Por Altamiro Borges
A estreia neste sábado (16) da jornalista Maju Coutinho como apresentadora do “Jornal Nacional”, o telejornal de maior audiência da tevê brasileira, teve forte impacto nas redes sociais. A maioria dos internautas parabenizou a profissional e a TV Globo. Já alguns fascistas, que saíram do esgoto com a onda conservadora que resultou na eleição de Jair Bolsonaro, destilaram seu ódio e preconceito. Como registrou a própria Maju Coutinho, em entrevista a Mauricio Stycer, do UOL, a repercussão da sua estreia do JN “é simbólica”, mas evidencia que o racismo ainda é uma realidade repugnante no Brasil.
Para ela, a repercussão se deve ao “ato simbólico de eu ser a primeira mulher negra a ocupar a bancada [em 50 anos de existência do JN]. É simbólico e, infelizmente, ainda é notícia. É uma comoção para uma população representativa do país que não se viu ainda contemplada naquela bancada... Tem de fato uma sub-representação. E as pessoas realmente estavam carentes disso. Ao observarem que há uma chance desse quadro começar a mudar…Tem a Zileide no JH, temos Heraldo no JN e na GloboNews…Obviamente que eu quero que chegue o tempo em que não se fale mais nisso, que sejamos confundidos… O meu sonho é que, realmente, isso não seja mais notícia um dia”.
Esse sonho, porém, ainda está muito longe de virar realidade, inclusive na tevê brasileira. Para alcançá-lo será necessário muita coragem e luta – e não posturas servis que negam a existência do racismo no Brasil, como expresso no livro escrito pelo diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel. Em meados de 2015, a própria Maju Coutinho foi alvo de ataques racistas nas redes sociais. Na ocasião, ela mesmo respondeu às ações criminosas em pleno Jornal Nacional: “Eu já lido com essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo, que é o mais importante”.
Na entrevista ao UOL, Mauricio Stycer inclusive lembra que a TV Globo voltou a ser criticada nos últimos dias em função das cenas de racismo explicito do BBB. Maju Coutinho responde: “Não estou assistindo. Acompanho o BBB pelas redes sociais e pelo que você escreve. Não parei para ver. Mas acompanho a repercussão. Claro eu ouvi essas polêmicas. Acho que o BBB é um microcosmo da nossa sociedade. Uma sociedade que tem racismo estrutural e isso está vindo à tona. E vir à tona, por mais dolorido que seja, também é uma maneira de forçar a sociedade a promover a reflexão para uma tentativa de mudança de pensamento. E eu espero que mude”.
Mauricio Stycer também poderia ter citado as pesadas críticas à emissora em função da ausência de atores negros na novela “Segundo Sol”, que estreou em maio passado. Na ocasião, a direção do império global afirmou, em uma nota arrogante enviada ao colunista, que “rejeita o critério de representatividade racial na escalação de elenco”. Apesar de ser ambientada na Bahia, onde 76% dos habitantes se declaram pretos ou pardos segundo o IBGE, o elenco contava apenas com três atores negros e em papeis secundários. Ainda naquela ocasião, o UOL apresentou um levantamento de outros preconceitos exibidos pelas novelas da TV Globo. Vale conferir alguns trechos da matéria:
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Homofobia, racismo, machismo: Os maus exemplos das novelas da Globo
Do UOL, no Rio - 13/4/2018
Não é de hoje que a Globo comete deslizes e dá maus exemplos em suas novelas. A emissora até admite alguns erros, volta atrás e recentemente, em "O Outro Lado do Paraíso", passou a alertar o público a denunciar casos de violência contra a mulher, racismo e pedofilia. Veja alguns desses equívocos.
Gordofobia e machismo
No ano passado, a novela "Malhação" exibiu uma cena polêmica entre os personagens Giovane (Ricardo Vianna) e Joana (Aline Dias). Na conversa, o jovem fez um pedido à namorada: "Promete que você vai ficar bem gorda para os caras pararem de chegar em você?" Na internet, choveram críticas à Globo pelo mau exemplo dado para as adolescentes, público alvo da novela.
Racismo
Ao longo de "O Outro Lado do Paraíso", Nádia (Eliane Giardini) chocou o público com ofensas racistas ditas para Raquel, sua empregada que acabou virando sua nora. Entre os absurdos ditos pela personagem estão: "Meu filho jamais se casará com uma preta!"; "Graças a Deus me livrei da preta"; e "Não quero ter netos torrados! A minha família é branca!" O jogo virou quando o outro filho de Nádia deu à ela um neto negro, por quem ela está perdidamente apaixonada.
