Por Ayrton Centeno, no jornal Brasil de Fato:
Há um novo animal na selva política do Planalto Central. É um espécime diferenciado. Trata-se de um predador, instalado no topo da cadeia alimentar do universo regressista abancado em Brasília. Enquanto a maioria da fauna bolsonarista se engalfinha, demarcando seu território com urina, em meio a guinchos, berros e zurros, este forasteiro no matagal político pragmaticamente amplia seu espaço, passo a passo. É o general Antônio Hamilton Martins Mourão.
Recém no segundo mês de governo, é de pasmar a desenvoltura do vice de Jair Bolsonaro. Abriu uma clareira na floresta e cavou sua trincheira. Dali contraria, emenda ou torpedeia ideias, projetos ou decisões emanadas de ministros ou do gabinete presidencial. Sobretudo as mais desatinadas.
Foi assim com a transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém e a oferta aos EUA de uma base militar em território nacional. Descartou as duas mudanças e, de quebra, reuniu-se com o embaixador palestino e com a Câmara de Comércio Árabe. O deputado Jean Wyllys (PSol/RJ) partiu para o exílio por conta de ameaças de morte. Em resposta, o inimigo político de Wyllys e alvo de sua cusparada, Bolsonaro, postou “Grande dia” no twitter. Na contramão, o vice advertiu que “quem ameaça parlamentar está cometendo um crime contra a democracia”. E recebeu a CUT em audiência…
No primeiro momento, quando Onyx Lorenzoni foi acusado de caixa 2, seu colega da Justiça, Sérgio Moro, preferiu colocar panos quentes. Mas Mourão avisou que, caso culpado, o ministro-chefe da Casa Civil terá que deixar o cargo. Sobre as suspeitas de relações com milícias por parte do senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), enfatizou ser preciso “apurar e punir se for o caso”.
Com Bolsonaro em Davos, o vice assumiu a presidência e, de imediato, deu entrevista dizendo que a facilitação do acesso à armas de fogo – pleito bolsonarista desde sempre – não tem efeito contra a violência. E quando Lula foi impedido de velar e sepultar um irmão, comentou que o comparecimento do ex-presidente ao velório era “uma questão de humanidade”.
Mourão já chegou a definir o radicalismo bolsonarista como “meio boçal”. Valeu-se de um termo, boçal, que a oposição empregou – e emprega – nas redes sociais com frequência para descrever o bolsonarismo e o próprio Bolsonaro.
Para fúria do fundamentalismo evangélico, declarou que o aborto é uma decisão que cabe à mulher. O desconforto do entorno presidencial com a desinibição do vice teria levado a prole presidencial a mobilizar o guru do regime, o escritor Olavo de Carvalho, para fustigar Mourão. Verdade ou mentira, o fato é que Carvalho despejou-lhe uma rajada de tuítes. “Trate de honrar essa farda antes que ela o vomite” e “charlatão desprezível” foram dois deles. Mourão não respondeu mas pessoas próximas ao vice reproduziram sua reação: “Todos nós sabemos que ele (Carvalho) não passa nem no teste psicotécnico do Detran”, teria dito.
Além de tentar imprimir alguma racionalidade numa gestão manicomial, Mourão parece interessado em cativar quem acha Bolsonaro uma demasia. O presidente teve uma grande votação – 58 milhões – mas 89 milhões negaram-lhe o voto. No espectro político, é um contingente que abarca toda a esquerda e grande parte do centro. Talvez suponha que sem um abrandamento da insensatez será difícil governar apenas brandindo os tacapes do bolsonarismo raiz.
Mas não é permitido pensar em qualquer mansidão do novo animal na floresta. Muito menos esquecer sua campanha pregando o fim do 13º salário, afirmando que lares dirigidos por mulheres geram filhos desajustados e elogiando o embranquecimento da raça. Antes, ainda no Comando Militar do Sul, tolerou homenagem ao torturador Brilhante Ustra.
Mourão virou um grilo falante não apenas por seu perfil verborrágico. Com um governo apinhado de fardas verde-oliva não fala sozinho. Traduz, aparentemente, certo incômodo com uma administração de principiantes, tisnados pela convivência com laranjas e milícias. O rumo é de colisão frontal. Quando se dará não se sabe.
