Por Eric Nepomuceno
Daqui a poucos dias (domingo, 27) os argentinos irão às urnas.
O que não se sabe ainda é qual a diferença da chapa Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner sobre Mauricio Macri.
Ou seja, quais serão as dimensões do massacre.
Em compensação, triste compensação, todos sabem as dimensões do perverso desastre que foram esses anos de governo de Macri, parceiro de Jair Bolsonaro em seu fanatismo fundamentalista neoliberal.
A bem da verdade, no caso nosso o fanatismo é de um sacripanta chamado Paulo Guedes, que saltou do governo sanguinário de Augusto Pinochet para a especulação desenfreada do nosso mercado financeiro, e daí para finalmente posar sua figura na poltrona de ministro da Fazenda de um governo sem norte nem rumo. Porque Bolsonaro não pensa, late.
Macri, como Guedes, prometeu milagres ao assumir, há quatro anos, a presidência argentina.
Combate ao déficit fiscal, fim da pobreza, retomada do crescimento sustentável, e por aí foi.
Deixa um país empobrecido, com uma dívida bilionária e, pior, impagável, uma economia irremediavelmente arruinada, uma moeda destroçada, um país desolado.
Os números são brutais.
No segundo semestre do ano passado, trinta e dois por cento dos argentinos viviam em estado de pobreza.
No final do primeiro semestre deste ano, ou seja, seis meses depois, a marca rondava os trinta e seis por cento. Isso quer dizer mais ou menos uns quinze milhões de argentinos.
Um Portugal e meio.
Já os que vivem em situação de pobreza extrema, um jeito delicado que os burocratas de plantão inventaram para falar em miséria, subiu de quase sete para quase oito por cento.
Ou seja, mais de três milhões de argentinos vivem em situação de miséria absoluta.
Mais que um Uruguai inteiro de miseráveis.
E tem mais: mais de um terço dos argentinos com menos de 14 anos não apenas vive na miséria: são, de acordo com o linguajar técnico, subalimentados. Ou seja, passam fome.
Lembro desse inverno, mais precisamente a segunda quinzena de junho.
O número de famílias (o que mais me chamou a atenção foi precisamente esse dado: não eram pessoas solitárias, eram famílias) vivendo na rua.
Nos arredores da minha casa portenha, em noites de frio cruel, a visão inédita de famílias (pai, mãe, crianças pequenas) encolhidas debaixo de cobertores que mãos piedosas haviam estendido era o retrato certeiro dos efeitos da política redentora que Macri havia imposto ao país.
A inflação argentina, ao longo do último ano e meio, espanta.
Chega perto de sessenta por cento.
Aliás, uma inflação que não apenas corrói de maneira violenta o poder aquisitivo dos argentinos: destroça.
Porque os ajustes salariais ficam sempre bem abaixo da explosão inflacionária.
Os serviços públicos, ou seja, gás, luz, água, tiveram suas tarifas incrementadas com furor olímpico.
Centenas de milhares de argentinos não têm como pagar as contas, que nos últimos meses passaram a ser divididas em parcelas mensais.
Ou seja, uma conta de mil pesos pode ser dividida em cinco de duzentos.
Só que o saldo negativo é atualizado pela inflação, o que faz com que de repente uma conta de luz ou de gás se torne uma outra dívida impagável. Não há antecedentes, nem na caótica economia argentina, de contas de serviços serem parceladas a perder de vista.
Dados oficiais mostram que a Argentina hoje está tão pobre como estava em 2008, no meio de uma crise bastante severa dentro daquele contexto internacional caótico.
Ainda nada comparável, é verdade, à explosão de 2001, quando a Argentina decretou moratória global e teve cinco presidentes em quinze dias.
Acontece que de lá para cá aumentou sensivelmente o número de argentinos que deixaram a classe média, característica até então permanente do país, e passaram a viver na pobreza.
E essa é a realidade do país que Macri vai deixar.
Uma realidade indisfarçável, tremenda.
Domingo, 27, a resposta virá das urnas.
As nossas pariram, há um ano, um Pinochet descerebrado.
As argentinas abrirão espaço para o caminho da lenta, muito lenta, difícil, muito difícil, recuperação.
Se não recuperação de tudo que foi destroçado por Macri, ao menos a da dignidade mínima.
E Bolsonaro terá de morder a língua, se é que consegue achar a própria língua, por ter atacado de maneira insólita e absurda a possibilidade da volta de quem não só vai voltar, como voltará esmagando o destruidor do país.
Com a derrota de Macri, mais o desprezo de Sebatián Piñera pelos elogios que o mentecapto fez a Pinochet e companhia, mais o desprezo do colombiano igualmente descerebrado Iván Duque, o que teremos é um novo eixo México (Obrador) e Argentina (os Fernández), mais Evo Morales na Bolívia e o que mais vier, isolando de vez o desequilibrado Bolsonaro.
