Charge: Sergei Anashkin |
Uma antiga e amarga tirada diz que o universo pode ser finito mas a estupidez humana não. Talvez também se possa comparar o universo – igualmente de modo desfavorável para o cosmos – com o tamanho da disposição dos miquinhos amestrados da mídia empresarial de bailar ao som da melodia emanada de Washington. Qualquer dissonância merece o patíbulo. Lula é a vítima mais recente.
Seu crime foi proclamar o óbvio sobre a invasão da Ucrânia. Condenou Putin mas apontou a responsabilidade do Zelensky, marionete de Joe Biden, Anthony Blinken e da Otan, que o enfiaram numa tacanha e demencial guerra por procuração. Aquela em que os Estados Unidos lutarão “até o último ucraniano”...
A blindagem mental da maioria dos colunistas e editorialistas nunca deixa de espantar. Tampouco a convicção dos dotes mefistofélicos do líder russo e das tenebrosas conspirações contra a humanidade em curso em Moscou.
É o antiquado roteiro do filme-padrão de Hollywood: os definitivamente bons contra os irremediavelmente maus. A matriz tem sempre razão. Teve razão ao invadir o Iraque – à cata de ficcionais armas de destruição maciça – e o Afeganistão, além de meter-se em guerras na Síria, Líbia, Bósnia, Kosovo, Sérvia, Croácia para ficarmos apenas neste século.
A vassalagem a tudo que flui do Norte hegemônico evoca o personagem Gunga Din, mesmo nome de uma produção de 1939. Na Índia colonial, Gunga Din é um carregador de água cujo maior sonho da vida é ser soldado da rainha da Inglaterra. Agir, pensar e ser igual ao opressor.
Integrado a um destacamento britânico, é enviado para uma região remota. Humilhado pelos ingleses que combatem rebeldes locais pintados como demônios, Gunga Din, no desfecho da trama, embora ferido, arrasta-se e faz soar uma corneta alertando e salvando as forças do império que se aproximam, ajudando-as a derrotar o inimigo.
É o que poderíamos chamar de Síndrome de Gunga Din. Nossas panzer divisions midiáticas também gostam de tocar suas cornetas para salvar o Ocidente dos bárbaros.
Nossos Gunga Dins têm alergia a relações diplomáticas sem subserviência, ao exercício da soberania nacional e ao pensamento independente. Sentem-se honrados com a prática da submissão. Por isso, Lula incomodou.
Sentem-se enaltecidos com a entrega da Base de Alcântara e as privatizações selvagens. Festejam a venda de portos e aeroportos. Brindam a demolição do parque industrial. Anseiam pela venda da Petrobras.
Um dos grandes momentos performáticos da sabujice nacional, para sermos justos, não coube aos jornalistas. Aconteceu em 1946 e seu protagonista foi um senador da república, o baiano Otávio Mangabeira, da UDN, partido que acolhia então a fina flor da direita golpista.
Mangabeira espantou os presentes na recepção ao general Dwight Eisenhower, que comandara as tropas norte-americanas na II Guerra. Em vez de cumprimentá-lo, ajoelhou-se e beijou-lhe a mão estendida. Foi seu momento Gunga Din.
Acho que Mangabeira reúne todas as condições para, ainda que de modo póstumo, seja declarado patrono da mídia empresarial e de seus cronistas. Ou Gunga Din se seus corações voltados para a metrópole baterem mais forte ao ouvirem seu nome.
1 comentários:
Caro, as informações globais requintam (de requentar mesmo) dados e fatos surreais (ornitorrinco) . É só buscar o dado em qualquer site básico de busca, qual é o domínio da comunicaçãode massa estadunidense: dizem que é acima de 80 % .
Conclusão: qualquer mídia tradicional global que se diz livre (iiiiii...) vai só replicar essa dita liberdade... iiiii
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