos de lavada: 32% a 18%. Marina Silva é esmagada: faz 13%.
É compreensível. Sem Lula, o Brasil terá um quadro artificial, de candidatos frágeis, improvisados e tutelados. Num país polarizado, processo que tem várias inconveniências, mas cuja origem envolve o esclarecimento de interesses e opiniões no interior de toda sociedade, suprime-se um dos pólos na canetada judicial. Não pode funcionar.
Num momento em que os brasileiros querem debater a reconstrução do país após o flagelo Temer-Meirelles, não só do ponto de vista econômico, mas político e jurídico, pode-se antecipar um desfile de vozes submissas, que devem agradecer, todos os dias, aos juízes, empresários e demais forças às quais devem uma chance única na existência – disputar um pleito sem o candidato principal, contra o qual estavam condenados a derrota. Pense nos sorrisos amarelos. Nas espinhas encurvadas. Nos gestos agradecidos e medidas compensatórias, em caso de vitória.
Imagine as orações que Marina Silva, sempre religiosa, fará depois que, fora do páreo com Lula, conseguir chegar em primeiro lugar num eventual segundo turno, como diz o Datafolha. Luciano Hulk renasce e mergulha no caldeirão. Jair Bolsonaro sobe para primeiro lugar e, pela primeira vez em 129 anos de República, o fascismo tem chance real de fazer um presidente. Ciro Gomes pede respeito ao Judiciário. E por aí vai.
Estamos falando de um mundo Berlusconi. Você sabe do que se trata. Depois que os grandes partidos políticos italianos foram dizimados pela operação Mãos Limpas, num processo paralelo ao fim da Guerra Fria que levou o Partido Comunista ao abismo, o empresário Silvio Berlusconi tornou-se a mais influente personalidade da política italiana entre 1994 e 2011. Somando quatro mandatos, ocupou o cargo por nove anos, marca superada por dois antecessores após a unificação italiana – um deles, o fascista Benito Mussolini. A força de Berlusconi tinha uma origem fora da política. Um dos homens mais ricos do país, era dono das principais emissoras privadas de TV. Seus votos vinham daí e seu papel histórico foi a mediocridade padrão: administrar a redução da economia italiana, sua perda de influência diplomática e redução de direitos dos trabalhadores.
Alvo de permanentes denúncias de corrupção, sonegação fiscal e outras, conseguiu escapar de toda investigação – também nisso é um modelo para o governo Temer.
Como já discuti no artigo “Mãos Limpas à Limpo”, incluído no livro “A outra história da Lava Jato”, naquele período a política italiana passou por um processo de reorganização acompanhado de perto do embaixador norte americano Reginald Bartholomew. Enviado por Bill Clinton a Roma, Bartholomew tinha a missão de impedir mudanças e novidades que pudessem afastar a Itália da influência tradicional de Washington, que construiu uma vigorosa rede diplomática e militar no país no fim da Segunda Guerra, quando a luta anti-fascista esteve no caminho de se transformar em luta revolucionária.
No ambiente do pós-Guerra, nasceu uma república submissa aos Estados Unidos, que tinha uma cláusula secreta, mantida pelas décadas seguintes: jamais permitir que um candidato do Partido Comunista Italiano assumisse o governo.
Alguma semelhança com o veto a Lula?
Num país indignado com as privatizações, a entrega das riquezas nacionais e o desmanche de conquistas sociais, a pesquisa Datafolha mostra a liderança de Lula como um caso de direito adquirido, perto de uma vítória em primeiro turno.
Realizada cinco dias depois do julgamento do TRF-4, a pesquisa mostra que, mesmo tendo sido manchete diária nas redes sociais, na TV e nos jornais, por mais de uma semana, a absurda sentença de 12 anos de prisão teve impacto nulo na confiança que ele dispõe junto a uma imensa parcela de brasileiros.
Lula não perdeu uma única intenção de voto – dado que confirma tanto a consistência de sua candidatura como a baixa credibilidade da permanente campanha midiática que enfrenta desde a AP 470.
