O torcedor de futebol em tempos não muito distantes tinha outra diversão além de comemorar as vitórias do seu clube. Esperava com alguma ansiedade a convocação das seleções brasileiras para saber quantos jogadores de cada time haviam sido convocados. Depois, claro, comemorava a presença dos seus ídolos na seleção, ou não.
Isso acontecia em São Paulo e no Rio, uma vez que os jogadores convocados vinham apenas de clubes desses estados. Em 1958, na primeira conquista de um mundial pelo Brasil, eram 12 cariocas e 10 paulistas. Do Rio, o Flamengo cedia quatro atletas, Vasco e Botafogo três cada um, Fluminense e Bangu, um cada um. De São Paulo, o Santos e o São Paulo lideravam com três jogadores cada um, seguidos do Corinthians com dois e do Palmeiras e Portuguesa de Desportos com um.
A torcida não se limitava às convocações. O torcedor, primeiro pelo rádio e depois pela televisão, seguia atentamente os jogadores do seu clube. Queria vê-los no time titular da seleção e jogando bem. Campeões do mundo em 58, 62 e 70 passaram a ser vistos em seus clubes como ídolos internacionais de primeira categoria. A identificação do torcedor com o jogador, o clube e a seleção era intensa. Havia um certo orgulho de ver o craque do time do coração, bem conhecido e admirado, vestindo a camisa da seleção nacional.
Tudo isso acabou. Em 1966, quando a seleção saiu do Brasil rumo a Copa da Inglaterra, a mídia dava como favas contadas a conquista do tricampeonato.
Essa expectativa abriu apetites político-esportivos. Foram chamados mais de 40 jogadores e se sucederam treinos e jogos em diversos estádios para atender interesses locais. Ao final foram selecionados 22, sendo 10 do Rio, 10 de São Paulo, um de Minas Gerais e outro do Rio Grande do Sul. Mineiros e gaúchos já rivalizavam com paulistas e cariocas nas competições nacionais e, para não reclamarem, receberam esse prêmio de consolação.
O resultado foi uma das mais bisonhas participações do Brasil em copas do mundo: eliminação na primeira fase, depois de apenas três jogos, com uma vitória e duas derrotas. A relação com o torcedor era tão grande que, num momento negativo como esse, temia-se algum tipo de hostilidade no retorno ao Brasil. Tanto que o voo de volta da Inglaterra foi atrasado em várias horas para que a chegada no Rio e em São Paulo ocorresse na alta madrugada.
Hoje nem esse risco os jogadores correm mais. Primeiro porque há problemas muito maiores no país com que se exaltar do que por conta de uma derrota futebolística. E depois porque os jogadores podem ficar pela Europa, já que a maioria mora por lá. Dos 23 convocados, só três atuam em clubes brasileiros e devem ficar na reserva nos jogos da Rússia. Um joga na China.
A distância entre torcedor e jogador é resultado da concentração econômica do futebol, com os clubes europeus (e agora também alguns do Oriente Médio e da Ásia) acumulando recursos capazes de levar para as suas casas qualquer jogador que se destaque em qualquer parte do mundo. Com isso a relação dos jogadores com o país natal se esvai e ela só é revivida, de uma forma muito tênue, quando a seleção é convocada. De nada adianta o esforço da mídia, movida a interesses comerciais, em querer tornar familiar ao torcedor o jogador que saiu adolescente do Brasil e fez toda a carreira fora do país sem nunca vestir a camisa de um clube brasileiro.
As causas econômicas globais para essa situação são reais, mas não impossíveis de serem enfrentadas. O Brasil, graças a qualidade do seu futebol, ganhou um prestígio que lhe deu condições de controlar a Fifa por décadas. Uma ação política que contribuiu apenas para atender aos interesses escusos dos dirigentes que ocuparam postos de mando na entidade internacional, como revelam os escândalos recentes documentados em reportagens, livros e investigações policiais.
Nenhum esforço foi feito para proteger o futebol brasileiro. Investimentos e formas competentes de gestão poderiam impor aos clubes condições para manter em seus quadros os jogadores aqui formados.
Uma relação não corrompida entre clubes, federações, mídia (especialmente a televisão) e anunciantes poderia ter dado ao Brasil a possibilidade de enfrentar a concorrência internacional no futebol, como ocorreu em outras áreas da economia e que agora estão sendo desmanteladas pelos golpistas. O reerguimento estrutural do futebol brasileiro só acontecerá com a volta da democracia ao país e sua apropriação pelo esporte, o retorno a altivez internacional e a refundação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pondo fim a sua histórica incompetência.
Nesta Copa, infelizmente, o torcedor será mais uma vez apresentado a jogadores vindos de clubes ingleses, espanhóis, ucranianos, entre outros países. Somando-se a isso a atual crise política por que passa o país, tem-se como resultado o desinteresse do público pelos jogos da Rússia. O que, pensado bem, não é de todo mal.
