Por Renato Rovai, em seu blog:
Ontem, escrevi um artigo abordando a sucessão de João Doria/Bruno Covas em São Paulo. Com base nele é possível pensar um pouco o que acontece no país. Bolsonaro esfarela e já alcança 38% de ruim e péssimo. Um número gigante. Seus apoiadores do ótimo e bom agora são apenas 29%.
Em São Paulo, o governo tucano também é um desastre e muito mal avaliado. Mas….e aí sempre tem um mas, como dizem os argentinos, o campo progressista com tudo isso não consegue se colocar como alternativa.
O governo municipal é mal avaliado, os impactos da crise na cidade podem ser vistos em todas as esquinas, mas mesmo assim qualquer pesquisa de opinião vai dar 3 ou 4 candidatos de direita na liderança.
Pelo andar da carruagem, se nada for feito por fora dos partidos para tentar modificar suas lógicas internas, a maior cidade do país terá um segundo turno disputado entre um candidato de extrema direita e outro de direita. Será a primeira vez que isso acontecerá na sua história política pós-democratização.
Em nível nacional, é verdade que a situação é menos pior do que em São Paulo. Há ações de destaque como o consórcio dos governadores do Nordeste e algumas lideranças começam a se mexer, como Haddad, Flávio Dino, Ciro Gomes e Rui Costa, que tem feito movimentos claros para se tornar um nome mais nacionalizado.
Mas, mesmo assim, falta ousadia. Falta começar a discutir a partir de uma ação também dessas lideranças um movimento de base para confrontar no plano municipal e regional as políticas neoliberais e antidireitos de Bolsonaro. Pode-se fazer muito antes das eleições de 2020 e de alguma forma o que vier a ser feito é que vai decidi-las para um lado ou para o outro.
O PSL, mesmo que vá mal nas eleições municipais, vai crescer muito. E com eles outros Ps minúsculos, como PSC, PRTB etc. Primeiro, porque essa base de Bolsonaro tem poucas prefeituras. E depois porque os grandes partidos estão desgastados e os outsiders da política vão ingressar nela por aí.
É o caminho mais fácil.
Esses outsiders em geral são oportunistas e conservadores. E podem estar tanto no projeto de Bolsonaro, como de Doria, Huck ou outro deste naipe.
Este segmento é favoritíssimo para sair fortalecido politicamente em 20 e hoje não há quem acompanhe política com alguma atenção que não aposte nisso.
Mas isso não é algo da vida e nem assim será. Está se delineando, mas pode ser confrontado.
No Nordeste, há muita chance de ser diferente. Porque os estados têm governos progressistas e Bolsonaro está com uma rejeição imensa por lá.
No Norte, a crise da Amazônia pode influenciar o conjunto da política da região nos próximos tempos.
A Igreja Católica tende a ter papel determinante nos debates que se sucederão sobre o tema e isso pode abrir espaço para novas lideranças locais. Mas precisa passar a ser pautado como assunto estratégico da grande política, tanto para que seja debatido por lá, como também pelo país como um todo.
Já nas outras regiões o buraco é mais embaixo.
O Centro Oeste se tornou um protetorado do agronegócio. Só vai se mexer se os interesses desse setor começarem a ser muito afetados pelas ações da presidência da República. Será que não vale a pena se pensar numa frente da agricultura, com grandes e pequenos produtores que defendam o meio ambiente e sejam contra o uso de uma lista de agrotóxicos? Será que isso não poderia contribuir para tirar do isolamento a luta pela agricultura familiar e abrir novos espaços para se fazer política tanto no Centro Oeste como em outros estados?
No Sul, o mau humor com o mito ainda não o fez virar palmito. A região é a que mais aprova suas imbecilidades. Mas há espaço para resgatar uma nova forma de fazer política por ali. Em especial, no Rio Grande do Sul, onde o campo progressista sempre foi muito forte e de onde sempre brotaram iniciativas democráticas relevantes.
Talvez seja o Rio Grande o lugar mais propício para a criação de um movimento da sociedade para os partidos que venha a construir uma nova forma de fazer política no campo progressista. O Orçamento Participativo nasceu lá. E o que a esquerda precisa é de uma forma de governo em frente ampla com o sentido do Orçamento Participativo.
A situação do Sudeste é ao mesmo tempo complicada e desafiadora. Há muito o que se fazer nas eleições de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. E há muito o que se disputar antes, durante e depois das eleições.
