Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
A greve dos caminhoneiros tem apenas uma definição segura: é mais complicada do que supõe as vãs filosofias de todos os quadrantes. É possível enfileirar uma série de explicações, que vão da política de preços ao esgotamento da paciência do brasileiro. Da economia à psicologia social. Da matriz de transporte ao enfraquecimento da representação sindical. Há análises à esquerda e à direita, apontando dedos para o lado contrário. A culpa é do mercado, do neoliberalismo; do excesso de Estado, da falta de Estado.
Independentemente da linha seguida, o maior problema não está no caos gerado na vida do brasileiro, mas no que ele aponta no horizonte da já combalida democracia dos nossos dias. Quando o debate é obstruído, quem ganha é quem não se dispõe confrontar argumentos. É fundamental, nesse momento, manter a paciência histórica para disputar a hegemonia e a ousadia política para conquistar terreno na sociedade.
Mais que concordar ou discordar, está na hora de compreender. Para avançar.
Os sinais de risco de fratura definitiva na vida política brasileira estão cada vez mais fortes. Começaram com o ativismo judicial, que mudou as regras do jogo de forma paulatina até que não fosse mais possível reconhecer a ordem constitucional. O Congresso pegou o bastão e destruiu conquistas histórias, negociando votos por dinheiro, cargos e chantagem. A imprensa empresarial fez seu papel, traduzindo no seu tatibitate habitual a legenda do mercado virtuoso e do monstro ubíquo da corrupção.
Seguiu-se com a instrumentalização do medo, primeiro na área de segurança, com reconstrução do mito da eficiência militar. Esta operação acabou por se tornar uma paradoxal profecia autorrealizada: quanto mais se mostra ineficiente, mais parece se justificar. O método estava dado: quando o problema for difícil, como o governo é fraco, chama-se o Exército. Recrutas podem combater traficantes, bater em estudantes, enfrentar grevistas e, mais recentemente, dirigir carretas de combustível. Quase tudo, menos defender a soberania nacional, que é sua razão de ser. Essa está indo para as cucuias com empenho de Parente e cia e aval do condomínio do golpe.
A tendência quase universal do atual governo em criar gabinetes de crise mostra sua dupla inspiração: a sistematização da incompetência como território natural de um projeto entreguista em vias de conclusão, e o apelo repetido ao poder militar como caução da inépcia política e gerencial. As portas para a militarização do golpe – até então orgulhosamente civil – estão escancaradas. A população vem sendo enredada na narrativa do caos e os milicos começam a tomar gosto pela coisa. A próxima bandeira, depois do “não vai ter golpe”, “fora Temer” e “Lula livre” pode ser “diretas já”. Ou mesmo “ianques, go home”. O risco do retrocesso é real.
As eleições podem não ser a salvação da pátria, mas é o que de melhor temos no horizonte, capaz de dar garantias mínimas ao Estado democrático de direito. Para isso é preciso disputar os projetos, viabilizar a candidatura popular de Lula, combater as vivandeiras, baixar a bola de Ciro Gomes e manter acesa a chama da resistência. Fazer política, atiçar, agitar e bagunçar o coreto. Há muitas frentes de luta a serem ocupadas até lá. Na preservação das riquezas nacionais, dos programas sociais, de todas as formas de liberdade, da distribuição de renda e da defesa do meio ambiente, entre outras.
Não basta que os alimentos cheguem às mesas, é preciso que não venham encharcados de venenos. É bom que as aulas sejam retomadas, mas sem o retrocesso da escola sem partido. O diesel deve ter seu preço diminuído, mas alinhado ao desenvolvimento do país e da condução soberana da Petrobras. O funcionamento dos hospitais é imprescindível, mas dentro da lógica da saúde pública para todos os brasileiros. O fim da greve dos caminhoneiros não é a retomada da normalidade, mas o estágio seguinte das disputas necessárias.