O capitão, seus comprometimentos e suas limitações não são facilmente digeríveis pela caserna. O general é um osso entalado na garganta do capitão. A cada dia, parece mais evidente o desejo de cada lado destruir o outro. Boa sorte a ambos.
Recém no segundo mês de governo, é de pasmar a desenvoltura do vice de Jair Bolsonaro. Abriu uma clareira na floresta e cavou sua trincheira. Dali contraria, emenda ou torpedeia ideias, projetos ou decisões emanadas de ministros ou do gabinete presidencial. Sobretudo as mais desatinadas.
Foi assim com a transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém e a oferta aos EUA de uma base militar em território nacional. Descartou as duas mudanças e, de quebra, reuniu-se com o embaixador palestino e com a Câmara de Comércio Árabe. O deputado Jean Wyllys (PSol/RJ) partiu para o exílio por conta de ameaças de morte. Em resposta, o inimigo político de Wyllys e alvo de sua cusparada, Bolsonaro, postou “Grande dia” no twitter. Na contramão, o vice advertiu que “quem ameaça parlamentar está cometendo um crime contra a democracia”. E recebeu a CUT em audiência…
No primeiro momento, quando Onyx Lorenzoni foi acusado de caixa 2, seu colega da Justiça, Sérgio Moro, preferiu colocar panos quentes. Mas Mourão avisou que, caso culpado, o ministro-chefe da Casa Civil terá que deixar o cargo. Sobre as suspeitas de relações com milícias por parte do senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), enfatizou ser preciso “apurar e punir se for o caso”.
Com Bolsonaro em Davos, o vice assumiu a presidência e, de imediato, deu entrevista dizendo que a facilitação do acesso à armas de fogo – pleito bolsonarista desde sempre – não tem efeito contra a violência. E quando Lula foi impedido de velar e sepultar um irmão, comentou que o comparecimento do ex-presidente ao velório era “uma questão de humanidade”.
Mourão já chegou a definir o radicalismo bolsonarista como “meio boçal”. Valeu-se de um termo, boçal, que a oposição empregou – e emprega – nas redes sociais com frequência para descrever o bolsonarismo e o próprio Bolsonaro.
Para fúria do fundamentalismo evangélico, declarou que o aborto é uma decisão que cabe à mulher. O desconforto do entorno presidencial com a desinibição do vice teria levado a prole presidencial a mobilizar o guru do regime, o escritor Olavo de Carvalho, para fustigar Mourão. Verdade ou mentira, o fato é que Carvalho despejou-lhe uma rajada de tuítes. “Trate de honrar essa farda antes que ela o vomite” e “charlatão desprezível” foram dois deles. Mourão não respondeu mas pessoas próximas ao vice reproduziram sua reação: “Todos nós sabemos que ele (Carvalho) não passa nem no teste psicotécnico do Detran”, teria dito.
Além de tentar imprimir alguma racionalidade numa gestão manicomial, Mourão parece interessado em cativar quem acha Bolsonaro uma demasia. O presidente teve uma grande votação – 58 milhões – mas 89 milhões negaram-lhe o voto. No espectro político, é um contingente que abarca toda a esquerda e grande parte do centro. Talvez suponha que sem um abrandamento da insensatez será difícil governar apenas brandindo os tacapes do bolsonarismo raiz.
Mas não é permitido pensar em qualquer mansidão do novo animal na floresta. Muito menos esquecer sua campanha pregando o fim do 13º salário, afirmando que lares dirigidos por mulheres geram filhos desajustados e elogiando o embranquecimento da raça. Antes, ainda no Comando Militar do Sul, tolerou homenagem ao torturador Brilhante Ustra.
Mourão virou um grilo falante não apenas por seu perfil verborrágico. Com um governo apinhado de fardas verde-oliva não fala sozinho. Traduz, aparentemente, certo incômodo com uma administração de principiantes, tisnados pela convivência com laranjas e milícias. O rumo é de colisão frontal. Quando se dará não se sabe.
O capitão, seus comprometimentos e suas limitações não são facilmente digeríveis pela caserna. O general é um osso entalado na garganta do capitão. A cada dia, parece mais evidente o desejo de cada lado destruir o outro. Boa sorte a ambos.
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