A vitória eleitoral do agora novamente presidente Luiz Inácio Lula da Silva revigorou o debate sobre políticas de comunicação, nos aspectos de conteúdo e negócios e abriu, para a chamada mídia alternativa, a expectativa de receber outro tratamento. Por outro lado, persiste o receio de que, pelo menos neste momento, o novo governo evite mexer substancialmente no estado atual do setor, em um tempo considerado espinhoso. Ainda mais com tantos partidos envolvidos na formação da máquina oficial.
“Mídia alternativa e a comunicação no governo Lula” foi o tema do primeiro debate de 2023 promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, ontem (11). Participaram Luis Nassif, diretor do Jornal GGN, e a ex-presidenta da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Tereza Cruvinel. Os jornalistas Felipe Bianchi e Anderson Moraes (coordenador do Jornal Empoderado), do Barão, conduziram a conversa.
Regulação e big techs
É preciso pensar, acrescenta Tereza, em questões como regulação econômica e a chamada propriedade cruzada – quem tem jornal ou revista, por exemplo, pode ter concessão pública de radiodifusão? E também regulação das ditas big techs, as grandes plataformas tecnológicas, que abrangem Facebook, Google, WhatsApp e Youtube, entre outras empresas.
O grupo de trabalho sugeriu algumas “linhas de reconstrução”, diz ainda a jornalista, no sentido de a Secom se modernizar e se preparar para tempos difíceis. “Fica faltando um propósito mais ambicioso de regulação da radiodifusão, ainda que a secretaria de serviços digitais avance na questão da internet”, afirma Tereza. “Fica faltando quando é que o governo vai enfrentar a questão, como desconcentrar esse poder, “(cumprir) a exigência constitucional que políticos não sejam concessionários de rádio e televisão, como evitar a propriedade cruzada. (…) Não estou vendo, realmente, espaço para essa outra batalha”, completou.
Bolo publicitário
Ela avalia que a “maré golpista” vai prosseguir, o que exige atenção do governo. “Lula precisa conversar com o povo”, afirma, defendendo uma “comunicação digital forte” e valorização da mídia independente.
“Se as mídias independentes não passarem agora a serem tratadas com o devido equilíbrio no bolo publicitário do governo, vamos voltar ao de sempre. Ele (governo) vai continuar financiando os grandes?”, questiona Tereza. “Com o digital quase universalizado no Brasil, existe uma grade oportunidade de a TV pública renascer. Agora, tem que fazer investimento, tem que implantar canal pra todo lado.”
“Mídia alternativa e a comunicação no governo Lula” foi o tema do primeiro debate de 2023 promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, ontem (11). Participaram Luis Nassif, diretor do Jornal GGN, e a ex-presidenta da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Tereza Cruvinel. Os jornalistas Felipe Bianchi e Anderson Moraes (coordenador do Jornal Empoderado), do Barão, conduziram a conversa.
Diversidade de vozes
“A gente pensava que a internet seria uma forma de construção de conhecimento. À medida que foi aumentando a oferta de informações, acabamos entrando num vício, que é dos jornalões também, que é o medo de desagradar o leitor”, avalia Nassif. “Cada grupo fala para sua bolha, você tem uma disputa por likes. Em muitos casos, o que você tem é guerra de narrativa. A grande vantagem da internet é a gente ter no mesmo ambiente vozes das mais diversas. Mas tudo isso fica muito diluído nesse oceano de informações. Então, restringe muito o poder da informação.”
Para Tereza, embora o tema esteja “super” na ordem do dia, as mudanças são de difícil implementação até pela característica de formação do novo governo. A “frente ampla” levou à nomeação de um deputado do União Brasil (o paraibano Juscelino Filho) para o Ministério das Comunicações. Na Secretaria de Comunicação Social (Secom), ficou o também deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
“A gente pensava que a internet seria uma forma de construção de conhecimento. À medida que foi aumentando a oferta de informações, acabamos entrando num vício, que é dos jornalões também, que é o medo de desagradar o leitor”, avalia Nassif. “Cada grupo fala para sua bolha, você tem uma disputa por likes. Em muitos casos, o que você tem é guerra de narrativa. A grande vantagem da internet é a gente ter no mesmo ambiente vozes das mais diversas. Mas tudo isso fica muito diluído nesse oceano de informações. Então, restringe muito o poder da informação.”
Para Tereza, embora o tema esteja “super” na ordem do dia, as mudanças são de difícil implementação até pela característica de formação do novo governo. A “frente ampla” levou à nomeação de um deputado do União Brasil (o paraibano Juscelino Filho) para o Ministério das Comunicações. Na Secretaria de Comunicação Social (Secom), ficou o também deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
Público virou privado
Para Nassif, até agora Lula, em meio a tantos “vespeiros” políticos, indica que não quer pôr a mão no vespeiro da comunicação. “Precisa de regulação, que passa por muitos aspectos. Você tem um sistema de concessões (públicas) que virou propriedade privada. Luta contra fake news (anunciada por Pimenta) não é regulação. Isso é guerrilha. Regulação significa ‘rachar’.” Ou seja, causar divisões e divergências em um momento político que requer unidade.