Homofobia
Adnéia dá um show de preconceito com o relacionamento do filho Samuel (Eriberto Leão) e Cido (Rafael Zulu) em "O Outro Lado do Paraíso". A personagem já disse mais de uma vez na novela acreditar a "cura gay" e faz de tudo para empurrar o filho para Suzy (Ellen Roche). Em "Amor à Vida" (2013), Félix (Mateus Solano) foi desprezado pelo próprio pai, César (Antônio Fagundes), que chegou a dar uma surra de cinto nele e a proibi-lo de se assumir publicamente. No final da novela, pai e filho se entenderam e acabaram unidos. Em "Duas Caras" (2007), Bernardinho (Thiago Mendonça) foi flagrado na cama com Carlão (Lugui Palhares) e deixou o pai Bernardo (Nuno Leal Maia) revoltado. Na ocasião, a madrasta Amara (Mara Manzan) sugeriu que ele fosse submetido a uma sessão de exorcismo para "deixar de ser gay".
Violência contra a mulher
A ideia foi incentivar que mulheres que são violentadas por seus companheiros não tenham medo de denunciá-los. Mas as cenas iniciais de "O Outro Lado do Paraíso", nas quais Gael (Sérgio Guizé) agredia Clara (Bianca Bin) por ciúmes, foram fortes demais e chocaram o público. O incômodo piorou com a reaproximação da mocinha e de seu algoz. "Só volto a assistir a novela quando a Clara voltar com o Patrick porque não aceito ela com o agressor do Gael, ou seja, só vou voltar a ver na última semana", escreveu uma internauta. A Globo já abordou o tema em outras novelas. Em "Mulheres Apaixonadas", Raquel (Helena Ranaldi) era agredida com frequência pelo marido Marcos (Dan Stulbach) e tinha medo de denunciá-lo. No remake de "Gabriela", o coronel Jesuíno (José Wilker) costumava dizer para Sinhazinha (Maitê Proença): "Hoje eu vou lhe usar". Ciumento e descontrolado, ele matou a mulher e o amante ao flagra-los juntos na cama.
A estreia neste sábado (16) da jornalista Maju Coutinho como apresentadora do “Jornal Nacional”, o telejornal de maior audiência da tevê brasileira, teve forte impacto nas redes sociais. A maioria dos internautas parabenizou a profissional e a TV Globo. Já alguns fascistas, que saíram do esgoto com a onda conservadora que resultou na eleição de Jair Bolsonaro, destilaram seu ódio e preconceito. Como registrou a própria Maju Coutinho, em entrevista a Mauricio Stycer, do UOL, a repercussão da sua estreia do JN “é simbólica”, mas evidencia que o racismo ainda é uma realidade repugnante no Brasil.
Para ela, a repercussão se deve ao “ato simbólico de eu ser a primeira mulher negra a ocupar a bancada [em 50 anos de existência do JN]. É simbólico e, infelizmente, ainda é notícia. É uma comoção para uma população representativa do país que não se viu ainda contemplada naquela bancada... Tem de fato uma sub-representação. E as pessoas realmente estavam carentes disso. Ao observarem que há uma chance desse quadro começar a mudar…Tem a Zileide no JH, temos Heraldo no JN e na GloboNews…Obviamente que eu quero que chegue o tempo em que não se fale mais nisso, que sejamos confundidos… O meu sonho é que, realmente, isso não seja mais notícia um dia”.
Esse sonho, porém, ainda está muito longe de virar realidade, inclusive na tevê brasileira. Para alcançá-lo será necessário muita coragem e luta – e não posturas servis que negam a existência do racismo no Brasil, como expresso no livro escrito pelo diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel. Em meados de 2015, a própria Maju Coutinho foi alvo de ataques racistas nas redes sociais. Na ocasião, ela mesmo respondeu às ações criminosas em pleno Jornal Nacional: “Eu já lido com essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo, que é o mais importante”.
Na entrevista ao UOL, Mauricio Stycer inclusive lembra que a TV Globo voltou a ser criticada nos últimos dias em função das cenas de racismo explicito do BBB. Maju Coutinho responde: “Não estou assistindo. Acompanho o BBB pelas redes sociais e pelo que você escreve. Não parei para ver. Mas acompanho a repercussão. Claro eu ouvi essas polêmicas. Acho que o BBB é um microcosmo da nossa sociedade. Uma sociedade que tem racismo estrutural e isso está vindo à tona. E vir à tona, por mais dolorido que seja, também é uma maneira de forçar a sociedade a promover a reflexão para uma tentativa de mudança de pensamento. E eu espero que mude”.
