Da série: Quantos Marielle ainda vai ter de receber? |
O Rio de Janeiro deveria estar na rua em protesto contra o assassinato da menina Ágatha Félix, 8 anos, pela polícia de Witzel.
No entanto, o Rio de Janeiro está em casa.
Ou melhor, nem todo ele: as pessoas do Complexo do Alemão, onde ela foi baleada, saíram com cartazes.
Tristes, poucas, cansadas, desanimadas, mais do que revoltadas.
O Rio de Janeiro, que elegeu um governador genocida e um prefeito bispo da Universal, não se importa com seus mortos diários.
A cidade se mobilizou quando Trivela tentou censurar gibis com um beijo gay. Houve uma comoção, um grito.
O prédio foi invadido, vídeos viralizaram, Felipe Neto brilhou, celebridades, subcelebridades, Míriam Leitão, Laurentino Gomes e outros escritores deixaram seu recado.
Deu tudo errado no Rio. Deu tudo errado no Brasil.
Ela foi atingida nas costas por um tiro de fuzil quando estava dentro de uma Kombi.
Foi levada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e não resistiu.
As testemunhas relatam que não houve troca de tiros com ninguém, o oposto do que alega a corporação.
“Quem tem que dar informações é quem deu o tiro nela. Matou uma inocente, uma garota inteligente, estudiosa, obediente, de futuro. Cadê o policiais que fizeram isso? A voz deles é a arma”, disse seu avô, Ailton.
“Não é a família do governador ou do prefeito ou dos policiais que estão chorando, é a minha. Amanhã eles vão pedir desculpas, mas isso não vai trazer minha neta de volta”.
O mito de que “o morro vai descer” é isso: um mito.
A Zona Sul é mais próxima de Marte que do Complexo do Alemão.
Witzel vai continuar dormindo tranquilo.
Amanhã os helicópteros da Polícia Militar vão sobrevoar outros barracos e abrir fogo.
Uma outra criança negra será executada e mais outra e mais outra - e, no dia seguinte, os cariocas estarão na praia.
0 comentários:
Postar um comentário