A pesquisa também mostra o desempenho dos outros candidatos, caso Lula seja impedido de entrar na disputa, operação que é a prioridade número 1 das forças que passaram a mandar no país após a deposição de Dilma Rousseff. Os dados anunciam uma tragédia para a democracia, numa eleição incapaz de oferecer qualquer resposta aos anseios da maioria de eleitores, condição necessária para que se encaminhe uma indispensável repactuação da vida brasileira.
O primeiro resultado é claro: a marca de nulos e brancos atinge 32%, a mais alta já atingida em qualquer período após o fim do regime militar. Primeiro colocado numa disputa sem Lula, Jair Bolsonaro perde para nulos e brancos de lavada: 32% a 18%. Marina Silva é esmagada: faz 13%.
É compreensível. Sem Lula, o Brasil terá um quadro artificial, de candidatos frágeis, improvisados e tutelados. Num país polarizado, processo que tem várias inconveniências, mas cuja origem envolve o esclarecimento de interesses e opiniões no interior de toda sociedade, suprime-se um dos pólos na canetada judicial. Não pode funcionar.
Num momento em que os brasileiros querem debater a reconstrução do país após o flagelo Temer-Meirelles, não só do ponto de vista econômico, mas político e jurídico, pode-se antecipar um desfile de vozes submissas, que devem agradecer, todos os dias, aos juízes, empresários e demais forças às quais devem uma chance única na existência – disputar um pleito sem o candidato principal, contra o qual estavam condenados a derrota. Pense nos sorrisos amarelos. Nas espinhas encurvadas. Nos gestos agradecidos e medidas compensatórias, em caso de vitória.
Imagine as orações que Marina Silva, sempre religiosa, fará depois que, fora do páreo com Lula, conseguir chegar em primeiro lugar num eventual segundo turno, como diz o Datafolha. Luciano Hulk renasce e mergulha no caldeirão. Jair Bolsonaro sobe para primeiro lugar e, pela primeira vez em 129 anos de República, o fascismo tem chance real de fazer um presidente. Ciro Gomes pede respeito ao Judiciário. E por aí vai.
Estamos falando de um mundo Berlusconi. Você sabe do que se trata. Depois que os grandes partidos políticos italianos foram dizimados pela operação Mãos Limpas, num processo paralelo ao fim da Guerra Fria que levou o Partido Comunista ao abismo, o empresário Silvio Berlusconi tornou-se a mais influente personalidade da política italiana entre 1994 e 2011. Somando quatro mandatos, ocupou o cargo por nove anos, marca superada por dois antecessores após a unificação italiana – um deles, o fascista Benito Mussolini. A força de Berlusconi tinha uma origem fora da política. Um dos homens mais ricos do país, era dono das principais emissoras privadas de TV. Seus votos vinham daí e seu papel histórico foi a mediocridade padrão: administrar a redução da economia italiana, sua perda de influência diplomática e redução de direitos dos trabalhadores.
Alvo de permanentes denúncias de corrupção, sonegação fiscal e outras, conseguiu escapar de toda investigação – também nisso é um modelo para o governo Temer.
Como já discuti no artigo “Mãos Limpas à Limpo”, incluído no livro “A outra história da Lava Jato”, naquele período a política italiana passou por um processo de reorganização acompanhado de perto do embaixador norte americano Reginald Bartholomew. Enviado por Bill Clinton a Roma, Bartholomew tinha a missão de impedir mudanças e novidades que pudessem afastar a Itália da influência tradicional de Washington, que construiu uma vigorosa rede diplomática e militar no país no fim da Segunda Guerra, quando a luta anti-fascista esteve no caminho de se transformar em luta revolucionária.
No ambiente do pós-Guerra, nasceu uma república submissa aos Estados Unidos, que tinha uma cláusula secreta, mantida pelas décadas seguintes: jamais permitir que um candidato do Partido Comunista Italiano assumisse o governo.
Alguma semelhança com o veto a Lula?
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