Por Paulo Kliass, no site Outras Palavras:
Os grandes meios de comunicação praticamente não falam de outra coisa. Afinal, o quadro de risco grave na saúde pública mundial não pode ser desprezado de modo algum. Depois de o fenômeno do coronavírus ter ultrapassado os limites da cidade de Wuhan, na província chinesa de Hubei, o surgimento de novos casos se dá em ritmo geométrico e alcança praticamente todos os cantos do planeta.
Em nossas terras, a identificação de novos casos suspeitos também cresce em escala assustadora, mas boa parte deles ainda estão sendo descartados logo após a realização dos primeiros exames de laboratório. O fato concreto, porém, é que o surgimento dessa nova epidemia recoloca no centro do debate alguns dos elementos essenciais da política levada a cabo pelo governo Bolsonaro.
As propostas de destruição do Estado e de desmonte das políticas públicas de natureza social e inclusiva batem de frente com as necessidades apontadas por onze em cada dez especialistas ouvidos no tema. Quando se trata de resolver problemas de saúde não existe essa estória de buscar a solução nas “livres forças de mercado”. Não passa pela cabeça de ninguém sério e responsável a espera pela conjunção mágica de oferta e demanda que apresente as possibilidades de como se lidar com o risco da epidemia globalizada. Não há possibilidade da descoberta rápida da vacina e outros meios de evitar o contágio que se assente apenas na livre iniciativa do capital privado.
A culpa não é do covid 19!
Já o blábláblá para o provável fiasco que se desenha para 2020 começa a ser fundamentado no Covid-19. Basta olhar as páginas de economia dos jornalões para perceber a construção paulatina da narrativa: a estratégia é isentar Guedes de toda e qualquer responsabilidade por não ser atingido o crescimento do PIB que o governo tanto divulgou.
Para esse pessoal pouco importa o fato de a política econômica estar baseada em uma submissão completa e absoluta aos interesses do capital internacional. E aqui vale um breve parênteses. É preciso reconhecer que essa inexplicável conversão ao credo neocolonialista vem de antes, bem antes. Esse mérito não é todo de Guedes, não. Mas ele gostou do modelo e aprofundou essa tendência que vem nos transformando há muitos anos em país mero exportador de produtos primários e de baixo valor agregado. E, para completar o serviço, está dando total continuidade ao processo de desindustrialização da economia brasileira.
Ora, sob tais circunstâncias, o Brasil fica sem nenhuma margem de manobra para buscar alternativas de sobrevivência face a uma crise internacional. A dependência absoluta frente à China nos converte em reféns dos efeitos do coronavírus. Ao nos consolidarmos como exportadores das “commodities” para lá, aceitamos as regras do jogo e nos submetemos às variações de humor do gigante oriental. Ao nos conformarmos com a condição de dependência absoluta da vinda de capitais chineses para nossos projetos de infraestrutura, assumimos o risco de conviver com esse momento difícil.
Mais um pibinho em 2020
Mas mesmo assim, os problemas do baixíssimo crescimento de nosso PIB são outros. As instituições multilaterais já começam a refazer para baixo seus cálculos das perspectivas de crescimento da economia mundial. A OCED, por exemplo, imagina que a China não atingirá em 2020 os 5,7% previstos inicialmente. Deverá ficar “apenas” com 4,9%. Com isso, a economia mundial deverá recuar de 2,9% para 2,4%. Ora, parece evidente que esse desempenho não pode servir de explicação para o fracasso previamente anunciado pela própria equipe de Paulo Guedes.
Os representantes do financismo tupiniquim, consultados semanalmente pelo Banco Central, vêm também sendo obrigados sistematicamente a rever suas projeções de desempenho de nossa economia. Afinal, elas sempre estiveram carregadas de uma forte dose de torcida política e ideológica em prol de seu queridinho Ministro da Economia. Os mesmos que asseguravam um crescimento do PIB de 3% para esse ano, agora já se revelam mais “realistas” com projeções próximas de 2%. E esse súbito banho de realidade a que foram submetidos tais “especialistas” não tem nada a ver com a emergência inesperada do covid19. Trata-se apenas e tão somente da observação de que os resultados prometidos por Guedes não estão se apresentando como se esperava.
Os cronistas dos bastidores da Esplanada dão como provável a saída do superministro caso não sejam apresentados resultados minimamente aceitáveis para o desempenho da economia em ano eleitoral. Guedes teria prometido a Bolsonaro muito mais do que aquilo que está conseguindo efetivamente entregar. Resta saber se o cinturão protetor que os meios de comunicação estão construindo em torno de seu preferido será capaz de convencer o presidente a adiar mais uma vez sua exoneração.
