sábado, 2 de março de 2019

TV manipula seus espectadores com imagens

Do site Carta Maior:

O documentário A revolução não será televisionada*retrata como a mídia corporativa usa o monopólio dos meios de comunicação para estimular, induzir e promover golpes de estado – no caso, a Venezuela do ano de 2002 e a América Latina. Mostra a tentativa fracassada de golpe que conseguiu depor durante apenas 48 horas o presidente Hugo Chávez, num mesmo processo de manipulação da comunicação de massa que a mídia tentou e ainda tenta no Brasil de hoje. O empresário Pedro Carmona foi declarado chefe de estado durante dois dias, quando então a situação política voltou a ser controlada pelas forças de Chávez.

A Revolução Não Será Televisionada, também conhecido como Chávez: Bastidores: Inside The Coup, foi filmado e dirigido por dois cineastas irlandeses, Kim Bartley e Donnacha O’Brian, que mostram como o golpe perdeu força, e o presidente retomou o poder. O documentário mostra como era a vida cotidiana dos venezuelanos entre a época em que aconteceu derrubada do governo e a recuperação de Hugo Chávez.

Não foi mostrado comercialmente no Brasil, mas, semelhante ao que ocorreu na Venezuela, centenas de cópias ilegais passaram de mão em mão em 2003. Transformou-se em um filme-fetiche.

O doc nasceu por acaso, mas também graças ao trabalho da equipe de TV estatal irlandesa (Rádio Telefís Éirieann) que se encontrava em Caracas, no Palácio de Miraflores, para fazer um documentário/perfil sobre Chávez. Ao perceber a agitação política no país, os autores direcionaram seu foco para os acontecimentos que levaram à deposição e ao retorno do presidente.

Para os irlandeses, o foco das filmagens mudou no dia 11 de abril quando começaram os eventos de tentativa de golpe do governo eleito democraticamente e que contrariava – como até hoje contraria – os interesses das elites locais, dos EUA e das corporações do petróleo; ele apresenta a reação da população inconformada lutando por Chavez.

As imagens denunciam a relação da mídia com a elite econômica, evidenciam como essa mídia manipula os fatos para construir uma realidade que a favorece e desmascaram a manipulação de outras imagens: aquelas feitas pela mídia privada venezuelana.

A farsa consiste em exibir manifestantes chavistas atirando, num ângulo que não mostra os alvos dos disparos. Repetidas várias vezes na televisão, as imagens falsas dão a entender que Chávez era o culpado pelas mortes daquele dia.

É o aspecto mais importante do documentário, essa revelação da manipulação dos canais de televisão comerciais sobre os responsáveis pelos assassinatos de manifestantes no dia 11 de abril de 2002. Todos os canais privados (comerciais) de televisão, junto com a imprensa escrita e radiofônica, justificaram o golpe de estado de 11 de abril com uma edição de imagens em que aparece um grupo de apoiadores de Chavez, situados na Ponte Llaguno de Caracas, realizando disparos. Essas imagens foram utilizadas para afirmar que "Chávez ordenou disparar contra a multidão".

A revolução não será televisionada demonstra, ao apresentar a edição completa da sequência de imagens (manipulada na edição das TVs), que os grupos situados na Ponte Llaguno de Caracas respondem ao fogo de franco-atiradores. Estes sim atiram nos manifestantes.

E o ponto alto do documentário que se tornou emblemático é registrar a força das massas que derrotam os golpistas e restituem o governo a Hugo Chavez.

O povo saiu às ruas na manhã do dia 13 de abril para denunciar que Chavez "não renunciou! Está sequestrado!" e "não te queremos Carmona! Ladrão!" Centenas de milhares de pessoas nas ruas cercaram o Palácio Miraflores para exigir "Queremos a Chavez!" e clamar "Chavez amigo, o povo está contigo!"

Como se percebe, pouco mudou o olho gordo e insolente dos governos dos Estados Unidos nas riquezas petrolíferas que se encontram na sua "porta dos fundos".

E nada mudou na manipulação da mídia.

* Disponível no youtube e legendado em português (clique aqui).

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