Charge: Toni |
Não haverá uma força-tarefa do Ministério Público e de uma vara especial do Judiciário para pegar os criminosos fascistas desamparados por uma derrota na eleição deste ano. A extrema direita sabe que não sofrerá nunca os riscos de algo similar a uma Lava-Jato.
A extrema direita não será caçada por uma dupla parecida com Deltan Dallagnol-Sergio Moro, porque o lavajatismo foi uma armação única para pegar Lula, derrubar Dilma e tentar desmoralizar as esquerdas.
Mas há problemas sérios à espera de todos os que estiveram perto de Bolsonaro, cometendo ou não delitos e desatinos graves. Um dos problemas é que não haverá mandato e foro especial para todos.
Faltará imunidade para muita gente. Começando por Bolsonaro e Sergio Moro, que podem ficar sem proteção alguma se forem até o fim com o blefe de que disputarão a eleição.
Se não tiverem imunidades, estarão entregues ao imponderável. Mesmo que Lula vença e o país seja convidado a participar de um esforço pela conciliação, muitos fascistas poderão virar zumbis desorientados.
Sem mandatos, estarão fragilizados na matilha e entregues à própria sorte ou ao próprio azar. Os fracos não são poupados quando as leis da selva e das cidades se voltam contra antigos perseguidores.
Mas a extrema direita sempre espera desfrutar da posição hegemônica dos conciliadores. Bandidos foram perdoados nos Estados Unidos pós-secessão, na Alemanha pós-nazismo, na África do Sul pós-apartheid e no Brasil pós-ditadura.
Há entre facínoras políticos e seus subalternos a esperança de que, passado seu período no poder, a etapa seguinte possa ser a da rendição. Não a rendição deles aos vitoriosos, mas dos vitoriosos à ideia de que a paz é a melhor reparação.
Na paz brasileira, ditadores e torturadores de mais de duas décadas de atrocidades foram poupados até hoje. Crimes de lesa humanidade, levados em conta em outros países vizinhos que passaram por ditaduras, aqui são assunto jogado num canto.
O bolsonarismo mais racional faz uma aposta numa solução que lhe favoreça. O curto período de exceção sob o comando do tenente será sucedido, se houver derrota, por um ambiente de consensos. E entre conversas e abraços, eles poderão se livrar de acertos de contas.
Bolsonaro tem dezenas de inquéritos e processos, entre os quais um por incentivo ao estupro. Sergio Moro vai ter de se entender com as investigações sobre a promiscuidade de interesses com a consultoria que o contratou.
Os investigados pela CPI do Genocídio, incluídos na lista de 81 nomes sujeitos a indiciamentos, entre os quais generais e coronéis, estarão sem a proteção de Bolsonaro.
É bem provável que a maioria dos 52 eleitos deputados federais pelo PSL, como prova do espraiamento do fenômeno bolsonarista em 2018, não volte para a Câmara. Quantos ficarão ao relento?
Os filhos de Bolsonaro, se o pai perder poder e for esquecido pela elite como traste que não deu certo, terão mandatos, mas serão filhos sem proteção. O voto talvez não seja suficiente para garantir imunidade.
Lula já disse não desejar que aconteça com os seus adversários o que fizeram com ele. Mas Lula deve mesmo dizer o que disse, por mais óbvio que seja, porque seria contra a sua índole e também seria burrice afirmar o contrário.
Anunciar a perseguição de inimigos, como Bolsonaro avisou que faria antes mesmo de ser eleito em 2018, é idiotia política, por mais que a ameaça funcione como doping para seguidores mais radicais.
A interrogação engatilhada agora, que só terá resposta muito depois da eleição, é a que põe as expectativas dos ameaçados, perseguidos e prejudicados por Bolsonaro e milicianos diante de servidores destemidos do Ministério Público e da Justiça.
O que acontecerá com criminosos que apostaram na impunidade, se o desejo do país pós-2022 for o da reparação, e não o da acomodação? O bolsonarismo poderá desfrutar de acordos semelhantes aos que até hoje protegem torturadores?
