Por Joaquim de Carvalho, no Diário do Centro do Mundo:
O jornalista que fez a reportagem de capa desta semana para a IstoÉ, Germano de Oliveira, fez de Lula a pauta da sua vida.
Desta vez, ele escreve que a namorada do ex-presidente, Rosângela Silva, a Janja, manda no PT.
Se a pauta que cumpre atendesse aos requisitos mínimos do jornalismo, como a verdade factual, até seria aceitável, ainda que o limitasse — o que, naturalmente, seria um problema dele.
Mas o que Germano publica relacionado a Lula, pelo menos desde 2014, é fake news.
Quando trabalhava em O Globo, Germano escreveu que Lula e Marisa passariam o Reveillon no triplex do Guarujá.
O casal não só não passou o Reveillon lá como não pernoitou uma única vez no imóvel.
Motivo óbvio: não era deles.
Quando fez a reportagem, Germano inventou a imagem de Lula e Marisa no Reveillon do triplex do Guarujá não para falar de corrupção ou lavagem de dinheiro, mas para mostrar que o casal estaria sendo beneficiado no cronograma de construção da OAS/Bancoop, responsável pelo imóvel.
A informação era para mostrar que outros donos de cota nos condomínios bancados pelo consórcio estariam sendo passados para trás.
A reportagem registra que o casal Lula da Silva era dono de cota no condomínio — o que é correto, mas não do triplex.
A farsa ganhou corpo em janeiro de 2017, quando saiu da boca de Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que Lula havia solicitado em janeiro de 2014 que o apartamento ficasse pronto até o Reveillon daquele ano.
A reportagem de Germano e a declaração de Leo Pinheiro foram para os autos do processo conduzido por Sergio Moro e o resultado foi a condenação de Lula a 9 anos e seis meses de prisão.
Moro citou a reportagem como evidência de que o apartamento era mesmo de Lula.
Quando o TRF-4 manteve a condenação, Germano fez uma self com outros quatro jornalistas, para se vangloriar:
- Os cinco jornalistas que fizeram a diferença na cobertura da Lava Jato, que acabará levando Lula para trás das grades. Da esquerda para a direita: Vladimir Neto, da TV Globo; Ricardo Brandt, do Estadão; André Guilherme, do Valor; este que vos fala Germano Oliveira, da ISTOE; e Flávio Ferreira, da Folha de S.Paulo. Faltaram outros grandes repórteres como Fausto Macedo, do Estadão, Cleide Carvalho, do Globo. Essa turma é da pesada e se reuniu hoje na sede do TRF4, em Porto Alegre, quando os desembargadores condenaram Lula por 3 a 0 a 12 anos e 1 mês de cadeia. Ainda da psra (sic) confiar na Justiça - escreveu ele.
Na mesma semana, ele mentiu para seus leitores que Lula seria preso no Conselho Médico-Penal de Pinhais - ignorou ou sonegou a informação de que, tendo comandado as Forças Armadas, o ex-presidente tem direito legal à prisão em sala de estado de maior.
Na reportagem, descreveu como seria o cárcere de Lula:
"A cela, com uma janela e porta em aço, conta com um vaso sanitário no chão (o chamado boi), com pouca privacidade, e um tanque com torneira. Os agentes penitenciários asseguram que é possível bebê-la sem sobressaltos – a água, fornecida pela Sanepar, esclarecem, é potável. Mas se Lula exagerar no consumo, não tem conversa: a água será cortada."
Isso nunca aconteceu, nem acontecerá, como decidiu o STF quando Carolina Lebbos e um juiz de São Paulo tentaram enviar Lula para o presídio de Tremembé. A lei não admite.
Agora ele volta a carga, com a informação de que Janja manda no PT mais do que a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.
Gleisi tem adversários no PT, o que é natural, mas tem em Lula um forte aliado. Tanto que partiu dele o apoio decisivo para que fosse reeleita presidente — uma corrente, minoritária, queria Fernando Haddad.
O jornalista também mente que Janja teria sido a primeira a comunicar que Lula não aceitaria o semiaberto, por se recusar a usar tornozeleira.
A posição de Lula quanto à tornozeleira foi divulgada pelo próprio ex-presidente, na entrevista que concedeu ao DCM e ao Tutameia há mais de quatro meses.
É possível que, tendo se aproximado de Lula por razões afetivas, haja ciúme de outras pessoas politicamente próximas do ex-presidente.
Numa situação assim, podem surgir fofocas. Mas transformar essas fofocas em reportagem de capa é uma mancha a mais de desonra na história da IstoÉ, que um dia foi respeitada e teve, nas reportagens sobre o impeachment de Collor, algumas das páginas mais admiradas do jornalismo brasileiro.
Quando assinadas por Germano, as páginas da revista não servem para muito mais além de material alternativo ao papel higiênico.
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