Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
“Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Na primeira vez, fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela História. Quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores. Apesar das diferenças, sofro de novo com o sentimento de injustiça e o receio de que, mais uma vez, a democracia seja condenada junto comigo. E não tenho dúvida que, também desta vez, todos nós seremos julgados pela História.”
A História já começou a fazer Justiça a Dilma. Ganhe ou não o Oscar, Democracia em Vertigem consagra diante do mundo a narrativa da esquerda brasileira sobre os eventos de 2016. Não foi por crime de responsabilidade, não foi por corrupção, não foi por incompetência. Dilma caiu porque foi vítima de um golpe.
“Neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A História será implacável com eles”, disse a presidenta Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016, ao ser consumado o golpe do qual foi vítima. A direita, liderada pelo PSDB e seus parceiros na mídia, conquistara o objetivo: fragilizar as instituições democráticas brasileiras e arrancar do cargo uma presidenta honesta, que havia sido legitimamente eleita dois anos antes.
O golpe se consumaria com a prisão injusta do ex-presidente Lula em abril de 2018. Mídia e tucanos acreditavam que, tirando o PT do páreo, conseguiriam enfim voltar ao poder, derrotados que foram por quatro vezes consecutivas, em 2002, 2006, 2010 e 2014. Ledo engano: o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, amealharia parcos 4,76% na eleição em que Jair Bolsonaro foi eleito. O que o golpe contra Dilma fez de fato foi pavimentar o caminho para a chegada do fascismo ao poder.
O golpe se consumaria com a prisão injusta do ex-presidente Lula em abril de 2018. Mídia e tucanos acreditavam que, tirando o PT do páreo, conseguiriam enfim voltar ao poder, derrotados que foram por quatro vezes consecutivas, em 2002, 2006, 2010 e 2014. Ledo engano: o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, amealharia parcos 4,76% na eleição em que Jair Bolsonaro foi eleito. O que o golpe contra Dilma fez de fato foi pavimentar o caminho para a chegada do fascismo ao poder.
Quase quatro anos depois daquela tarde triste para o país em que a presidenta deixava o Alvorada e o Planalto de forma definitiva, a História começa a lhe prestar contas. O documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa, que relata como se forjou a conspiração jurídico-político-midiática que derrubou Dilma, foi indicado ao Oscar, contrariando todas as expectativas e gerando muito choro e ranger de dentes no antipetismo furibundo, dos “liberais” à extrema direita. Chiavam porque o filme demonstra de cabo a rabo o que a esquerda brasileira bradou desde o princípio: o que houve contra Dilma em 2016 foi um golpe, não impeachment.
A reação da ex-presidenta à indicação veio num tom de “eu avisei”. “A verdade não está enterrada. A História segue implacável contra os golpistas”, disse, em nota oficial, repetindo a si mesma no discurso de despedida do cargo. Para Dilma, o filme de Petra Costa tem o poder de elucidar para o mundo como o bolsonarismo nasce do golpe contra seu governo. “A mídia venal, a elite política e econômica brasileira atentaram contra a democracia no país, resultando na ascensão de um candidato da extrema direita em 2018”, apontou.
Narrado pela própria Petra, o documentário mescla o relato sensível sobre o envolvimento dos pais da diretora na luta contra a ditadura com o desenrolar do “impeachment”, passando pela trajetória de Lula, do PT e de nossa jovem democracia. O roteiro deixa claro que o golpe começa quando o tucano Aécio Neves, o oponente de Dilma em 2014, se recusa a aceitar a derrota e dá início ao processo de fragilização das instituições, ao pedir recontagem de votos e lançar suspeitas de fraude sobre a urna eletrônica –discurso que Bolsonaro não se cansa de repetir, sem qualquer evidência disso.
Não é à toa que o PSDB, o partido de Aécio, patrocinador inclusive financeiro do golpe contra Dilma (pagaram os honorários dos advogados do “impeachment”, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior), passou recibo nas redes sociais sobre sua participação ativa na trama que levou o país à situação em que se encontra – não que os tucanos lamentem, já que votaram com o governo Bolsonaro em todos os projetos aprovados até agora, como a reforma da Previdência.
O partido acabou ganhando destaque nos assuntos mais comentados no twitter pelo evidente recalque e pela falta de compromisso com o cinema brasileiro, ainda mais num momento em que ele está sob ataque da extrema direita. Dilma, ao contrário, foi saudada pelas redes sociais com simpatia. As apostas eram sobre que roupa ela irá usar no tapete vermelho (ops!) do Oscar e se será Leonardo DiCaprio, o arqui-inimigo de Bolsonaro, quem entregará a estatueta à diretora.
