Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:
“Não é só uma questão de estrutura, mas de colocar nosso trabalho em xeque. O ministro (da Economia, Paulo Guedes) esteve no IBGE. Disse que tinha que vender prédios do IBGE. Disse também que quem pergunta demais descobre o que não é. Fazia tempo que não ouvia algo assim”, ironizou Luanda.
Para Nassif, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia “querem tirar os indicadores que mostram o fracasso de suas políticas”. Em sua opinião, a profunda importância do IBGE decorre do fato de o órgão mostrar a complexidade das realidades. “E a visão complexa da economia serve inclusive para a elaboração de novas políticas econômicas, com as quais vai-se trabalhar a nova socialdemocracia ou a nova esquerda.”
A compreensão da sociedade como um todo não pode prescindir das informações e dados fornecidos por uma pesquisa de abrangência incomparável como a do censo, defendeu Nassif. “As políticas têm que ser repensadas a partir da sociedade, das organizações sociais, das ONGs.” No contexto de desconstrução e ocultamento de informações que dizem respeito ao perfil da sociedade e do país, como a desindustrialização do Brasil, por exemplo, “os indicadores são usados como instrumento ideológico”, acrescentou.
O entendimento da economia de maneira ampla, disse Belluzzo, é fundamental para entender a vida das pessoas e suas necessidades. “E o futuro das pessoas depende de como a economia se comporta.” Por isso, para ele, os cortes no questionário do IBGE não se dão por acaso, mas fazem parte do “fenômeno da desconstrução” que afeta o país sob Bolsonaro. “Sem informação, as pessoas se prostram. As informações do IBGE são preciosas.”
Raquel Rolnik defendeu o Censo do IBGE dizendo que nenhum grupo de pesquisa no Brasil tem condição de fazer levantamentos complexos e abrangentes como o instituto, nem mesmo a Pnad Contínua, que geograficamente é muito menos ampla. “Temos que continuar lutando pela integridade do censo e do IBGE, pensando que esse governo vai passar, mas o Estado brasileiro tem que ficar, assim como alguns pilares que atravessaram ditaduras, a redemocratização, e mantiveram qualidade. O IBGE é um patrimônio e temos que manter isso vivo. É preciso que as pessoas entendam o que está acontecendo e qual a gravidade disso.”
Como exemplos, Luanda Botelho citou dois itens retirados do questionário pela direção do IBGE: aluguel das famílias e o uso de motocicletas. Raquel Rolnik ironizou: “saiu motocicleta e ficou máquina de lavar. Deve ser propaganda da Brastemp”. Ela acrescentou, porém, que, como dado, a questão das motos é essencial para se aferir novas realidades. “Há muitas questões de mobilidade ligadas à moto. É um novo modal. A gente precisa saber quem está e onde está com a motocicleta.”
Para Raquel, é “muito grave” o aluguel desaparecer do questionário. “Vai sumir o componente do déficit habitacional e não vai ter mais politica de moradia.” Segundo ela, as questões racial e de gênero podem ser conhecidas com mais nitidez graças aos dados comparativos que podem ser levantados pelo censo. “É possível fazer todas as leituras com os recortes de gênero e racial com os dados do censo, proporcionando o entendimento da sociedade.”
A presidenta do IBGE de Bolsonaro justificou, nesta sexta-feira (4): “Os ajustes do questionário visaram à qualidade e a cobertura. Sete minutos para quatro minutos faz diferença, sim, em um universo de 70 milhões de domicílios”, disse Susana Guerra.
Segundo Luanda Botelho, o item aluguel, que é fundamental para entender a estrutura das famílias e suas necessidades, foi retirado da pesquisa do censo sem justificativa aceitável. “Você está falando de informações importantes para estabelecer políticas públicas. O valor do aluguel em média demora três segundos. Mesmo assim foi cortado.”
“Eles não têm nenhum senso de realidade”, afirmou Belluzzo.
Debate no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, na noite desta quinta-feira (4) em São Paulo, reuniu o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o jornalista Luis Nassif, a coordenadora do núcleo Chile da Associação dos Servidores do IBGE (ASSIBGE) Luanda Botelho e a urbanista Raquel Rolnik para falar da estrutura do censo demográfico 2020. Com a gestão da presidenta do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, o questionário do censo sofre graves alterações sob a justificativa de que é preciso haver cortes de orçamento. Ela foi sabatinada, nesta quinta-feira (4), na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, na Câmara dos Deputados, e confirmou que o instituto fará cortes no questionário utilizado para o Censo 2020, de 112 para 76 perguntas.
“Não se trata apenas do IBGE. Ele está incluído no processo de desconstrução. Nesse governo, trata-se de desconstrução de instituições que o Brasil levou décadas para construir, como as universidades“, disse Belluzzo. Mas não apenas instituições de Estado. O patrimônio natural do país se inclui na desconstrução. “O meio ambiente. Estão dizendo que o desmatamento está diminuindo. Todo mundo sabe que não está. A gente não está percebendo a gravidade da situação que está vivendo”, acrescentou.
