Por Renato Rovai, em seu blog:
Eleição não é uma caixinha de surpresas, como pensam alguns, e nem algo absurdamente previsível. É um misto das duas coisas, mas é sempre necessário levar em conta que o voto tem história.
E a história do voto em eleições presidenciais mostra que o PSDB sempre cresce na reta final, mesmo quando passou por péssimos momentos na campanha.
A primeira eleição do partido foi em 1989, depois de ter sido criado para a eleição municipal de 88, quando o PMDB rachou.
Naquela ocasião o candidato era Mário Covas, que havia sido eleito senador por São Paulo em 1986 com uma votação estrondosa.
Covas patinou o tempo todo nas pesquisas eleitorais na casa dos 5%, 6%. E para se benzer com o mercado fez inclusive um discurso histórico cujo defesa essencial era a de que o Brasil precisava de um choque de capitalismo.
Covas, pasmem, era tido como um político de esquerda naqueles tempos. E por isso não era de confiança da burguesia nacional. Esse discurso buscou mostrá-lo como alguém de centro, que não tinha as mesmas características de Brizola e Lula e que era mais responsável que Collor.
O recado não empolgou, a despeito da grande cobertura midiática, em especial da Folha de S. Paulo, que tratou aquele compromisso como um peça histórica.
Mas mesmo com uma campanha sem sal e modorrenta, ao final rolou uma onda Covas principalmente em São Paulo e ele teve 11,5% dos votos do país. Lula teve 17,2%.
Covas tirou alguns votos de Collor pra chegar onde chegou. E também de Lula. Principalmente porque o discurso era de que se fosse ele e não o petista o adversário de Collor no segundo turno as chances de vitória do campo progressista seriam maiores. Sim, amigos, o PSDB era considerado um partido do campo progressista.
Em 1994, o Plano Real transformou a eleição num plebiscito. E FHC só fez crescer desde o dia que foi lançado como candidato de Itamar.
Em 1998, num dado momento, FHC e Lula empatavam nas pesquisas. Foi quando o tucano enquadrou a mídia, segurou o valor do dólar a altíssimo custo para o país e conseguiu fechar a eleição sem necessidade de segundo turno.
Em todas as outras eleições o fenômeno se repetiu. Na reta final o PSDB cresceu.
Foi assim com Serra em 2002, quando ele acabou indo para o segundo turno contra Lula.
No começo de setembro daquele ano, Ciro esteve colado em Lula com 28%. Serra patinava em 14%, 15%. Ou seja, com quase metade dos seus votos.
Mas foi crescendo aos poucos e foi para o segundo turno, superando Garotinho e Ciro.
Em 2006, num dado momento a eleição parecia definida do primeiro turno. Mas Alckmin acelerou na última semana de uma forma espantosa e foi pra rodada final onde, ao final, teve menos votos do que no turno inicial.
É verdade que no primeiro tuno o caso dos aloprados influiu, mas o voto da elite voltou para o ninho porque costuma ser assim.
Em 2010, de novo. Dilma chegou a bater em 61% dos votos válidos num tracking realizado pelo iG a uns 20 dias da eleição. Mas nas últimas semanas com o crescimento de Marina e Serra deu segundo turno com o tucano.
Em 2014, que está mais aqui do lado do ponto de vista histórico, quase todos devem se recordar como Aécio subiu como um foguete na última semana. Abertas as urnas, muito petista passou a ter certeza que a eleição já era. O que acabou não sendo. Mas foi-se, com o golpe de 16.
Enfim, porque escrevo este longo artigo. Não acho que Alckmin vai para o segundo turno. Mas não acho (diria que tenho quase certeza) que ele não acabará com 9% dos votos válidos, como tem no Ibope e na MDA/CNT. Alckmin, na singela opinião deste blogueiro, não terá menos de 15% dos válidos. Talvez até um pouco mais. Tirará votos de Bolsonaro, principalmente em São Paulo, mas isso não será suficiente pra derrubar o capitão do cavalo da rodada final.
O blogueiro também aposta que Bolsonaro também não deve ter esses 35% dos votos válidos com os quais aparece nas pesquisas atuais.
É uma aposta. Sim, é uma aposta. Mas com base na história do voto. O PSDB sairá muito menor deste processo eleitoral. Mas seu tamanho não será o previsto por muitos analistas de esquerda.
Há um campo azul, uma elite que usa ternos e camisas de seda, que vai preferir não se misturar neste primeiro momento com o povo das botas sujas e chapéu de couro que começa a ir para o candidato do PSL. No segundo turno é outra história.
Eles podem voltar para o Bolsonaro ou a depender dos exageros do candidato ir dar uma volta em Miami no dia do pleito.
Mas a aposta do blogueiro é essa, o PSDB deve crescer nesta reta final, mas ficará fora do segundo turno. Isso, porém, será suficiente para que Bolsonaro não chegue tão forte na fase final da eleição.
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