E vamos que vamos.
Daqui a poucos dias (domingo, 27) os argentinos irão às urnas.
O que não se sabe ainda é qual a diferença da chapa Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner sobre Mauricio Macri.
Ou seja, quais serão as dimensões do massacre.
Em compensação, triste compensação, todos sabem as dimensões do perverso desastre que foram esses anos de governo de Macri, parceiro de Jair Bolsonaro em seu fanatismo fundamentalista neoliberal.
A bem da verdade, no caso nosso o fanatismo é de um sacripanta chamado Paulo Guedes, que saltou do governo sanguinário de Augusto Pinochet para a especulação desenfreada do nosso mercado financeiro, e daí para finalmente posar sua figura na poltrona de ministro da Fazenda de um governo sem norte nem rumo. Porque Bolsonaro não pensa, late.
Macri, como Guedes, prometeu milagres ao assumir, há quatro anos, a presidência argentina.
Combate ao déficit fiscal, fim da pobreza, retomada do crescimento sustentável, e por aí foi.
Deixa um país empobrecido, com uma dívida bilionária e, pior, impagável, uma economia irremediavelmente arruinada, uma moeda destroçada, um país desolado.
Os números são brutais.
No segundo semestre do ano passado, trinta e dois por cento dos argentinos viviam em estado de pobreza.
No final do primeiro semestre deste ano, ou seja, seis meses depois, a marca rondava os trinta e seis por cento. Isso quer dizer mais ou menos uns quinze milhões de argentinos.
Um Portugal e meio.
Já os que vivem em situação de pobreza extrema, um jeito delicado que os burocratas de plantão inventaram para falar em miséria, subiu de quase sete para quase oito por cento.
Ou seja, mais de três milhões de argentinos vivem em situação de miséria absoluta.
Mais que um Uruguai inteiro de miseráveis.
E tem mais: mais de um terço dos argentinos com menos de 14 anos não apenas vive na miséria: são, de acordo com o linguajar técnico, subalimentados. Ou seja, passam fome.
Lembro desse inverno, mais precisamente a segunda quinzena de junho.
O número de famílias (o que mais me chamou a atenção foi precisamente esse dado: não eram pessoas solitárias, eram famílias) vivendo na rua.
Nos arredores da minha casa portenha, em noites de frio cruel, a visão inédita de famílias (pai, mãe, crianças pequenas) encolhidas debaixo de cobertores que mãos piedosas haviam estendido era o retrato certeiro dos efeitos da política redentora que Macri havia imposto ao país.
A inflação argentina, ao longo do último ano e meio, espanta.
Chega perto de sessenta por cento.
Aliás, uma inflação que não apenas corrói de maneira violenta o poder aquisitivo dos argentinos: destroça.
Porque os ajustes salariais ficam sempre bem abaixo da explosão inflacionária.
Os serviços públicos, ou seja, gás, luz, água, tiveram suas tarifas incrementadas com furor olímpico.
Centenas de milhares de argentinos não têm como pagar as contas, que nos últimos meses passaram a ser divididas em parcelas mensais.
Ou seja, uma conta de mil pesos pode ser dividida em cinco de duzentos.
Só que o saldo negativo é atualizado pela inflação, o que faz com que de repente uma conta de luz ou de gás se torne uma outra dívida impagável. Não há antecedentes, nem na caótica economia argentina, de contas de serviços serem parceladas a perder de vista.
Dados oficiais mostram que a Argentina hoje está tão pobre como estava em 2008, no meio de uma crise bastante severa dentro daquele contexto internacional caótico.
Ainda nada comparável, é verdade, à explosão de 2001, quando a Argentina decretou moratória global e teve cinco presidentes em quinze dias.
Acontece que de lá para cá aumentou sensivelmente o número de argentinos que deixaram a classe média, característica até então permanente do país, e passaram a viver na pobreza.
E essa é a realidade do país que Macri vai deixar.
Uma realidade indisfarçável, tremenda.
Domingo, 27, a resposta virá das urnas.
As nossas pariram, há um ano, um Pinochet descerebrado.
As argentinas abrirão espaço para o caminho da lenta, muito lenta, difícil, muito difícil, recuperação.
Se não recuperação de tudo que foi destroçado por Macri, ao menos a da dignidade mínima.
E Bolsonaro terá de morder a língua, se é que consegue achar a própria língua, por ter atacado de maneira insólita e absurda a possibilidade da volta de quem não só vai voltar, como voltará esmagando o destruidor do país.
Com a derrota de Macri, mais o desprezo de Sebatián Piñera pelos elogios que o mentecapto fez a Pinochet e companhia, mais o desprezo do colombiano igualmente descerebrado Iván Duque, o que teremos é um novo eixo México (Obrador) e Argentina (os Fernández), mais Evo Morales na Bolívia e o que mais vier, isolando de vez o desequilibrado Bolsonaro.
E vamos que vamos.
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