Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
A elite brasileira sempre detestou o povo, o que não é novidade. No entanto, tinha como álibi para seu ódio de classe a defesa teórica da democracia. Definida como governo do povo, pelo povo e para o povo, a democracia brasileira sempre foi o último bastião dos canalhas. Era mais fácil manipular todo o jogo político e ao final colher a chancela da representação dos falsos interesses da maioria.
Nossa democracia autoritária e elitista teve sua origem apenas com a vez e a voz de proprietários, homens e brancos. À medida que a roda da história ampliava a participação em direção à realidade social, foram sendo aprimorados os mecanismos de controle, de modo a permitir o voto, mas não o poder. O desprezo às formas de democracia participativa tem seu fundamento nesse enredo.
Uma representação que nunca expressou a composição real do país mantinha as rédeas do privilégio, com eventuais acenos em direção aos avanços populares, como caução de uma democracia de fachada. O sistema político formatado nesses moldes gerou um Estado corporativo, defensor de interesses do capital e dos valores burgueses, para não fugir à palavra exata. Enquanto arrotava o título de democracia, eram mantidos os ganhos do capital, a máquina burocrática excludente e o moralismo da classe média.
Nesse cenário, nada mais radical que a simples democracia. E é o pavor da democracia que faz da atual campanha eleitoral o momento mais crítico dessa trajetória histórica de mentiras. A democracia defendida pela ideologia conservadora se esmerou em extirpar todas as possibilidades reais de participação, mas precisava, até para manter minimamente sua coerência e aceitação no contexto mundial, defender as eleições livres. Agora nem isso.
As eleições, depois das vitórias seguidas do PT – mais socialdemocrata que de esquerda, mais de coalização que efetivamente popular – apontavam para uma alteração dos projetos da elite brasileira. Depois de tentar impedir a governabilidade, em manipulações jurídicas criativas e campanhas midiáticas indisfarçáveis, chegou a hora de jogar abertamente contra as regras do jogo.
Não bastou a sanha punitivista do Ministério Público, Polícia Federal e tribunais de todos os níveis, a retirada de uma presidenta eleita em processo reconhecidamente espúrio, a entronização de interventor obediente (embora impopular e rejeitado por seus patrocinadores), e mesmo a impugnação de um candidato virtualmente vitorioso. A própria democracia precisava ser ferida de morte.
As eleições de 2018 estão desenhando um cenário abertamente antidemocrático, no sentido forte da palavra. Mesmo que seja prudente manter a mobilização e disputar todos os espaços, vai ficando claro até onde esse jogo pode ir. Todo candidato que minimamente desafiar o esquema será imediatamente perseguido pelo aparato “legal”, secundado pela imprensa comercial. A eleição não está sendo livre, portanto, não é democrática.
Toda proposta que implicar em distribuição de renda, investimento social e defesa do patrimônio público será codificada como corrupta. Toda pesquisa de intenção de voto que apontar a preferência popular será descaracterizada ou mesmo engavetada, como se viu recentemente com o Ibope.
Qualquer tentativa de avançar em direção a propostas participativas será combatida com a ameaça da militarização explícita. Educação para a liberdade, segurança com direitos humanos e reforma agrária, por exemplo, serão tratadas com perda de autonomia, cabelo cortado à príncipe Danilo, repressão sexual, bandido morto e latifundiário armado até os dentes. A mesma lógica invade todas as outras esferas da vida pública.
É importante notar que não se trata de um projeto conservador - o que seria lamentável, mas legítimo -, mas de uma avassaladora onda antidemocrática, que começa manietando as eleições para depois consolidar práticas autoritárias como naturais e consequentes. A vitória desse programa não aponta apenas para a perda de conquistas importantes no campo dos direitos sociais, trabalhistas e humanos. Nem mesmo na mera contramarcha constitucional, gravemente regressiva.
A elite brasileira sempre detestou o povo, mas brincava de democracia. Agora parece não fazer questão de esconder seu ódio. Que ela continue dominando as regras do jogo da política é um risco muito grave para esperar o resultado das eleições. Derrubar presidentes parece ter se tornado fácil demais. Empunhar o cabo do chicote a partir da Justiça se mostrou uma estratégia vitoriosa.
