Há uma guerra comercial a se desenhar no mundo, que poderá opor os principais protagonistas das relações internacionais – Estados Unidos e China.
O confronto começou com as medidas protecionistas de Donald Trump, que alteram em profundidade as relações comerciais que dominaram nas últimas décadas e ameaçam destruir os fundamentos da globalização neoliberal que surgiu justamente para atender aos interesses imperialistas dos Estados Unidos.
O mundo pode estar às vésperas de restabelecer o protecionismo rejeitado nas décadas em que foi proclamado o fim do Estado nacional. Neste novo quadro pululam notícias de movimentos de defesa nacional feitos pelos países, que se posicionam ante a perspectiva de graves retrocessos da economia mundial, que podem fazer recuar o comércio mundial e causar quedas econômicas enormes.
Trump já havia causado confusão quando anunciou sobretaxas sobre a importação de aço e alumínio pelos Estados Unidos, e mesmo com as idas e vindas a respeito, a repercussão negativa foi enorme, com o anúncio de retaliações, ou ameaças de, surgindo por todo lado. São compreensíveis, num mundo onde as cadeias produtivas estão fortemente interligadas: quase dois terços das mercadorias que circulam no mercado mundial estão ligadas a elas. Neste cenário de números gigantes, os prejudicados podem ser, principalmente, os países menos desenvolvidos. O FMI calcula que em três anos o PIB mundial (que supera os 80 trilhões de dólares) pode recuar 1,75% e o comércio mundial pode cair 15% em cinco anos.
O setor automobilístico sozinho representa parte importante das cadeias produtivas que podem ser afetadas por uma guerra comercial, e prejudicar pesadamente os países envolvidos. Este setor envolve anualmente, no comércio mundial, US$ 1,4 trilhão, dos quais quase a metade (US$ 683 bilhões em 2016) se referem às exportações dos 28 países da União Europeia. A outra metade é formada pelas exportações dos Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul, Canadá, México e Brasil – que podem ser gravemente prejudicados por uma guerra comercial.
No quadro de imensas dificuldades que ser avizinha, os países tentam adotar políticas que protejam suas economias e amenizem os prejuízos. Há notícias de movimentos envolvendo Estados Unidos, de um lado, com Japão e União Européia; outras notícias mostram articulações em torno da China, com a União Europeia, no almejado bloco da Eurásia que vai tomando corpo com a nova Rota da Seda unindo fisicamente o velho mundo.
E o Brasil? O Brasil hoje dirigido por Michel Temer?
As dúvidas são imensas. Depois de uma década promissora, quando o Brasil tinha grande protagonismo mundial e era um importante parceiro no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), com um promissor caminho de desenvolvimento autônomo. Um dos alvos do golpe de 2016 foi deter o crescimento e a perspectiva de desenvolvimento soberano do país. O golpe colocou o Brasil de joelhos perante o imperialismo, principalmente dos Estados Unidos.
A lista de medidas de subalternidade impostas pelo presidente golpista Michel Temer é extensa. Ela envolve desde a entrega da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão; do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), para a empresa estadunidense Viasat; da Embraer à Boeing, até, e principalmente, o petróleo do Pré-sal, de mão beijada, às petroleiras multinacionais.
A sabugice entreguista do governo golpista fez do Brasil novamente um fiel súdito dos interesses dos Estados Unidos, que voltam a presidir a política externa brasileira com atitudes vergonhosas como o alinhamento acrítico à tentativa norte-americana de expulsar a Venezuela da OEA.
Ou seja, o Brasil não prepara sua defesa na guerra comercial que se avizinha, mas dá todos os sinais de que se alinha aos interesses dos Estados Unidos. Com enormes e duradouros prejuízos para sua independência e consequências graves para seu próprio desenvolvimento e para o bem-estar dos brasileiros.
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