Memes à parte, a indicação de Democracia em Vertigem ao Oscar de melhor documentário mostra que, aos poucos, a História começa a prestar contas a Dilma Rousseff. Um complô entre a mídia –sobretudo a rede Globo–, o presidente da Câmara (o atual presidiário Eduardo Cunha), e a Lava-Jato do juiz Sergio Moro, alçado pela emissora e a revista Veja ao status de “herói nacional”, é que causou a queda de Dilma. As revelações da “Vaza-Jato” pelo Intercept em 2019 deixaram claro a existência de uma conspiração que contou com a imprensa comercial como a mais fiel escudeira.
As palavras da ex-presidenta durante o processo de cassação começam a ter o peso da profecia. “O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”, ela denunciou, no discurso de despedida, prevendo que quem semeava ventos, colhia Bolsonaro. Dois dias antes, diante do Senado Federal, Dilma também havia se referido ao julgamento implacável da História sobre todos que estavam ali.
A reação da ex-presidenta à indicação veio num tom de “eu avisei”. “A verdade não está enterrada. A História segue implacável contra os golpistas”, disse, em nota oficial, repetindo a si mesma no discurso de despedida do cargo. Para Dilma, o filme de Petra Costa tem o poder de elucidar para o mundo como o bolsonarismo nasce do golpe contra seu governo. “A mídia venal, a elite política e econômica brasileira atentaram contra a democracia no país, resultando na ascensão de um candidato da extrema direita em 2018”, apontou.
Narrado pela própria Petra, o documentário mescla o relato sensível sobre o envolvimento dos pais da diretora na luta contra a ditadura com o desenrolar do “impeachment”, passando pela trajetória de Lula, do PT e de nossa jovem democracia. O roteiro deixa claro que o golpe começa quando o tucano Aécio Neves, o oponente de Dilma em 2014, se recusa a aceitar a derrota e dá início ao processo de fragilização das instituições, ao pedir recontagem de votos e lançar suspeitas de fraude sobre a urna eletrônica –discurso que Bolsonaro não se cansa de repetir, sem qualquer evidência disso.
Não é à toa que o PSDB, o partido de Aécio, patrocinador inclusive financeiro do golpe contra Dilma (pagaram os honorários dos advogados do “impeachment”, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior), passou recibo nas redes sociais sobre sua participação ativa na trama que levou o país à situação em que se encontra – não que os tucanos lamentem, já que votaram com o governo Bolsonaro em todos os projetos aprovados até agora, como a reforma da Previdência.
O partido acabou ganhando destaque nos assuntos mais comentados no twitter pelo evidente recalque e pela falta de compromisso com o cinema brasileiro, ainda mais num momento em que ele está sob ataque da extrema direita. Dilma, ao contrário, foi saudada pelas redes sociais com simpatia. As apostas eram sobre que roupa ela irá usar no tapete vermelho (ops!) do Oscar e se será Leonardo DiCaprio, o arqui-inimigo de Bolsonaro, quem entregará a estatueta à diretora.
Memes à parte, a indicação de Democracia em Vertigem ao Oscar de melhor documentário mostra que, aos poucos, a História começa a prestar contas a Dilma Rousseff. Um complô entre a mídia –sobretudo a rede Globo–, o presidente da Câmara (o atual presidiário Eduardo Cunha), e a Lava-Jato do juiz Sergio Moro, alçado pela emissora e a revista Veja ao status de “herói nacional”, é que causou a queda de Dilma. As revelações da “Vaza-Jato” pelo Intercept em 2019 deixaram claro a existência de uma conspiração que contou com a imprensa comercial como a mais fiel escudeira.
As palavras da ex-presidenta durante o processo de cassação começam a ter o peso da profecia. “O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”, ela denunciou, no discurso de despedida, prevendo que quem semeava ventos, colhia Bolsonaro. Dois dias antes, diante do Senado Federal, Dilma também havia se referido ao julgamento implacável da História sobre todos que estavam ali.
“Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Na primeira vez, fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela História. Quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores. Apesar das diferenças, sofro de novo com o sentimento de injustiça e o receio de que, mais uma vez, a democracia seja condenada junto comigo. E não tenho dúvida que, também desta vez, todos nós seremos julgados pela História.”
A História já começou a fazer Justiça a Dilma. Ganhe ou não o Oscar, Democracia em Vertigem consagra diante do mundo a narrativa da esquerda brasileira sobre os eventos de 2016. Não foi por crime de responsabilidade, não foi por corrupção, não foi por incompetência. Dilma caiu porque foi vítima de um golpe.
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