Se a vida política brasileira não se aprofundar em sua inspiração original e emanar dos interesses populares, inclusive na capacidade de resistir com a força necessária, é a democracia como valor que estará sendo derrotada.
Nossa democracia autoritária e elitista teve sua origem apenas com a vez e a voz de proprietários, homens e brancos. À medida que a roda da história ampliava a participação em direção à realidade social, foram sendo aprimorados os mecanismos de controle, de modo a permitir o voto, mas não o poder. O desprezo às formas de democracia participativa tem seu fundamento nesse enredo.
Uma representação que nunca expressou a composição real do país mantinha as rédeas do privilégio, com eventuais acenos em direção aos avanços populares, como caução de uma democracia de fachada. O sistema político formatado nesses moldes gerou um Estado corporativo, defensor de interesses do capital e dos valores burgueses, para não fugir à palavra exata. Enquanto arrotava o título de democracia, eram mantidos os ganhos do capital, a máquina burocrática excludente e o moralismo da classe média.
Nesse cenário, nada mais radical que a simples democracia. E é o pavor da democracia que faz da atual campanha eleitoral o momento mais crítico dessa trajetória histórica de mentiras. A democracia defendida pela ideologia conservadora se esmerou em extirpar todas as possibilidades reais de participação, mas precisava, até para manter minimamente sua coerência e aceitação no contexto mundial, defender as eleições livres. Agora nem isso.
As eleições, depois das vitórias seguidas do PT – mais socialdemocrata que de esquerda, mais de coalização que efetivamente popular – apontavam para uma alteração dos projetos da elite brasileira. Depois de tentar impedir a governabilidade, em manipulações jurídicas criativas e campanhas midiáticas indisfarçáveis, chegou a hora de jogar abertamente contra as regras do jogo.
Não bastou a sanha punitivista do Ministério Público, Polícia Federal e tribunais de todos os níveis, a retirada de uma presidenta eleita em processo reconhecidamente espúrio, a entronização de interventor obediente (embora impopular e rejeitado por seus patrocinadores), e mesmo a impugnação de um candidato virtualmente vitorioso. A própria democracia precisava ser ferida de morte.
As eleições de 2018 estão desenhando um cenário abertamente antidemocrático, no sentido forte da palavra. Mesmo que seja prudente manter a mobilização e disputar todos os espaços, vai ficando claro até onde esse jogo pode ir. Todo candidato que minimamente desafiar o esquema será imediatamente perseguido pelo aparato “legal”, secundado pela imprensa comercial. A eleição não está sendo livre, portanto, não é democrática.
Toda proposta que implicar em distribuição de renda, investimento social e defesa do patrimônio público será codificada como corrupta. Toda pesquisa de intenção de voto que apontar a preferência popular será descaracterizada ou mesmo engavetada, como se viu recentemente com o Ibope.
Qualquer tentativa de avançar em direção a propostas participativas será combatida com a ameaça da militarização explícita. Educação para a liberdade, segurança com direitos humanos e reforma agrária, por exemplo, serão tratadas com perda de autonomia, cabelo cortado à príncipe Danilo, repressão sexual, bandido morto e latifundiário armado até os dentes. A mesma lógica invade todas as outras esferas da vida pública.
É importante notar que não se trata de um projeto conservador - o que seria lamentável, mas legítimo -, mas de uma avassaladora onda antidemocrática, que começa manietando as eleições para depois consolidar práticas autoritárias como naturais e consequentes. A vitória desse programa não aponta apenas para a perda de conquistas importantes no campo dos direitos sociais, trabalhistas e humanos. Nem mesmo na mera contramarcha constitucional, gravemente regressiva.
A elite brasileira sempre detestou o povo, mas brincava de democracia. Agora parece não fazer questão de esconder seu ódio. Que ela continue dominando as regras do jogo da política é um risco muito grave para esperar o resultado das eleições. Derrubar presidentes parece ter se tornado fácil demais. Empunhar o cabo do chicote a partir da Justiça se mostrou uma estratégia vitoriosa.
Se a vida política brasileira não se aprofundar em sua inspiração original e emanar dos interesses populares, inclusive na capacidade de resistir com a força necessária, é a democracia como valor que estará sendo derrotada.
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