Isso acontecia em São Paulo e no Rio, uma vez que os jogadores convocados vinham apenas de clubes desses estados. Em 1958, na primeira conquista de um mundial pelo Brasil, eram 12 cariocas e 10 paulistas. Do Rio, o Flamengo cedia quatro atletas, Vasco e Botafogo três cada um, Fluminense e Bangu, um cada um. De São Paulo, o Santos e o São Paulo lideravam com três jogadores cada um, seguidos do Corinthians com dois e do Palmeiras e Portuguesa de Desportos com um.
A torcida não se limitava às convocações. O torcedor, primeiro pelo rádio e depois pela televisão, seguia atentamente os jogadores do seu clube. Queria vê-los no time titular da seleção e jogando bem. Campeões do mundo em 58, 62 e 70 passaram a ser vistos em seus clubes como ídolos internacionais de primeira categoria. A identificação do torcedor com o jogador, o clube e a seleção era intensa. Havia um certo orgulho de ver o craque do time do coração, bem conhecido e admirado, vestindo a camisa da seleção nacional.
Tudo isso acabou. Em 1966, quando a seleção saiu do Brasil rumo a Copa da Inglaterra, a mídia dava como favas contadas a conquista do tricampeonato.
Essa expectativa abriu apetites político-esportivos. Foram chamados mais de 40 jogadores e se sucederam treinos e jogos em diversos estádios para atender interesses locais. Ao final foram selecionados 22, sendo 10 do Rio, 10 de São Paulo, um de Minas Gerais e outro do Rio Grande do Sul. Mineiros e gaúchos já rivalizavam com paulistas e cariocas nas competições nacionais e, para não reclamarem, receberam esse prêmio de consolação.
O resultado foi uma das mais bisonhas participações do Brasil em copas do mundo: eliminação na primeira fase, depois de apenas três jogos, com uma vitória e duas derrotas. A relação com o torcedor era tão grande que, num momento negativo como esse, temia-se algum tipo de hostilidade no retorno ao Brasil. Tanto que o voo de volta da Inglaterra foi atrasado em várias horas para que a chegada no Rio e em São Paulo ocorresse na alta madrugada.
Hoje nem esse risco os jogadores correm mais. Primeiro porque há problemas muito maiores no país com que se exaltar do que por conta de uma derrota futebolística. E depois porque os jogadores podem ficar pela Europa, já que a maioria mora por lá. Dos 23 convocados, só três atuam em clubes brasileiros e devem ficar na reserva nos jogos da Rússia. Um joga na China.
A distância entre torcedor e jogador é resultado da concentração econômica do futebol, com os clubes europeus (e agora também alguns do Oriente Médio e da Ásia) acumulando recursos capazes de levar para as suas casas qualquer jogador que se destaque em qualquer parte do mundo. Com isso a relação dos jogadores com o país natal se esvai e ela só é revivida, de uma forma muito tênue, quando a seleção é convocada. De nada adianta o esforço da mídia, movida a interesses comerciais, em querer tornar familiar ao torcedor o jogador que saiu adolescente do Brasil e fez toda a carreira fora do país sem nunca vestir a camisa de um clube brasileiro.
As causas econômicas globais para essa situação são reais, mas não impossíveis de serem enfrentadas. O Brasil, graças a qualidade do seu futebol, ganhou um prestígio que lhe deu condições de controlar a Fifa por décadas. Uma ação política que contribuiu apenas para atender aos interesses escusos dos dirigentes que ocuparam postos de mando na entidade internacional, como revelam os escândalos recentes documentados em reportagens, livros e investigações policiais.
Nenhum esforço foi feito para proteger o futebol brasileiro. Investimentos e formas competentes de gestão poderiam impor aos clubes condições para manter em seus quadros os jogadores aqui formados.
Uma relação não corrompida entre clubes, federações, mídia (especialmente a televisão) e anunciantes poderia ter dado ao Brasil a possibilidade de enfrentar a concorrência internacional no futebol, como ocorreu em outras áreas da economia e que agora estão sendo desmanteladas pelos golpistas. O reerguimento estrutural do futebol brasileiro só acontecerá com a volta da democracia ao país e sua apropriação pelo esporte, o retorno a altivez internacional e a refundação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pondo fim a sua histórica incompetência.
Nesta Copa, infelizmente, o torcedor será mais uma vez apresentado a jogadores vindos de clubes ingleses, espanhóis, ucranianos, entre outros países. Somando-se a isso a atual crise política por que passa o país, tem-se como resultado o desinteresse do público pelos jogos da Rússia. O que, pensado bem, não é de todo mal.
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