São perguntas que incomodam, mas que terão de ser respondidas com atitudes, para que não se repita o erro cometido com os criminosos da ditadura.
A extrema direita não será caçada por uma dupla parecida com Deltan Dallagnol-Sergio Moro, porque o lavajatismo foi uma armação única para pegar Lula, derrubar Dilma e tentar desmoralizar as esquerdas.
Mas há problemas sérios à espera de todos os que estiveram perto de Bolsonaro, cometendo ou não delitos e desatinos graves. Um dos problemas é que não haverá mandato e foro especial para todos.
Faltará imunidade para muita gente. Começando por Bolsonaro e Sergio Moro, que podem ficar sem proteção alguma se forem até o fim com o blefe de que disputarão a eleição.
Se não tiverem imunidades, estarão entregues ao imponderável. Mesmo que Lula vença e o país seja convidado a participar de um esforço pela conciliação, muitos fascistas poderão virar zumbis desorientados.
Sem mandatos, estarão fragilizados na matilha e entregues à própria sorte ou ao próprio azar. Os fracos não são poupados quando as leis da selva e das cidades se voltam contra antigos perseguidores.
Mas a extrema direita sempre espera desfrutar da posição hegemônica dos conciliadores. Bandidos foram perdoados nos Estados Unidos pós-secessão, na Alemanha pós-nazismo, na África do Sul pós-apartheid e no Brasil pós-ditadura.
Há entre facínoras políticos e seus subalternos a esperança de que, passado seu período no poder, a etapa seguinte possa ser a da rendição. Não a rendição deles aos vitoriosos, mas dos vitoriosos à ideia de que a paz é a melhor reparação.
Na paz brasileira, ditadores e torturadores de mais de duas décadas de atrocidades foram poupados até hoje. Crimes de lesa humanidade, levados em conta em outros países vizinhos que passaram por ditaduras, aqui são assunto jogado num canto.
O bolsonarismo mais racional faz uma aposta numa solução que lhe favoreça. O curto período de exceção sob o comando do tenente será sucedido, se houver derrota, por um ambiente de consensos. E entre conversas e abraços, eles poderão se livrar de acertos de contas.
Bolsonaro tem dezenas de inquéritos e processos, entre os quais um por incentivo ao estupro. Sergio Moro vai ter de se entender com as investigações sobre a promiscuidade de interesses com a consultoria que o contratou.
Os investigados pela CPI do Genocídio, incluídos na lista de 81 nomes sujeitos a indiciamentos, entre os quais generais e coronéis, estarão sem a proteção de Bolsonaro.
É bem provável que a maioria dos 52 eleitos deputados federais pelo PSL, como prova do espraiamento do fenômeno bolsonarista em 2018, não volte para a Câmara. Quantos ficarão ao relento?
Os filhos de Bolsonaro, se o pai perder poder e for esquecido pela elite como traste que não deu certo, terão mandatos, mas serão filhos sem proteção. O voto talvez não seja suficiente para garantir imunidade.
Lula já disse não desejar que aconteça com os seus adversários o que fizeram com ele. Mas Lula deve mesmo dizer o que disse, por mais óbvio que seja, porque seria contra a sua índole e também seria burrice afirmar o contrário.
Anunciar a perseguição de inimigos, como Bolsonaro avisou que faria antes mesmo de ser eleito em 2018, é idiotia política, por mais que a ameaça funcione como doping para seguidores mais radicais.
A interrogação engatilhada agora, que só terá resposta muito depois da eleição, é a que põe as expectativas dos ameaçados, perseguidos e prejudicados por Bolsonaro e milicianos diante de servidores destemidos do Ministério Público e da Justiça.
O que acontecerá com criminosos que apostaram na impunidade, se o desejo do país pós-2022 for o da reparação, e não o da acomodação? O bolsonarismo poderá desfrutar de acordos semelhantes aos que até hoje protegem torturadores?
São perguntas que incomodam, mas que terão de ser respondidas com atitudes, para que não se repita o erro cometido com os criminosos da ditadura.
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