Franca/SP, 15/5/19. Foto: Eliara Alvarez/Mídia Ninja |
“Ô, Bolsonaro, preste atenção: a juventude vai fazer revolução”, dizia um grito de guerra dos estudantes. E foi o que pareceu ontem. Em todo o Brasil, as ruas das capitais e de mais de 200 cidades, grandes e pequenas, se encheram de gente para protestar contra o governo Jair Bolsonaro e os cortes de recursos para a educação, sobretudo as universidades e institutos federais.
Em São Paulo, a Avenida Paulista foi tomada (assista o vídeo). A multidão se estendia desde a Rua da Consolação por mais de um quilômetro e meio e ultrapassava as imediações da Fiesp, a federação das indústrias, sempre vaiada por sua participação no golpe de 2016.
Era tanta gente que ficava difícil encontrar os amigos. Quando isso acontecia, o que se viam eram abraços apertados, olhares vibrantes, sorrisos largos. A alegria de encontrar “um dos seus” nas ruas, clamando por direitos, não tem preço.
Estudantes, professores, trabalhadores lotavam as estações de metrô que pareciam formigueiros e subiam as escadarias para se somar ao ato. “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com formiga não atiça o formigueiro”, ilustrava um dos tantos gritos de guerra.
Havia movimentos organizados e cidadãos indignados. Bandeiras de sindicatos, movimentos sociais, partidos, compartilhavam espaço com cartazes feitos a mão no calor do dia. Alguns já respondiam à ofensa de Jair Bolsonaro, que dos Estados Unidos, num ambiente em que não era bem-vindo, chamou os brasileiros preocupados com educação de "idiotas úteis".
Houve quem comparasse com as manifestações de 2013. Mas as diferenças eram claras, começando pelo fato de que nenhum “grande” veículo de comunicação usou sua programação para inchar as ruas ontem – muitos ignoraram por completo. A mídia comercial acabou capitulando, surpreendida pelo sucesso de uma manifestação em que diferentes setores da sociedade encontraram uma bandeira que os une.
O ato paulista, marcado para 14h, encorpava ao avançar das horas. Quem saia da labuta, se juntava à luta. Conforme o expediente acabava, o cordão humano que da Paulista desceu a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, rumo à Assembleia Legislativa de São Paulo, se agigantava.
Palavras de ordem das antigas se misturavam às mais atuais. "Ei, burguês, a culpa é de vocês" ou “Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu, aqui está presente o movimento estudantil”, eram entoadas ao mesmo tempo que “Não vou parar de perguntar: a Marielle, quem mandou matar?”.
Num caminhão de som, uma imagem, atacada por aqueles que tiram verbas do ensino público era reverenciada. Todos queriam uma foto tendo como fundo um painel do pedagogo Paulo Freire e seus dizeres sob o poder transformador da educação.
Os atos, que reuniram mais de 1 milhão de pessoas Brasil afora, segundo estimativa parcial divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), não deixavam dúvida sobre esse poder. O saber transforma e não tem volta. Felizmente.
Em todos os gritos, nas longas caminhadas, nos atos que reuniram gente de todo tipo – de esquerda, de centro, politizados, apolíticos, jovens, velhos, crianças – o objetivo era um só: defender a educação pública e o futuro do Brasil.
Ficou mantida a promessa, ouvida em tantas outras oportunidades e que nunca falhou: não vai ter arrego. Pelo tamanho e capilaridade das centenas de atos pelo país, é bom o governo se acostumar com a ideia: ninguém vai sair da rua. Novos protestos já estão convocados para 30 de maio e a greve geral, de 14 de junho, foi aprovada em assembleia simbólica na região da Paulista.
“Tira a mão da nossa aposentadoria, tira a mão da educação”, gritava uma liderança do alto do carro de som quando a enorme passeata chegava ao Ibirapuera. Já passava das 18h30 e muita gente, mas muita gente mesmo, ainda descia a Brigadeiro. Era a São Paulo formigueiro, do chão, na defesa do futuro agora.
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