Foto: Tuane Fernandes |
Raivoso, sem espaço para divergência e sem diversidade de opiniões e ideias. Esse é o jornalismo de guerra praticado pela mídia monopolista, na avaliação de Jean Wyllys. O deputado federal (PSOL-RJ) participou, neste sábado (26), do 6º Encontro Nacional de Blogueir@s eAtivistas Digitais, em São Paulo.
O evento, que reúne comunicadores e midiativistas, discute o papel estratégico da disputa de ideias na defesa da democracia e na resistência contra os retrocessos em curso no país. “A esquerda, por muito tempo, negligenciou o campo da comunicação como campo de produção de sentido e de imaginário”, opina Wyllys. “Os governos progressistas não deram a devida importância para a pauta da democratização da comunicação, promovendo diversidade regional e fortalecendo meios alternativos, comunitários e populares”.
Tema quente e controverso, Jean opinou que as chamadas Fake News precisam ser desmitificadas sob risco de se tornarem um fator de ampliação do poder da mídia hegemônica e uma espécie de mordaça para o midialivrismo. “Quem são as tais agências de checagem de notícias? Atuarão em favor de quem? Vão carimbar como fake news o que prejudica determinados partidos, como o PSDB, ou grandes empresas de comunicação? Quem vai checar a checagem?”, questiona. “Tacla Durán está fora do noticiário da grande mídia. Blogs que trazem denúncias sobre Tacla Durán serão considerados fake news? Essa é a questão que está colocada”.
Coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e Secretária-Geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mielli elogiou o papel cumprido por Wyllys na Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e pelo Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom). “Além do Jean, nomes como o de Luiza Erundina e Jandira Feghali também devem ser destacados como parlamentares que abraçam esta luta. É preciso coragem para enfrentar o poder da mídia”.
Segundo Mielli, o quadro de retrocessos e ataques à liberdade de expressão desatado com o golpe de 2016 agrava um cenário que já é negativo. “A mídia é um instrumento determinante para a disputa ideológica, perspectiva explorada por Antonio Gramsci. Mas no Brasil, tratamos muito tempo a comunicação como uma questão meramente instrumental. Até havia a discussão sobre a comunicação, mas não a discussão sobre políticas de comunicação. Não colocávamos a comunicação no centro da agenda política”.
A Internet mudou o cenário do monopólio informativo, mas há duas questões fundamentais ponderadas por Mielli. A primeira é de que mais de 40% dos brasileiros não têm acesso à Internet. A segunda, é que o modelo de negócios da Internet foi se alterando nos últimos anos e a proteção de dados pessoais se coloca, hoje, na ordem do dia da defesa da liberdade de expressão e do direito à privacidade. “O governo Temer não apóia a construção de uma legislação protetiva para os dados pessoais, que está tramitando há algum tempo. O governo está lutando por outro projeto, que beneficia as empresas, não o cidadão”, denuncia a jornalista.
“Estamos num momento de defensiva estratégica das forças democráticas e populares não só no Brasil, mas no mundo. Vivemos em uma fase que o capitalismo tem cada vez mais rejeição à democracia”, reflete Mielli. “Por isso, qualquer governo democrático e popular eleito em nosso país tem de se comprometer com a luta pela democratização da comunicação”.
Presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, a Zequinha, traçou um extenso panorama da luta por uma comunicação democrática no Brasil. Partindo da década de 1980, no contexto do surgimento do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, ela relembra as conquistas desta luta na Constituição Federal de 1988. “O capítulo V da Constituição garante muitos avanços, mas que são letra-morta. A carta magna proíbe monopólio e oligopólio, mas isso nunca foi regulamentado”, diz. “Tocar no assunto da proibição de publicidade infantil, por exemplo, é chamar as empresas para a guerra. A Constituição prevê muitos avanços, mas foi freada pelo poder desmedido das empresas e corporações”.
Enquanto em muitas partes do mundo a radiodifusão nasce do impulso dado pelo Estado, no Brasil ela parte da iniciativa privada, sublinha Zequinha. “Isso configurou um cenário de vazio regulamentar. Esse poderio da mídia nasce daí”, explica. “Para as empresas de comunicação, a melhor lei é lei nenhuma. Falar em regulação e regulamentação foi, também, um chamamento para a briga durante os governos progressistas. Só a regulação pode garantir que haja liberdade de expressão para todos e todas, não apenas para os detentores dos grandes meios de comunicação”.
Apesar da conjuntura difícil, é preciso permanecer na trincheira de luta, aposta Zequinha. “É um momento difícil para a Fenaj e para todos nós, o que precisa ser admitido publicamente. Não acho que seja o caso de jornalismo de guerra, como diz o Jean Wyllys. Acho que as empresas abandonaram o jornalismo para fazer propaganda política. É difícil travar essa luta, mas é o que temos que fazer todos os dias: estar nesta trincheira”.
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