domingo, 25 de outubro de 2020

Apelo de Boff a Maia é como pregar no deserto

Por Jeferson Miola, em seu blog:


O teólogo Leonardo Boff é uma das grandes riquezas espirituais, políticas e humanas do nosso país em todos os tempos.

Em toda vida de mais 80 anos, Boff preserva uma trajetória coerente e incorruptível; permaneceu sempre do mesmo lado da história: o lado da justiça e da igualdade social, da democracia e da liberdade, do antirracismo, do amor, da defesa da vida e da natureza, da soberania nacional, da decência e da dignidade na política.

Quando o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia/DEM acusou via twitter [24/10] o criminoso e anti-ministro bolsonarista do meio ambiente Ricardo Salles do crime de “destruir o meio ambiente do Brasil”, Boff cobrou de Maia o que a lógica e a lei determinam: o impeachment do presidente que dá as ordens ao destruidor do meio ambiente.

Por meio do twitter, Boff alertou Maia: “Sr. Presidente, o que o Sr. diz é muito grave. Diz-se que o ministro Salles só faz o que presidente manda. Por isso, em sua pulsão de morte, destrói o que pode: desmatamentos, direitos sociais e entrega o povo ao vírus. O Sr. tem uma arma: o impeachment. Por amor à vida do BR”, apelou o teólogo.

Na ilusão de que Maia possa ter alguma lealdade à Constituição e ao Estado de Direito, Boff ainda suplicou: “Vc não pode entrar na história como um homem fraco, que quando podia ter defendido a vida do povo, não o fez por razões que desconheço. Vivemos uma emergência nacional. Em suas mãos está uma decisão que salvará vidas no BR. É difícil. Mas nada tem mais valor que a vida”, escreveu ele ao presidente da Câmara [grafia do twitter no original].

Dois dias antes [22/10], e também por twitter, Lula defendeu o impeachment do Bolsonaro devido à decisão genocida de suspender a compra de vacinas para imunizar a população brasileira.

“Se a sociedade, os partidos e os parlamentares, precisavam de um motivo para discutir o impeachment, Bolsonaro acaba de cometer um crime contra a nação ao dizer que não vai comprar a vacina e desrespeitar um instituto da seriedade do Butantan e toda a comunidade científica”, disse Lula.

O que menos falta, e desde muito tempo, são motivos – todos, aliás, muito bem fundamentados – para Bolsonaro ser defenestrado do Planalto pelo cometimento tanto de crimes de responsabilidade como de crimes comuns.

Mas, para que o julgamento seja autorizado, Rodrigo Maia precisa submeter ao Plenário a deliberação sobre os pedidos de abertura de processo de impeachment na Câmara e para o julgamento do miliciano por crime comum no STF.

Ocorre, contudo, que Rodrigo Maia abusa ilegalmente do poder monocrático do cargo e mantém engavetados mais de 60 pedidos de impeachment do Bolsonaro.

E não há sinais de que ele pretenda agir de modo diferente, porque Maia é o condutor, no Congresso, das políticas ultraliberais de Guedes e Bolsonaro que têm oportunizado o mais devastador processo de pilhagem e saqueio do país. Maia e o Congresso de maioria bolsonarista são, em síntese, sócios e cúmplices da extrema-direita fascista.

A oligarquia dominante, seus representantes e suas instituições judiciais e legislativas não têm nenhum compromisso ético com a interrupção da barbárie que avança exterminando empregos, vidas humanas e o futuro do país.

O apelo de Leonardo Boff a Rodrigo Maia pelo impeachment do Bolsonaro, em vista disso, do mesmo modo que a cobrança do Lula pelo impedimento do monstro criminoso, é como fazer pregação no deserto.

A derrota do Bolsonaro, dos militares e da oligarquia vassala dos EUA somente acontecerá quando a maioria unida do povo brasileiro modificar a correlação de forças políticas na sociedade – tal como mostrou o povo argentino elegendo Alberto Fernández e Cristina Kirchner em 2019; como ensinou o povo boliviano domingo passado [18/10] na vitória arrasadora de Luis Arce, do MAS; e como mostrará o povo chileno neste domingo [25/10], que deverá aprovar o plebiscito que vai enterrar a Constituição fascista de Pinochet, o sanguinário inspirador de Guedes e Bolsonaro.

A ampliação do peso político e a recomposição da capacidade política e social da esquerda, dos democratas e progressistas na eleição municipal deste ano é um passo importante nesta direção.

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