Acertou em cheio o ex-ministro Eugênio Aragão ao apontar, em entrevista publicada na revista CartaCapital desta semana, como pré-requisito para a retomada da democracia no Brasil o enquadramento do Judiciário através de um.ato de força: “Acho que temos um consenso, tanto à direita quando à esquerda, de que algo precisa ser feito para colocar o Judiciário no lugar. O Judiciário cresceu demais, transbordou, tomou a autoridade do Executivo e do Legislativo. O Judiciário tem que parar de querer governar”, pregou o procurador aposentado do MP.
E ao ser perguntado pelo repórter André Barrocal se o Judiciário aceitaria abrir mão do poder, Aragão foi enfático: “Não, vai ter de ser um ato de força, e isso tem de partir de um acordo entre os atores políticos, não há outro jeito. Tem de botar a Lava Jato no seu devido lugar.”
Moral da história: ou os poderes respaldados pela soberania popular enfrentam de peito aberto a Lava Jato ou seguiremos em marcha batida rumo à consolidação da ditadura de novo tipo dos dias atuais, com a violação sistemática dos direitos e das garantias fundamentais previstos como cláusula pétrea na Constituição da República.
Mas acreditar que esse Congresso Nacional, formado em sua grande maioria por políticos corruptos e sem a envergadura política e moral necessária à empreitada de fazer o fantasma do fascismo retornar à garrafa, é pura perda de tempo. Por isso, os partidos comprometidos com a causa democrática devem elaborar e pôr em prática estratégias eleitorais que permitam a eleição de um grande número de deputados e senadores.
Votando à Lava Jato, orgulhosamente incluo-me entre aqueles que não veem nenhum mérito nessa operação. Nem mesmo a ressalva feita por algumas pessoas de esquerda de que a Lava Jato, apesar de tudo, logrou expor as vísceras das relações promíscuas entre políticos e empresários, me convence. Primeiro porque isso se deu de forma seletiva e contaminada pela militância política de direita de juízes, delegados e procuradores. E depois o preço de rasgar a Constituição nunca vale a pena ser pago.
E por que só um ato de força detém a Lava Jato, como diz o ex-ministro? Porque, com o apoio da Globo e seus satélites do monopólio midiático, suas relações com os serviços de espionagem dos EUA e ramificações em outras instituições do Estado brasileiro, a Lava Jato tomou gosto pelo poder e sente-se forte o suficiente para dar as cartas na política brasileira. Ela não será derrotada, portanto, com discursos e apelos polidos à moderação.
Só com um governo legitimado pelo voto popular e deputados e senadores dotados de coragem cívica e patriotismo será possível, por meio de decisões do Executivo e ações parlamentares, combater e derrotar a hipertrofia do Judiciário e trazer de volta o regime democrático.
Concebida para servir como principal instrumento para induzir o golpe de estado que se concretizou em 2016, levar a grande liderança popular do país para a prisão, para impedi-la de disputar a eleição presidencial deste ano, e, por fim, destruir o maior partido de esquerda do hemisfério ocidental, a Lava Jato foi além ao liquidar o setor de engenharia, óleo e gás, provocar recessão e espalhar desemprego e pobreza pelos lares dos brasileiros.
Perto do prejuízo gigantesco que a Lava Jato causou ao Brasil, não passa de uma merreca a propalada recuperação de recursos desviados por esquemas de corrupção.
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