A esquerda precisa limpar a mesa e partir para o que essencial nessa hora. Há princípios inegociáveis. A democracia é um deles. Indignar-se contra o arbítrio é outro. Não necessariamente nesta ordem. Em alguns momentos a história precisa ser virada de cabeça para baixo. Tudo que é feito para impedir que uma ditadura se estabeleça deve ser considerado justo. Está na hora de encher o tanque de coragem.
Independentemente da linha seguida, o maior problema não está no caos gerado na vida do brasileiro, mas no que ele aponta no horizonte da já combalida democracia dos nossos dias. Quando o debate é obstruído, quem ganha é quem não se dispõe confrontar argumentos. É fundamental, nesse momento, manter a paciência histórica para disputar a hegemonia e a ousadia política para conquistar terreno na sociedade.
Mais que concordar ou discordar, está na hora de compreender. Para avançar.
Os sinais de risco de fratura definitiva na vida política brasileira estão cada vez mais fortes. Começaram com o ativismo judicial, que mudou as regras do jogo de forma paulatina até que não fosse mais possível reconhecer a ordem constitucional. O Congresso pegou o bastão e destruiu conquistas histórias, negociando votos por dinheiro, cargos e chantagem. A imprensa empresarial fez seu papel, traduzindo no seu tatibitate habitual a legenda do mercado virtuoso e do monstro ubíquo da corrupção.
Seguiu-se com a instrumentalização do medo, primeiro na área de segurança, com reconstrução do mito da eficiência militar. Esta operação acabou por se tornar uma paradoxal profecia autorrealizada: quanto mais se mostra ineficiente, mais parece se justificar. O método estava dado: quando o problema for difícil, como o governo é fraco, chama-se o Exército. Recrutas podem combater traficantes, bater em estudantes, enfrentar grevistas e, mais recentemente, dirigir carretas de combustível. Quase tudo, menos defender a soberania nacional, que é sua razão de ser. Essa está indo para as cucuias com empenho de Parente e cia e aval do condomínio do golpe.
A tendência quase universal do atual governo em criar gabinetes de crise mostra sua dupla inspiração: a sistematização da incompetência como território natural de um projeto entreguista em vias de conclusão, e o apelo repetido ao poder militar como caução da inépcia política e gerencial. As portas para a militarização do golpe – até então orgulhosamente civil – estão escancaradas. A população vem sendo enredada na narrativa do caos e os milicos começam a tomar gosto pela coisa. A próxima bandeira, depois do “não vai ter golpe”, “fora Temer” e “Lula livre” pode ser “diretas já”. Ou mesmo “ianques, go home”. O risco do retrocesso é real.
As eleições podem não ser a salvação da pátria, mas é o que de melhor temos no horizonte, capaz de dar garantias mínimas ao Estado democrático de direito. Para isso é preciso disputar os projetos, viabilizar a candidatura popular de Lula, combater as vivandeiras, baixar a bola de Ciro Gomes e manter acesa a chama da resistência. Fazer política, atiçar, agitar e bagunçar o coreto. Há muitas frentes de luta a serem ocupadas até lá. Na preservação das riquezas nacionais, dos programas sociais, de todas as formas de liberdade, da distribuição de renda e da defesa do meio ambiente, entre outras.
Não basta que os alimentos cheguem às mesas, é preciso que não venham encharcados de venenos. É bom que as aulas sejam retomadas, mas sem o retrocesso da escola sem partido. O diesel deve ter seu preço diminuído, mas alinhado ao desenvolvimento do país e da condução soberana da Petrobras. O funcionamento dos hospitais é imprescindível, mas dentro da lógica da saúde pública para todos os brasileiros. O fim da greve dos caminhoneiros não é a retomada da normalidade, mas o estágio seguinte das disputas necessárias.
A esquerda precisa limpar a mesa e partir para o que essencial nessa hora. Há princípios inegociáveis. A democracia é um deles. Indignar-se contra o arbítrio é outro. Não necessariamente nesta ordem. Em alguns momentos a história precisa ser virada de cabeça para baixo. Tudo que é feito para impedir que uma ditadura se estabeleça deve ser considerado justo. Está na hora de encher o tanque de coragem.
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