Os grandes meios de comunicação praticamente não falam de outra coisa. Afinal, o quadro de risco grave na saúde pública mundial não pode ser desprezado de modo algum. Depois de o fenômeno do coronavírus ter ultrapassado os limites da cidade de Wuhan, na província chinesa de Hubei, o surgimento de novos casos se dá em ritmo geométrico e alcança praticamente todos os cantos do planeta.
Em nossas terras, a identificação de novos casos suspeitos também cresce em escala assustadora, mas boa parte deles ainda estão sendo descartados logo após a realização dos primeiros exames de laboratório. O fato concreto, porém, é que o surgimento dessa nova epidemia recoloca no centro do debate alguns dos elementos essenciais da política levada a cabo pelo governo Bolsonaro.
As propostas de destruição do Estado e de desmonte das políticas públicas de natureza social e inclusiva batem de frente com as necessidades apontadas por onze em cada dez especialistas ouvidos no tema. Quando se trata de resolver problemas de saúde não existe essa estória de buscar a solução nas “livres forças de mercado”. Não passa pela cabeça de ninguém sério e responsável a espera pela conjunção mágica de oferta e demanda que apresente as possibilidades de como se lidar com o risco da epidemia globalizada. Não há possibilidade da descoberta rápida da vacina e outros meios de evitar o contágio que se assente apenas na livre iniciativa do capital privado.
Setor privado e saúde pública?
Para desgosto dos nossos liberalóides de botequim, aqui eventos como esse do Covid-19 se solucionam graças à competência e ao conhecimento acumulados há décadas pelo nosso sistema público de saúde. No Brasil, esse tipo de epidemia se combate com aplicação de altas doses de SUS na veia. E ponto final. O único agente capaz de resolver mais essa crise e impedir a propagação descontrolada de mais essa doença é o Estado. Essa lengalenga da suposta superioridade da eficiência do setor privado só vale na hora calcular os polpudos lucros obtidos por meio da mercantilização da saúde. Já quando se trata de processos de alta complexidade ou de saúde pública, aí é melhor mesmo chamar as instituições estatais para resolver os problemas.
Sequenciamento genético do vírus, pesquisa e descoberta de vacinas, pulverização da rede de atenção primária de saúde, aplicação de medidas preventivas e tantas outras formas de manifestação das políticas de saúde pública estão sofrendo na carne as consequências desastrosas da política criminosa da austeridade fiscal orquestrada por Paulo Guedes. O superministro parece entrar em êxtase a cada vez que anuncia mais alguns bilhões de cortes no orçamento das rubricas de programas sociais do governo. Depois de reservar o quinhão ilimitado para o cumprimento das despesas financeiras com o pagamento de juros da dívida pública, o passo seguinte é cortar, cortar e cortar. E lá se vão transformados em pó os recursos para saúde, educação, ciência e tecnologia, entre tantos outros.
E agora o mote dos admiradores incondicionais do financismo é criar o bode expiatório do momento. O coronavírus é a excelente oportunidade para oferecer mais uma desculpa para incompetência da equipe econômica. Afinal, o Paulo Guedes é um cara supereficiente e profissional. Mas infelizmente ele não está conseguindo cumprir com promessas que ele espalhou aos quatro cantos por motivos alheios à sua vontade. Em 2019, foi por conta das trapalhadas do núcleo mais ideológico de Bolsonaro e também por culpa do Congresso Nacional. Boicotaram o avanço da agenda de Guedes no legislativo. E daí o crescimento do PIB foi pra lá de pífio. O discurso dos arautos do financismo é tão convincente, que a gente até fica com pena do Guedes, coitadinho…
Para desgosto dos nossos liberalóides de botequim, aqui eventos como esse do Covid-19 se solucionam graças à competência e ao conhecimento acumulados há décadas pelo nosso sistema público de saúde. No Brasil, esse tipo de epidemia se combate com aplicação de altas doses de SUS na veia. E ponto final. O único agente capaz de resolver mais essa crise e impedir a propagação descontrolada de mais essa doença é o Estado. Essa lengalenga da suposta superioridade da eficiência do setor privado só vale na hora calcular os polpudos lucros obtidos por meio da mercantilização da saúde. Já quando se trata de processos de alta complexidade ou de saúde pública, aí é melhor mesmo chamar as instituições estatais para resolver os problemas.
