Praça da República, São Paulo/SP. Foto: Ricardo Stuckert |
Nem a chuva chata e incessante reduziu a energia e a alegria dos milhares de participantes no domingo (2) do Festival Lula Livre. Segundo os organizadores, cerca de 80 mil pessoas passaram pela Praça da República, no centro de São Paulo, para manifestar seu repúdio à prisão arbitrária do ex-presidente e contra os abusos de poder da midiática operação Lava-Jato.
No meio daquela multidão encharcada era fácil verificar que a maioria era constituída de jovens – que cantarolaram inúmeras músicas e gritaram palavras de ordem em defesa da libertação de Lula e contra o “capetão” Jair Bolsonaro. Artistas de renome exibiram suas canções e sua arte de forma generosa e solidária. O festival foi belíssimo, emocionante.
Apesar do êxito, a mídia monopolista escondeu a atividade. A festa da solidariedade não teve os holofotes das emissoras de tevê e nem foi capa dos jornalões. As poucas notinhas publicadas ou postadas sobre o evento tentaram estimular a cizânia entre as forças que organizaram o festival, amplificando a falsa tese de que a luta por Lula Livre atrapalha outras batalhas – como a jornada em defesa da educação.
A mídia monopolista sempre nutriu um ódio de classe visceral ao ex-presidente. Ela nunca tolerou o ciclo político aberto com a vitória de Lula. Ela fez de tudo para desestabilizar os governos democráticos e populares. Com o falso e seletivo discurso ético, a mídia udenista foi protagonista da demonização da política – o que pavimentou o terreno para o golpe dos corruptos que derrubou Dilma Rousseff e alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer.
Essa mesma negação da política ajudou a chocar o ovo da serpente fascista no país, o que explica a vitória do truculento Jair Bolsonaro e a formação do seu governo de laranjas e de milicianos. Parte da mídia não morre de amores pelo “capetão”, temendo principalmente a regressão nos costumes e o autoritarismo na política. Mesmo assim, teme ainda mais o ex-presidente Lula, e faz de tudo para invisibilizar sua existência ou os atos em seu apoio.
Diante dessa censura, a nova mídia – constituída por milhares de ativistas digitais – tem sido decisiva para furar o bloqueio. As emissoras de rádio e televisão, os jornalões e os sites da mídia monopolista sabotaram e censuraram o festival Lula Livre desse domingo. Mas os site e blogs alternativos e as redes sociais divulgaram ao vivo o emocionante ato de solidariedade e generosidade.
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Carta do ex-presidente Lula aos participantes do Festival Lula Livre:
“Agradeço de coração a cada uma e a cada um de vocês, artistas e público, que nesse 2 de junho fazem da praça da República a Praça da Democracia. Embora tenha o nome de “Festival Lula Livre”, sei que esse é muito mais que um ato de solidariedade a um preso político. O que vocês exigem é muito mais que a liberdade do Lula. É a liberdade de um povo que não aceita mais ser prisioneiro do ódio, da ganância e do obscurantismo.
Esse ato é na verdade um grito de liberdade que estava preso em nossas gargantas. Mais que um grito, um canto de liberdade. O canto dos trabalhadores que não aceitam mais o desemprego e a perda de seus direitos. O cantos dos estudantes, que não aceitam nenhum retrocesso na educação. O canto das mulheres, que não aceitam abrir mão de nenhuma conquista histórica. O canto da juventude, que não aceita que lhe roubem os sonhos, e da juventude negra em particular, que não aceita mais ser exterminada. O canto dos que ousam sonhar, e transformam sonhos em realidade.
Boa parte de vocês que aí estão, artistas e público, felizmente não viveram os horrores da ditadura civil e militar instalada em 1964, essa que alguns querem implantar de novo no Brasil. Foi um tempo em que a luta contra a censura podia ser traduzida em canções que diziam assim: “Você corta um verso, eu escrevo outro”.
Foi com muita luta que conseguimos acabar com a censura neste país. E não vamos aceitar essa outra forma de censura, que é a tentativa de acabar com as fontes de financiamento da arte e da cultura. Que não vamos aceitar a tentativa de censurar o pensamento crítico, estrangulando as universidades.
Se eles arrancam nossas faixas, nós escrevemos e botamos outras no lugar. E vamos continuar ocupando as ruas em defesa da educação, da saúde, públicas e de qualidade; das oportunidades para todas e todos; contra todas as formas de desigualdade e de retrocesso.
Nossos adversários querem mais armas e menos livros, menos música, menos dança, menos teatro e menos cinema. E nós insistimos em ler, escrever, cantar e dançar, insistimos em ir ao teatro e fazer cinema.
Nada mais perigoso para nossos adversários que um povo que canta e é feliz. Que faz da arte e da cultura instrumentos de resistência. Vamos então à luta, sem medo de sermos felizes, com a certeza que o amor sempre vence.
Um abraço, com muita saudade e a vontade imensa de estar aí,
Lula”
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