O bolsonarismo agoniza em praça pública nas grandes cidades. A essência neoliberal deste governo é um fracasso. E isso não vem sendo debatido da forma que poderia levá-lo a um desgaste maior.
A reforma da Previdência passou e o tal crescimento econômico não veio. E não virá. O mesmo já havia passado na reforma trabalhista. E está acontecendo também com as privatizações. E pouco se fala disso.
Como nestes estados há uma imensa sociedade civil, é possível rearticulá-la mesmo com todas as dificuldades das perseguições que sofre.
E nesta sociedade civil há ambientalistas, ciclistas, feministas, movimento negro, grupos de vegetarianos e de defesa dos animais, estudantes secundaristas, grupos de hip hop, católicos, ateus, evangélicos, espiritas etc.
Não se pode mais pensar apenas nas organizações tradicionais. É preciso criar um novo movimento com o espírito do Fórum Social Mundial que também embale os sonhos desta geração que chega. E que tem um programa diferente, que não é principalmente pautado pela lógica do desenvolvimentismo. E que também não se enxerga apenas nas formas de participação tradicional.
Este movimento está pulsando. Há muito mais gente do que se pensa buscando uma saída por fora deste sistema que torna gente desqualificada como Bolsonaro presidente da República. Mas essa imensidão de pessoas precisa de um sentido para entrar na política não pelo caminho de um Luciano Huck ou mesmo de João Doria no momento que Bolsonaro se inviabilizar. O que parece inevitável. E se for o caso de reinventar os atuais partidos para isso, seria bom fazê-lo. Porque ou se tenta isso ou pode-se entrar numa escuridão de umas duas ou três décadas.
Não basta Bolsonaro esfarelar ou derreter. É preciso ter condições de assumir este lugar de poder com um novo projeto político. Com uma radicalização democrática que dê sentido a um novo modelo de país. Porque o que havia se esgotou. E por isso, mesmo derrotado nas pesquisas de avaliação, Bolsonaro ainda se comporta como o dono da agenda política do país. Porque ele sabe que seu desastre não é o suficiente para derrotá-lo. E sabe que enquanto estiver entregando todas as riquezas para o setor financeiro internacional, ninguém vai fazer um movimento de risco para derrubá-lo.
Ontem, escrevi um artigo abordando a sucessão de João Doria/Bruno Covas em São Paulo. Com base nele é possível pensar um pouco o que acontece no país. Bolsonaro esfarela e já alcança 38% de ruim e péssimo. Um número gigante. Seus apoiadores do ótimo e bom agora são apenas 29%.
Em São Paulo, o governo tucano também é um desastre e muito mal avaliado. Mas….e aí sempre tem um mas, como dizem os argentinos, o campo progressista com tudo isso não consegue se colocar como alternativa.
O governo municipal é mal avaliado, os impactos da crise na cidade podem ser vistos em todas as esquinas, mas mesmo assim qualquer pesquisa de opinião vai dar 3 ou 4 candidatos de direita na liderança.
Pelo andar da carruagem, se nada for feito por fora dos partidos para tentar modificar suas lógicas internas, a maior cidade do país terá um segundo turno disputado entre um candidato de extrema direita e outro de direita. Será a primeira vez que isso acontecerá na sua história política pós-democratização.
Em nível nacional, é verdade que a situação é menos pior do que em São Paulo. Há ações de destaque como o consórcio dos governadores do Nordeste e algumas lideranças começam a se mexer, como Haddad, Flávio Dino, Ciro Gomes e Rui Costa, que tem feito movimentos claros para se tornar um nome mais nacionalizado.
Mas, mesmo assim, falta ousadia. Falta começar a discutir a partir de uma ação também dessas lideranças um movimento de base para confrontar no plano municipal e regional as políticas neoliberais e antidireitos de Bolsonaro. Pode-se fazer muito antes das eleições de 2020 e de alguma forma o que vier a ser feito é que vai decidi-las para um lado ou para o outro.
O PSL, mesmo que vá mal nas eleições municipais, vai crescer muito. E com eles outros Ps minúsculos, como PSC, PRTB etc. Primeiro, porque essa base de Bolsonaro tem poucas prefeituras. E depois porque os grandes partidos estão desgastados e os outsiders da política vão ingressar nela por aí.
É o caminho mais fácil.
Esses outsiders em geral são oportunistas e conservadores. E podem estar tanto no projeto de Bolsonaro, como de Doria, Huck ou outro deste naipe.
