sábado, 16 de fevereiro de 2019

Âncora da Globo pede demissão ao vivo

Por Altamiro Borges

A crise do modelo de negócios da mídia monopolista  decorrente da explosão da internet, da perda de credibilidade de seus veículos, da incompetência dos gestores familiares e da crise econômica que a própria imprensa tenta esconder, entre outros fatores  segue vitimando seus profissionais. A onda de demissões, precarização do trabalho e arrocho salarial não atinge apenas os trabalhadores dos jornalões e revistonas. Ela também produz duros golpes nas emissoras de rádio e tevê. Nos últimos dias, ela atingiu com força uma importante afiliada da Rede Globo, a TV Verdes Mares, do Ceará. A crise só se tornou pública porque um dos seus jornalistas, o apresentador Kaio Cézar, pediu demissão ao vivo durante o encerramento do Globo Esporte neste sábado (16).

De forma corajosa, o profissional afirmou ao se despedir dos telespectadores: "Bom, pessoal, Globo Esporte ficando por aqui. Quero dizer que eu também fico. Porque neste momento estou pedindo demissão do Sistema Verdes Mares. Não abro mão do respeito, nem da dignidade para estar em lugar nenhum". O seu protesto foi contra a forma truculenta e covarde como a empresa tem imposto o seu programa de reestruturação, com demissões, retirada de direitos e assédio. Reproduzo abaixo a nota do Sindicato dos Jornalistas do Ceará contra as arbitrariedades do grupo empresarial.

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Nota de Solidariedade ao Jornalista Kaio Cézar

O pedido de demissão ao vivo do jornalista Kaio Cézar, durante o encerramento do Globo Esporte, da TV Verdes Mares, afiliada da Globo no Ceará, neste sábado (16/02), é um dos capítulos mais cruéis da crise gerada pelo processo de integração das redações dos veículos pertencentes ao Sistema Verdes Mares.

A unificação das redações da TV Verdes Mares, do G1 CE, da TV Diário, do Diário do Nordeste e da Rádio Verdes Mares, além de ter colocado nas ruas mais de 30 jornalistas e radialistas nos últimos meses, gerou uma série de irregularidades trabalhistas, como jornada de trabalho extenuante, acúmulo de tarefas, desvio de funções e assédios.

Segundo relato de colegas, também funcionários do SVM, o estopim para o ato de Kaio foi o fato de estar há um mês sem folgas, além de produzindo, redigindo, editando e ancorando quadros e programas. O profissional, inclusive, foi um dos demitidos da rádio Verdes Mares AM, no último passaralho registrado. Ou seja, Kaio Cézar passou a ter um único salário, enquanto continuava a trabalhar para a rádio, mesmo sendo remunerado somente pela TV.

Não foi à toa que, hoje, o trabalhador se despediu com o texto: “Bom, pessoal, Globo Esporte ficando por aqui. Quero dizer que eu também fico. Porque neste momento estou pedindo demissão do Sistema Verdes Mares. Não abro mão do respeito, nem da dignidade para estar em lugar nenhum”, anunciou no encerramento do Globo Esporte.

A realidade enfrentada pelo jornalista é, infelizmente, comum a quase todos os funcionários. Desde que uma consultoria milionária conduziu o desastroso processo de modificação das redações, os únicos resultados são o aumento da precarização, das pressões e dos adoecimentos. Há informações inclusive do uso desenfreamento de medicamentos contra ansiedade e antidepressivos.

Quem ainda está no SVM diz: “O Sistema mudou desde a integração, não tem pagado horas extras a ninguém, muita gente acumulando funções, fazendo o serviço de dois ou três trabalhadores que foram desligados”. Outra pessoa narrou: “o pessoal trabalha que nem escravo”.

Todo este universo de problemas vem sendo acompanhado pelo Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), que, desde o primeiro movimento das empresas, das demissões à instalação das novas rotinas, cobrou mediação com a direção do SVM, que foi negada, o que levou à produção de denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT).

O procedimento no MPT é acompanhado pelo procurador chefe do órgão, Francisco José Parente Vasconcelos Júnior, que requisitou uma série de documentos, como contracheques, aditivos de contratos de trabalho e comprovantes de controle de jornada de 50% dos jornalistas empregados nos veículos.

Infelizmente, a tradição dos donos do SVM é de opressão e de intransigência, comprovados não só pela situação vexatória atual. A organização impede o acesso do Sindjorce à redação há pelo menos 4 anos e também realizou, por quase duas décadas, a contratação irregular de jornalistas como radialistas pela TV Verdes Mares, TV Diário e Verdinha, que só está sendo corrigida agora, após condenações judiciais que já renderam mais de R$ 2,6 milhões em indenizações.

Sindjorce e Fenaj prestam solidariedade

O Sindicato dos Jornalistas e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) prestam total solidariedade. Logo após tomar conhecimento da demissão de Kaio César, na tarde deste sábado, diretores do sindicato foram até a porta da empresa prestar apoio ao colega, além de conversar com outros trabalhadores, que confirmaram a precarização, a pressão e o assédio enfrentados.

“A categoria precisa reagir a altura ao nível de precarização que as empresas jornalísticas querem nos impor. Kaio, parabéns pela sua atitude, que demonstra dignidade. Que outros se inspirem e lutemos todos juntos”, disse Samira de Castro, presidente do Sindjorce.

A dirigente, inclusive, tentou contato com o apresentador e informa que a organização sindical coloca toda a sua estrutura, assim como assessoria jurídica, à disposição do profissional.

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