Sequenciamento genético do vírus, pesquisa e descoberta de vacinas, pulverização da rede de atenção primária de saúde, aplicação de medidas preventivas e tantas outras formas de manifestação das políticas de saúde pública estão sofrendo na carne as consequências desastrosas da política criminosa da austeridade fiscal orquestrada por Paulo Guedes. O superministro parece entrar em êxtase a cada vez que anuncia mais alguns bilhões de cortes no orçamento das rubricas de programas sociais do governo. Depois de reservar o quinhão ilimitado para o cumprimento das despesas financeiras com o pagamento de juros da dívida pública, o passo seguinte é cortar, cortar e cortar. E lá se vão transformados em pó os recursos para saúde, educação, ciência e tecnologia, entre tantos outros.
E agora o mote dos admiradores incondicionais do financismo é criar o bode expiatório do momento. O coronavírus é a excelente oportunidade para oferecer mais uma desculpa para incompetência da equipe econômica. Afinal, o Paulo Guedes é um cara supereficiente e profissional. Mas infelizmente ele não está conseguindo cumprir com promessas que ele espalhou aos quatro cantos por motivos alheios à sua vontade. Em 2019, foi por conta das trapalhadas do núcleo mais ideológico de Bolsonaro e também por culpa do Congresso Nacional. Boicotaram o avanço da agenda de Guedes no legislativo. E daí o crescimento do PIB foi pra lá de pífio. O discurso dos arautos do financismo é tão convincente, que a gente até fica com pena do Guedes, coitadinho…
A culpa não é do covid 19!
Já o blábláblá para o provável fiasco que se desenha para 2020 começa a ser fundamentado no Covid-19. Basta olhar as páginas de economia dos jornalões para perceber a construção paulatina da narrativa: a estratégia é isentar Guedes de toda e qualquer responsabilidade por não ser atingido o crescimento do PIB que o governo tanto divulgou.
Para esse pessoal pouco importa o fato de a política econômica estar baseada em uma submissão completa e absoluta aos interesses do capital internacional. E aqui vale um breve parênteses. É preciso reconhecer que essa inexplicável conversão ao credo neocolonialista vem de antes, bem antes. Esse mérito não é todo de Guedes, não. Mas ele gostou do modelo e aprofundou essa tendência que vem nos transformando há muitos anos em país mero exportador de produtos primários e de baixo valor agregado. E, para completar o serviço, está dando total continuidade ao processo de desindustrialização da economia brasileira.
Ora, sob tais circunstâncias, o Brasil fica sem nenhuma margem de manobra para buscar alternativas de sobrevivência face a uma crise internacional. A dependência absoluta frente à China nos converte em reféns dos efeitos do coronavírus. Ao nos consolidarmos como exportadores das “commodities” para lá, aceitamos as regras do jogo e nos submetemos às variações de humor do gigante oriental. Ao nos conformarmos com a condição de dependência absoluta da vinda de capitais chineses para nossos projetos de infraestrutura, assumimos o risco de conviver com esse momento difícil.
Mais um pibinho em 2020
Mas mesmo assim, os problemas do baixíssimo crescimento de nosso PIB são outros. As instituições multilaterais já começam a refazer para baixo seus cálculos das perspectivas de crescimento da economia mundial. A OCED, por exemplo, imagina que a China não atingirá em 2020 os 5,7% previstos inicialmente. Deverá ficar “apenas” com 4,9%. Com isso, a economia mundial deverá recuar de 2,9% para 2,4%. Ora, parece evidente que esse desempenho não pode servir de explicação para o fracasso previamente anunciado pela própria equipe de Paulo Guedes.
Os representantes do financismo tupiniquim, consultados semanalmente pelo Banco Central, vêm também sendo obrigados sistematicamente a rever suas projeções de desempenho de nossa economia. Afinal, elas sempre estiveram carregadas de uma forte dose de torcida política e ideológica em prol de seu queridinho Ministro da Economia. Os mesmos que asseguravam um crescimento do PIB de 3% para esse ano, agora já se revelam mais “realistas” com projeções próximas de 2%. E esse súbito banho de realidade a que foram submetidos tais “especialistas” não tem nada a ver com a emergência inesperada do covid19. Trata-se apenas e tão somente da observação de que os resultados prometidos por Guedes não estão se apresentando como se esperava.
Os cronistas dos bastidores da Esplanada dão como provável a saída do superministro caso não sejam apresentados resultados minimamente aceitáveis para o desempenho da economia em ano eleitoral. Guedes teria prometido a Bolsonaro muito mais do que aquilo que está conseguindo efetivamente entregar. Resta saber se o cinturão protetor que os meios de comunicação estão construindo em torno de seu preferido será capaz de convencer o presidente a adiar mais uma vez sua exoneração.
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