sábado, 30 de março de 2019

Generais e Bolsonaro 'arregam' sobre ditadura

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Os comandos militares que queriam comemorar a ditadura militar mesmo após o chefe ter “arregado” e mudado o foco de “comemorar” para “rememorar”, também “arregaram” e, agora, não vão “comemorar” o golpe; apenas irão analisar o período de trevas. A pressão internacional pôs Bolsonaro e milicos golpistas nos seus devidos lugares.

Na última quinta-feira (28/3), Bolsonaro mudou a conversa sobre o próximo dia 31 de março, quando o golpe militar de 1964 completará 55 anos; disse que não mandou “comemorar” o golpe, mas, sim, “rememorar”, o que, como todos sabem, é mentira.

O recuo de Bolsonaro não foi à toa. A pressão democrática explodiu na cara dele e dos milicos golpistas. Além do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública da União, várias ações populares foram protocoladas na Justiça com vistas a impedir o revisionismo histórico e um crime de responsabilidade, já que a Comissão da Verdade tornou posição de Estado o fato de que houve um golpe e uma ditadura militar no Brasil.

Violar esses cânones legais pode custar o mandato de Bolsonaro e os cargos dos chefes militares que o seguirem, sem prejuízo de outras sanções legais.

Mas a pressão aumentou ainda mais e não se resumiu ao Brasil. A Ordem dos Advogados do Brasil deu início à denunciação internacional do movimento de revisionismo histórico ilegal que o presidente da República, chefes militares e grupos de extrema-direita começaram a empreender.

A OAB e o Instituto Vladmir Herzog denunciaram Bolsonaro à ONU por recomendar que os quartéis promovessem uma “comemoração adequada” do golpe militar de 1964.

O maior organismo multilateral do planeta não hesitou em dar resposta à OAB e, nesta sexta-feira, emitiu um comunicado em que condena a atitude de revisionismo histórico criminoso empreendido pelo governo do país e por grupos militares extremistas de direita.

Segundo a Agência de Notícias Rádio França Internacional, a ONU divulgou comunicado nesta sexta-feira (29 de março) no qual pede para que Bolsonaro “reconsidere” os planos de comemoração do aniversário do golpe militar no Brasil, ocorrido em 31 de março de 1964.

Em entrevista à RFI, o relator especial da ONU sobre a promoção da verdade, justiça, reparação e garantias de não-repetição, Fabián Salvioli, explicou que o Brasil está correndo um risco de “isolamento” internacional por ter um governo que faz apologia de violações de direitos humanos – no caso, negando as violações da ditadura militar brasileira.

Confira um trecho da entrevista com Salvioli:

RFI – Essa postura de Bolsonaro gera consequências junto à comunidade internacional? Pode isolar o país?

Fabián Salvioli – Sim, absolutamente. O Brasil sempre se comprometeu em compromissos internacionais nesse sentido. A diplomacia do Brasil sempre foi muito séria. Mas vemos um recuo, um recuo evidente e com consequências muito graves (…)


Diante disso, na tarde desta sexta-feira, dois dias antes da data que os militares querem comemorar, os chefes militares mudam o discurso sobre as solenidades relativas ao 31 de março e, agora, dizem, como Bolsonaro, que as solenidades não serão comemorativas do golpe, mas “alusivas” a ele – ou seja: serão solenidades que “analisarão” o golpe.

Por mais que seja negativo qualquer tipo de lembrança sobre o golpe de 1964 que não seja para criticá-lo e denunciá-lo, a pressão nacional e internacional impediu um grande circo que Bolsonaro e os milicos tentariam fazer para exaltar com fogos de artifício um movimento criminoso empreendido por covardes e que chegou a torturar crianças e estuprar mulheres.

Que, agora, o Judiciário trate de ser responsável e puna Bolsonaro e os milicos que violaram as conclusões da Comissão da Verdade, que constituem a posição oficial do Estado brasileiro sobre a ditadura militar. Afinal, apesar dos recuos retóricos, houve e haverá cerimônias que, no mínimo, deixarão de condenar os crimes ocorridos no país entre 1964 e 1985.

Confira a reportagem em vídeo [aqui].

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