Tereza lembra ter participado das discussões do grupo de trabalho da transição. Dali teria saído a ideia de um Ministério das Comunicações “mais cidadão”, mas como a pasta acabou com um partido a princípio de oposição se achou melhor “mitigar” suas funções. Mesmo assim, ainda foi criada uma Secretaria de Políticas Digitais (na Secom), que ficou com João Brant, cientista político e identificado com a comunicação democrática, o que pode levar à valorização da chamada mídia alternativa.
Para Nassif, até agora Lula, em meio a tantos “vespeiros” políticos, indica que não quer pôr a mão no vespeiro da comunicação. “Precisa de regulação, que passa por muitos aspectos. Você tem um sistema de concessões (públicas) que virou propriedade privada. Luta contra fake news (anunciada por Pimenta) não é regulação. Isso é guerrilha. Regulação significa ‘rachar’.” Ou seja, causar divisões e divergências em um momento político que requer unidade.
Tereza lembra ter participado das discussões do grupo de trabalho da transição. Dali teria saído a ideia de um Ministério das Comunicações “mais cidadão”, mas como a pasta acabou com um partido a princípio de oposição se achou melhor “mitigar” suas funções. Mesmo assim, ainda foi criada uma Secretaria de Políticas Digitais (na Secom), que ficou com João Brant, cientista político e identificado com a comunicação democrática, o que pode levar à valorização da chamada mídia alternativa.
Regulação e big techs
É preciso pensar, acrescenta Tereza, em questões como regulação econômica e a chamada propriedade cruzada – quem tem jornal ou revista, por exemplo, pode ter concessão pública de radiodifusão? E também regulação das ditas big techs, as grandes plataformas tecnológicas, que abrangem Facebook, Google, WhatsApp e Youtube, entre outras empresas.
O grupo de trabalho sugeriu algumas “linhas de reconstrução”, diz ainda a jornalista, no sentido de a Secom se modernizar e se preparar para tempos difíceis. “Fica faltando um propósito mais ambicioso de regulação da radiodifusão, ainda que a secretaria de serviços digitais avance na questão da internet”, afirma Tereza. “Fica faltando quando é que o governo vai enfrentar a questão, como desconcentrar esse poder, “(cumprir) a exigência constitucional que políticos não sejam concessionários de rádio e televisão, como evitar a propriedade cruzada. (…) Não estou vendo, realmente, espaço para essa outra batalha”, completou.
Briga de torcida
Além da posição “pró-mercado”, a mídia tradicional usa o monopólio como fator de pressão. “É o fiscalismo mais emburrecedor”, define, citando ainda a apropriação dos veículos por grupos financeiros. Nos primeiros tempos de blogosfera, afirma, ainda havia contraponto. "Mas com o tempo e a polarização, virou briga de torcida".
Fazer com que a população entenda a importância desse debate é um desafio, “um nó”, avalia Tereza. “Se as pessoas se informam principalmente pelos veículos comerciais , se estão vendo TV aberta ou lendo jornalões, esse debate não existe. A própria esquerda partidária nunca deu muito espaço. (…) Passaram a ser interessar depois da destruição (da EBC). Esse assunto fica restrito nas nossas bolhas, no mundo acadêmico, a uma militância de movimentos interessados. Essa é uma luta inglória, enquanto a esquerda não abraçar essa questão”.
Além da posição “pró-mercado”, a mídia tradicional usa o monopólio como fator de pressão. “É o fiscalismo mais emburrecedor”, define, citando ainda a apropriação dos veículos por grupos financeiros. Nos primeiros tempos de blogosfera, afirma, ainda havia contraponto. "Mas com o tempo e a polarização, virou briga de torcida".
Fazer com que a população entenda a importância desse debate é um desafio, “um nó”, avalia Tereza. “Se as pessoas se informam principalmente pelos veículos comerciais , se estão vendo TV aberta ou lendo jornalões, esse debate não existe. A própria esquerda partidária nunca deu muito espaço. (…) Passaram a ser interessar depois da destruição (da EBC). Esse assunto fica restrito nas nossas bolhas, no mundo acadêmico, a uma militância de movimentos interessados. Essa é uma luta inglória, enquanto a esquerda não abraçar essa questão”.
Bolo publicitário
Ela avalia que a “maré golpista” vai prosseguir, o que exige atenção do governo. “Lula precisa conversar com o povo”, afirma, defendendo uma “comunicação digital forte” e valorização da mídia independente.
“Se as mídias independentes não passarem agora a serem tratadas com o devido equilíbrio no bolo publicitário do governo, vamos voltar ao de sempre. Ele (governo) vai continuar financiando os grandes?”, questiona Tereza. “Com o digital quase universalizado no Brasil, existe uma grade oportunidade de a TV pública renascer. Agora, tem que fazer investimento, tem que implantar canal pra todo lado.”
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