Antes de sair para votar no próximo domingo, o eleitorado brasileiro poderia se fazer esta singela pergunta aí do título.
Pensem, por exemplo, em duas ou três coisas que ele tenha produzido em seus 28 anos como deputado federal ou nos anos em que serviu o Exército.
Não se tem notícia de nada que possa ter melhorado a vida dos brasileiros.
Qualquer cidadão brasileiro com mais de 35 anos pode ser candidato a presidente, claro, mas quando ele comunicou a seus colegas da bancada da bala que entraria em campanha, ainda no início de 2015, ninguém o levou a sério.
Parecia apenas mais uma bravata do deputado do baixo clero, que só chamava a atenção do plenário por seus discursos de ódio contra o PT e os movimentos sociais identitários (mulheres, negros, índios, gays) representados no parlamento.
Sem espaço na mídia e sem dar muita bandeira, Bolsonaro começou a montar silenciosamente uma ampla rede de apoiadores na internet, que se mobilizavam para recebê-lo em aeroportos e nas festas de formação de militares e policiais pelo Brasil afora. Criou-se o “Mito”, o candidato fake.
Assim que começaram a ser divulgadas as primeiras pesquisas presidenciais, seu nome já aparecia em segundo lugar, com cerca de metade das intenções de voto do ex-presidente Lula, empatado com a eterna candidata Marina Silva.
Não se dava muita bola para aquele tipo excêntrico e beligerante, achando que era só fogo de palha de eleitores em busca de uma “novidade”, um cavalo paraguaio destinado a guardar lugar para algum outro candidato de direita mais competitivo.
Mas o tempo passou, este candidato do establishment não se viabilizava, e a Justiça tratou de processar, condenar e prender Lula, até cassar definitivamente sua candidatura.
Sem Lula no páreo, o capitão reformado assumiu logo a liderança nas pesquisas, mas todos diziam que isso iria mudar assim que começasse o horário da propaganda eleitoral, em que ele só teria 8 segundos.
Estabilizado na faixa dos 20 pontos nas pesquisas, Bolsonaro jogou parado, sem apresentar qualquer projeto ou programa de governo, nem dizer o que pretendia fazer com o país caso fosse eleito, além de varrer o PT do mapa.
Aí aconteceu o episódio da facada em Juiz de Fora, o capitão passou de algoz a vítima, e dominou o noticiário político por várias semanas, enquanto o PT trocava Lula por Haddad, que logo subiria para o segundo lugar nas pesquisas.
Era tudo o que Bolsonaro precisava para não expor ao distinto público o seu absoluto despreparo para tratar de qualquer assunto de interesse nacional.
Com a velha política desmantelada pela Lava Jato, ele se apresentava como o candidato “fora do sistema”, embora fizesse parte dele por quase três décadas, a maior parte do tempo como deputado do PP de Paulo Maluf.
Agora ninguém se lembra disso porque ele é apresentado como o santo guerreiro “contra a corrupção”.
Seus anônimos colaboradores, um pequeno staff formado por três filhos, um advogado e um economista, chamado de “Posto Ipiranga”, aquele que tem todas as respostas, saíram então em busca de um partido de aluguel e, depois de namorar com vários, fixou-se no nanico PSL, tão desconhecido do grande público quanto o próprio candidato.
Depois de fracassar em várias tentativas para arrumar um vice civil, o capitão foi esnobado até pela pomba gira Janaína Paschoia, que acabaria eleita deputada estadual pelo PSL, com votação recorde.
Por falta de outras alternativas, o capitão só conseguiu arrumar um general de vice, certo Hamilton Mourão, o mesmo que já nos tinha ameaçado com uma intervenção militar pouco tempo antes.
A essa altura, porém, Bolsonaro poderia falar ou fazer o que bem quisesse, porque já tinha sido adotado pelo mercado e por setores da mídia, que desistiram dos outros nomes de direita anti-PT, por absoluta inviabilidade eleitoral.
Bolsonaro tornou-se então o único nome que sobrou para evitar a volta do PT ao poder.
E assim ele surfou no antipetismo até o final do primeiro turno, já beirando os 40% nas pesquisas.
No dia da eleição, subiu como um foguete, enquanto os votos eram apurados e, por pouco, não liquidou a fatura no primeiro turno.
Só agora ficamos sabendo como se deu a multiplicação dos votos das milícias bolsonaristas que, na esteira do capitão, elegeram um monte de cacarecos reacionários até outro dia anônimos.
A grande indústria de fake news montada pela guerrilha virtual, revelada esta semana pela repórter Patrícia Campos Mello, na Folha, foi uma verdadeira operação de guerra montada por um estado maior ainda misterioso, que apareceu na reta final da campanha do primeiro turno.
De nada adianta agora denunciar a manobra à Justiça Eleitoral, porque o estrago já estava feito por crimes continuados.
É jogo jogado, como costumam dizer os que defendem a velha máxima de que os fins justificam os meios.
Quem não gostou, que vá se queixar ao bispo, desde que não seja Edir Macedo, pois este já fechou o apoio incondicional da sua igreja midiática ao capitão.
Nosso Judiciário analógico, com toda sua pompa feita de ritos e rituais, agora vai levar anos para investigar o que aconteceu nesta guerra cibernética, para dar seu veredito quando o governo eleito, provavelmente, já estiver terminando.
Depois de Jânio Quadros e Fernando Collor, é bem provável que o Brasil eleja mais um salvador da pátria amalucado, sobre quem a maioria do eleitorado pouco sabe, nem quer saber, porque o importante agora é derrotar o professor Fernando Haddad e tudo o que ele representa na luta pela emancipação do povo brasileiro.
Não por acaso, a chapa militar ganhou nesta reta final o apoio ostensivo do vetusto Estadão, em fase terminal, o mesmo jornal que apoiou Jânio, o homem da vassoura, o golpe militar de 1964 e a candidatura do “caçador de marajás”, em 1989, para impedir a vitória de Lula ou de Brizola.
Se alguém souber o que o capitão reformado Jair Messias Bolsonaro fez na vida para ser eleito nosso presidente da República, por favor, me diga. Ou pergunte no “Posto Ipiranga”.
Mas tem que ser logo, porque agora só faltam 8 dias para o Brasil eleger seu destino.
Vida que segue.
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