Sob a nova gestão, questões cruciais para o entendimento da sociedade brasileira foram retirados do Censo 2020, como aluguel, bens de consumo, fontes de renda, formação escolar e até as motocicletas. Luanda Botelho afirmou que a presidente do órgão já apresentou várias justificativas para o enxugamento do questionário, como falta de verba para perguntas detalhadas, ou que as pessoas se cansam de responder tantas perguntas, ou que é importante reduzir o questionário para obter qualidade. “Hoje ela apresentou o orçamento como justificativa. Um dos cortes é a propaganda. É mais ou menos onde ela se encontra hoje.”
“Não se trata apenas do IBGE. Ele está incluído no processo de desconstrução. Nesse governo, trata-se de desconstrução de instituições que o Brasil levou décadas para construir, como as universidades“, disse Belluzzo. Mas não apenas instituições de Estado. O patrimônio natural do país se inclui na desconstrução. “O meio ambiente. Estão dizendo que o desmatamento está diminuindo. Todo mundo sabe que não está. A gente não está percebendo a gravidade da situação que está vivendo”, acrescentou.
Sob a nova gestão, questões cruciais para o entendimento da sociedade brasileira foram retirados do Censo 2020, como aluguel, bens de consumo, fontes de renda, formação escolar e até as motocicletas. Luanda Botelho afirmou que a presidente do órgão já apresentou várias justificativas para o enxugamento do questionário, como falta de verba para perguntas detalhadas, ou que as pessoas se cansam de responder tantas perguntas, ou que é importante reduzir o questionário para obter qualidade. “Hoje ela apresentou o orçamento como justificativa. Um dos cortes é a propaganda. É mais ou menos onde ela se encontra hoje.”
“Não é só uma questão de estrutura, mas de colocar nosso trabalho em xeque. O ministro (da Economia, Paulo Guedes) esteve no IBGE. Disse que tinha que vender prédios do IBGE. Disse também que quem pergunta demais descobre o que não é. Fazia tempo que não ouvia algo assim”, ironizou Luanda.
Para Nassif, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia “querem tirar os indicadores que mostram o fracasso de suas políticas”. Em sua opinião, a profunda importância do IBGE decorre do fato de o órgão mostrar a complexidade das realidades. “E a visão complexa da economia serve inclusive para a elaboração de novas políticas econômicas, com as quais vai-se trabalhar a nova socialdemocracia ou a nova esquerda.”
A compreensão da sociedade como um todo não pode prescindir das informações e dados fornecidos por uma pesquisa de abrangência incomparável como a do censo, defendeu Nassif. “As políticas têm que ser repensadas a partir da sociedade, das organizações sociais, das ONGs.” No contexto de desconstrução e ocultamento de informações que dizem respeito ao perfil da sociedade e do país, como a desindustrialização do Brasil, por exemplo, “os indicadores são usados como instrumento ideológico”, acrescentou.
O entendimento da economia de maneira ampla, disse Belluzzo, é fundamental para entender a vida das pessoas e suas necessidades. “E o futuro das pessoas depende de como a economia se comporta.” Por isso, para ele, os cortes no questionário do IBGE não se dão por acaso, mas fazem parte do “fenômeno da desconstrução” que afeta o país sob Bolsonaro. “Sem informação, as pessoas se prostram. As informações do IBGE são preciosas.”
Raquel Rolnik defendeu o Censo do IBGE dizendo que nenhum grupo de pesquisa no Brasil tem condição de fazer levantamentos complexos e abrangentes como o instituto, nem mesmo a Pnad Contínua, que geograficamente é muito menos ampla. “Temos que continuar lutando pela integridade do censo e do IBGE, pensando que esse governo vai passar, mas o Estado brasileiro tem que ficar, assim como alguns pilares que atravessaram ditaduras, a redemocratização, e mantiveram qualidade. O IBGE é um patrimônio e temos que manter isso vivo. É preciso que as pessoas entendam o que está acontecendo e qual a gravidade disso.”
Como exemplos, Luanda Botelho citou dois itens retirados do questionário pela direção do IBGE: aluguel das famílias e o uso de motocicletas. Raquel Rolnik ironizou: “saiu motocicleta e ficou máquina de lavar. Deve ser propaganda da Brastemp”. Ela acrescentou, porém, que, como dado, a questão das motos é essencial para se aferir novas realidades. “Há muitas questões de mobilidade ligadas à moto. É um novo modal. A gente precisa saber quem está e onde está com a motocicleta.”
Para Raquel, é “muito grave” o aluguel desaparecer do questionário. “Vai sumir o componente do déficit habitacional e não vai ter mais politica de moradia.” Segundo ela, as questões racial e de gênero podem ser conhecidas com mais nitidez graças aos dados comparativos que podem ser levantados pelo censo. “É possível fazer todas as leituras com os recortes de gênero e racial com os dados do censo, proporcionando o entendimento da sociedade.”
A presidenta do IBGE de Bolsonaro justificou, nesta sexta-feira (4): “Os ajustes do questionário visaram à qualidade e a cobertura. Sete minutos para quatro minutos faz diferença, sim, em um universo de 70 milhões de domicílios”, disse Susana Guerra.
Segundo Luanda Botelho, o item aluguel, que é fundamental para entender a estrutura das famílias e suas necessidades, foi retirado da pesquisa do censo sem justificativa aceitável. “Você está falando de informações importantes para estabelecer políticas públicas. O valor do aluguel em média demora três segundos. Mesmo assim foi cortado.”
“Eles não têm nenhum senso de realidade”, afirmou Belluzzo.
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