Mauricio Stycer também poderia ter citado as pesadas críticas à emissora em função da ausência de atores negros na novela “Segundo Sol”, que estreou em maio passado. Na ocasião, a direção do império global afirmou, em uma nota arrogante enviada ao colunista, que “rejeita o critério de representatividade racial na escalação de elenco”. Apesar de ser ambientada na Bahia, onde 76% dos habitantes se declaram pretos ou pardos segundo o IBGE, o elenco contava apenas com três atores negros e em papeis secundários. Ainda naquela ocasião, o UOL apresentou um levantamento de outros preconceitos exibidos pelas novelas da TV Globo. Vale conferir alguns trechos da matéria:
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Homofobia, racismo, machismo: Os maus exemplos das novelas da Globo
Do UOL, no Rio - 13/4/2018
Não é de hoje que a Globo comete deslizes e dá maus exemplos em suas novelas. A emissora até admite alguns erros, volta atrás e recentemente, em "O Outro Lado do Paraíso", passou a alertar o público a denunciar casos de violência contra a mulher, racismo e pedofilia. Veja alguns desses equívocos.
Gordofobia e machismo
No ano passado, a novela "Malhação" exibiu uma cena polêmica entre os personagens Giovane (Ricardo Vianna) e Joana (Aline Dias). Na conversa, o jovem fez um pedido à namorada: "Promete que você vai ficar bem gorda para os caras pararem de chegar em você?" Na internet, choveram críticas à Globo pelo mau exemplo dado para as adolescentes, público alvo da novela.
Racismo
Ao longo de "O Outro Lado do Paraíso", Nádia (Eliane Giardini) chocou o público com ofensas racistas ditas para Raquel, sua empregada que acabou virando sua nora. Entre os absurdos ditos pela personagem estão: "Meu filho jamais se casará com uma preta!"; "Graças a Deus me livrei da preta"; e "Não quero ter netos torrados! A minha família é branca!" O jogo virou quando o outro filho de Nádia deu à ela um neto negro, por quem ela está perdidamente apaixonada.
Homofobia
Adnéia dá um show de preconceito com o relacionamento do filho Samuel (Eriberto Leão) e Cido (Rafael Zulu) em "O Outro Lado do Paraíso". A personagem já disse mais de uma vez na novela acreditar a "cura gay" e faz de tudo para empurrar o filho para Suzy (Ellen Roche). Em "Amor à Vida" (2013), Félix (Mateus Solano) foi desprezado pelo próprio pai, César (Antônio Fagundes), que chegou a dar uma surra de cinto nele e a proibi-lo de se assumir publicamente. No final da novela, pai e filho se entenderam e acabaram unidos. Em "Duas Caras" (2007), Bernardinho (Thiago Mendonça) foi flagrado na cama com Carlão (Lugui Palhares) e deixou o pai Bernardo (Nuno Leal Maia) revoltado. Na ocasião, a madrasta Amara (Mara Manzan) sugeriu que ele fosse submetido a uma sessão de exorcismo para "deixar de ser gay".
Violência contra a mulher
A ideia foi incentivar que mulheres que são violentadas por seus companheiros não tenham medo de denunciá-los. Mas as cenas iniciais de "O Outro Lado do Paraíso", nas quais Gael (Sérgio Guizé) agredia Clara (Bianca Bin) por ciúmes, foram fortes demais e chocaram o público. O incômodo piorou com a reaproximação da mocinha e de seu algoz. "Só volto a assistir a novela quando a Clara voltar com o Patrick porque não aceito ela com o agressor do Gael, ou seja, só vou voltar a ver na última semana", escreveu uma internauta. A Globo já abordou o tema em outras novelas. Em "Mulheres Apaixonadas", Raquel (Helena Ranaldi) era agredida com frequência pelo marido Marcos (Dan Stulbach) e tinha medo de denunciá-lo. No remake de "Gabriela", o coronel Jesuíno (José Wilker) costumava dizer para Sinhazinha (Maitê Proença): "Hoje eu vou lhe usar". Ciumento e descontrolado, ele matou a mulher e o amante ao flagra-los juntos na cama.
1 comentários:
Essas novelas da GLOBO,estao dando espacos para outras emissoras como as novelas da BAND e da RECORD. Eu nao assisto mais novelas da GLOBO.
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