Este segmento é favoritíssimo para sair fortalecido politicamente em 20 e hoje não há quem acompanhe política com alguma atenção que não aposte nisso.
Mas isso não é algo da vida e nem assim será. Está se delineando, mas pode ser confrontado.
No Nordeste, há muita chance de ser diferente. Porque os estados têm governos progressistas e Bolsonaro está com uma rejeição imensa por lá.
No Norte, a crise da Amazônia pode influenciar o conjunto da política da região nos próximos tempos.
A Igreja Católica tende a ter papel determinante nos debates que se sucederão sobre o tema e isso pode abrir espaço para novas lideranças locais. Mas precisa passar a ser pautado como assunto estratégico da grande política, tanto para que seja debatido por lá, como também pelo país como um todo.
Já nas outras regiões o buraco é mais embaixo.
O Centro Oeste se tornou um protetorado do agronegócio. Só vai se mexer se os interesses desse setor começarem a ser muito afetados pelas ações da presidência da República. Será que não vale a pena se pensar numa frente da agricultura, com grandes e pequenos produtores que defendam o meio ambiente e sejam contra o uso de uma lista de agrotóxicos? Será que isso não poderia contribuir para tirar do isolamento a luta pela agricultura familiar e abrir novos espaços para se fazer política tanto no Centro Oeste como em outros estados?
No Sul, o mau humor com o mito ainda não o fez virar palmito. A região é a que mais aprova suas imbecilidades. Mas há espaço para resgatar uma nova forma de fazer política por ali. Em especial, no Rio Grande do Sul, onde o campo progressista sempre foi muito forte e de onde sempre brotaram iniciativas democráticas relevantes.
Talvez seja o Rio Grande o lugar mais propício para a criação de um movimento da sociedade para os partidos que venha a construir uma nova forma de fazer política no campo progressista. O Orçamento Participativo nasceu lá. E o que a esquerda precisa é de uma forma de governo em frente ampla com o sentido do Orçamento Participativo.
A situação do Sudeste é ao mesmo tempo complicada e desafiadora. Há muito o que se fazer nas eleições de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. E há muito o que se disputar antes, durante e depois das eleições.
O bolsonarismo agoniza em praça pública nas grandes cidades. A essência neoliberal deste governo é um fracasso. E isso não vem sendo debatido da forma que poderia levá-lo a um desgaste maior.
A reforma da Previdência passou e o tal crescimento econômico não veio. E não virá. O mesmo já havia passado na reforma trabalhista. E está acontecendo também com as privatizações. E pouco se fala disso.
Como nestes estados há uma imensa sociedade civil, é possível rearticulá-la mesmo com todas as dificuldades das perseguições que sofre.
E nesta sociedade civil há ambientalistas, ciclistas, feministas, movimento negro, grupos de vegetarianos e de defesa dos animais, estudantes secundaristas, grupos de hip hop, católicos, ateus, evangélicos, espiritas etc.
Não se pode mais pensar apenas nas organizações tradicionais. É preciso criar um novo movimento com o espírito do Fórum Social Mundial que também embale os sonhos desta geração que chega. E que tem um programa diferente, que não é principalmente pautado pela lógica do desenvolvimentismo. E que também não se enxerga apenas nas formas de participação tradicional.
Este movimento está pulsando. Há muito mais gente do que se pensa buscando uma saída por fora deste sistema que torna gente desqualificada como Bolsonaro presidente da República. Mas essa imensidão de pessoas precisa de um sentido para entrar na política não pelo caminho de um Luciano Huck ou mesmo de João Doria no momento que Bolsonaro se inviabilizar. O que parece inevitável. E se for o caso de reinventar os atuais partidos para isso, seria bom fazê-lo. Porque ou se tenta isso ou pode-se entrar numa escuridão de umas duas ou três décadas.
Não basta Bolsonaro esfarelar ou derreter. É preciso ter condições de assumir este lugar de poder com um novo projeto político. Com uma radicalização democrática que dê sentido a um novo modelo de país. Porque o que havia se esgotou. E por isso, mesmo derrotado nas pesquisas de avaliação, Bolsonaro ainda se comporta como o dono da agenda política do país. Porque ele sabe que seu desastre não é o suficiente para derrotá-lo. E sabe que enquanto estiver entregando todas as riquezas para o setor financeiro internacional, ninguém vai fazer um movimento de risco para derrubá-lo.
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